Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Roberta Batista e a atuação das Guerreiras Grenás na vitória sobre o Cerro Porteño
Estava bem claro para este que escreve desde o início da partida desta sexta-feira (12), em Assunção, que o grande adversário da Ferroviária era o nervosismo. A equipe comandada por Roberta Batista havia passado para as quartas de final na primeira posição do Grupo A da Libertadores Feminina sem muitos problemas e apresentando apenas algumas oscilações normais para uma competição de “tiro curto”. Só que a passagem para as quartas de final trazia consigo a certeza de que todo erro (por menor que fosse) não seria perdoado. Isso explica muita coisa sobre o início hesitante e de baixa efetividade das Guerreiras Grenás diante de um apenas esforçado Cerro Porteño. A vitória veio através dos pés de Sochor (a melhor em campo pelos dois gols e pela movimentação constante no campo ofensivo), Larhy, Luana, Raquel e Carol Tavares. A Ferroviária avança para as semifinais da Libertadores Feminina com méritos e por ter colocado a bola no chão quando foi preciso. Parece pouco. Mas não é.
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Pelo 3° ano consecutivo, chegamos na semifinal da @LibertadoresFEM!Com humildade e respeito, vamos em busca da nossa 3ª taça!
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— Guerreiras Grenás (@guerreirasgrena) November 12, 2021
É interessante notar que muita gente se surpreendeu quando Roberta Batista divulgou a escalação das Guerreiras Grenás. Ludmila, que foi titular nas partidas contra o Sol de América e o Deportivo Cuenca, começou a partida contra o Cerro Porteño no banco de reservas. No seu lugar, a treinadora da Ferroviária manteve Larhy na equipe e apostou num 4-3-3/3-4-1-2 que posicionava Sochor como uma espécie de “enganche”, uma camisa 10 de fato e de direito. Com a posse da bola, Luana recuava para junto das zagueiras Ana Alice e Gessica para fazer a “saída de três” e liberar as ofensivas Carol Tavares e Barrinha para aparecer mais na frente e abrir a defesa do Cerro Porteño. Sem a bola, as Guerreiras Grenás fechavam bem o espaço no meio-campo (variando de um 4-3-3 para um 4-3-1-2) e bloqueavam as saídas de Lourdes González e Verónica Kurtz pelos lados do campo e impedir que a bola chegasse em Jessica Sánchez no 4-2-3-1 montado pelo técnico Tito Almada no Cerro Porteño.
Apesar da clara superioridade técnica das Guerreiras Grenás, o nervosismo falava bem alto no Estádio Arsenio Erico e as comandadas de Roberta Batista demoraram muito para encaixar seu jogo e impor seu estilo. Estava claro que faltava fazer o simples: colocar a bola no chão, se movimentar mais no terço final e aproveitar a marcação mais frouxa do Cerro Porteño na frente da sua área. O frame acima já mostrava que a equipe de Tito Almada só conseguia sair do seu campo na base dos lançamentos longos e que Ana Lucía Fleitas estava completamente sobrecarregada na criação das jogadas. O alívio da Ferroviária só veio no final da primeira etapa, quando Rafa Mineira achou Raquel na intermediária. A camisa 11 viu Carol Tavares fazendo a jogada de ultrapassagem e fez o passe em profundidade para a lateral colocar a bola na cabeça de Sochor, que atacava o espaço aberto pelo ataque afeano. O primeiro gol da partida saiu de uma jogada bem trabalhada e planejada por Roberta Batista.
Com os nervos controlados e o gol sofrido num dos últimos lances do primeiro tempo, não restava outra saída para o Cerro Porteño senão sair para o ataque. E o grande mérito da equipe comandada por Roberta Batista foi manter a postura ofensiva e aproveitar os espaços que apareceriam no campo ofensivo. E assim a Ferroviária o fez. Aproveitando a afobação das suas adversárias, Raquel roubou a bola na intermediária, avançou e chutou cruzado. A bola bateu na trave esquerda de Gloria Saleb e voltou nos pés de Laryh, que só teve o trabalho e mandar para as redes. Essa pressão pós-perda das Guerreiras Grenás funcionaria mais uma vez aos 22 minutos da segunda etapa, quando Carol Tavares travou contra-ataque do Cerro Porteño e viu que quatro companheiras de equipe estavam na área adversária livres de marcação. O cruzamento encontrou Sochor que nem precisou se mexer para marcar o terceiro gol da Ferroviária. As Guerreiras Grenás só precisaram colocar a bola no chão e ter calma para vencer a partida.
Daí para o final da partida no Arsenio Erico, a técnica Roberta Batista foi descansando suas principais jogadoras e dando minutos a outras. Tudo isso mantendo a postura mais agressiva no campo de ataque e pressionando bastante o já combalido sistema defensivo do Cerro Porteño. Apesar das chances criadas na segunda metade da etapa final, o placar não foi mais alterado. E para que a vitória fosse construída no Arsenio Erico, bastou que a Ferroviária colocasse a bola no chão e colocasse em prática todo o plano de jogo de Roberta Batista. Além de Sochor, Laryh e Luana, também precisamos elogiar bastante a atuação da dupla de zaga formada por Ana Alice e Gessica e o trabalho importantíssimo de Suzanne e Rafa Mineira no aspecto tático. As duas fechavam seu setor quando o Cerro Porteño tinha a posse da bola e davam opção de passe por dentro para desafogar o jogo das Guerreiras Grenás quando era necessário. E isso sem falar na marcação cerrada no meio-campo e no bloqueio das linhas de passe.
A impressão que fica é a de que a classificação para as semifinais da Libertadores Feminina acabou sendo mais complicada do que o esperado. A Ferroviária demorou, mas quando conseguiu impor seu estilo e travar as saídas das suas adversárias, o jogo fluiu e a vitória veio como consequência. Mas é preciso ter em mente que o nível de exigência física, técnica e mental vai aumentar consideravelmente. E manter a concentração quando faltam apenas dois jogos para a “Glória Eterna” é fundamental.
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