Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Arthur Elias e explica o objetivo da formação sem zagueiras de ofício utilizada no segundo tempo
É preciso reconhecer que o Corinthians sofreu um pouco mais do que o normal para superar o Alianza Lima e se garantir nas semifinais da Libertadores Feminina pela terceira vez consecutiva. Isso porque o escrete peruano conseguiu fazer com que a equipe comandada por Arthur Elias encontrasse problemas para circular a bola no campo ofensivo e explorou o lado (o direito) mais fraco da defesa corintiana com bolas mais longas e saída rápida. Foi por ali que saiu o gol marcado por Dorador após belo passe de Bonilla na frente da área num lance de indecisão completa de Katiuscia, Poliana e Campiolo. Por mais que o Corinthians tenha saído vitorioso por conta da imposição física e técnica de Tamires, Gabi Portilho, Gabi Zanotti e Vic Albuquerque (a melhor em campo na opinião deste que escreve e da própria Conmebol), a partida deste sábado (13) deixa algumas lições que precisam ser muito bem assimiladas por todo o elenco. Manter a concentração num torneio de “tiro curto” como a Libertadores Feminina é fundamental.
Ela marcou dois gols no jogo, foi eleita a melhor da partida e agora deixa aquele recado para a Fiel!
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— Corinthians Futebol Feminino (@SCCPFutFeminino) November 14, 2021
Não há como começar esta humilde análise sem falar dos primeiros gols do confronto disputado no Estádio Manuel Ferreira. Logo no primeiro minuto, o escrete comandado por Arthur Elias abriu o placar através da conhecida jogada de ultrapassagem realizada muitas e muitas vezes no Brasileirão Feminino, Gabi Portilho abre, Adriana faz a ultrapassagem, Vic Albuquerque arrasta as zagueiras e Tamires ataca o espaço. Quem esperava que o Corinthians fosse ter uma noite mais tranquila acabou vendo a equipe brasileira sentir demais o gol marcado por Dorador (aos 13 minutos da primeira etapa) e sofrer para encontrar espaços para circular a bola. O Alianza Lima foi muito bem ao fechar a entrada da sua área com duas linhas com quatro atletas e bloquear as saídas de Gabi Portilho, Yasmim e Tamires pelos lados do campo. Era difícil não perceber o tamanho do incômodo de Arthur Elias na beira do gramado com a sequência de bolas que iam para a frente, batiam na defesa do escrete peruano e voltavam para o campo de defesa.
O alívio (se é que podemos usar essa palavra) veio apenas aos 46 minutos da primeira etapa na fortíssima jogada de bola parada do Corinthians. Yasmim cobrou escanteio da direita e Vic Albuquerque acertou bela cabeçada no canto direito da goleira Sánchez. Mesmo com a vantagem no placar, o técnico Arthur Elias ousou e sacou a dupla de zaga para a entrada de Andressinha e Juliete. Muita gente estranhou a mexida do técnico corintiano, mas estava claro que ele sabia que o Alianza Lima continuaria explorando as costas da última linha e deixando Poliana e Giovana Campiolo sem ter muito o que fazer. Com Yasmim e Diany formando a dupla de zaga (e com Kemelli fazendo a saída de três), o Corinthians ganhou qualidade na saída de bola, mais intensidade nas trocas de passe e muito mais desenvoltura no ataque. Ao mesmo tempo, Arthur Elias via sua equipe se impor na base da imposição física diante de um Alianza Lima que já dava sinais de cansaço logo no começo da segunda etapa. A formação sem zagueiras de ofício
O Corinthians passou a jogar no campo do Alianza Lima e passou a levar mais perigo com as intensas trocas de passe, a movimentação constante e a forte jogada de ultrapassagem com Juliete se juntando a Tamires e Adriana pelo lado esquerdo. O volume de jogo era tão grande que Vic Albuquerque aproveitou vacilo da zaga após chute de Gabi Zanotti para marcar o terceiro gol corintiano com um leve toque na saída da goleira Sánchez. Apesar da vantagem no placar, o Timão não diminuiu o ritmo e seguiu atacando. Com Yasmim e Diany formando a dupla de zaga (muito mais por função estabelecida do que por conhecimento da posição), o jogo do Corinthians fluiu com mais facilidade e a equipe conseguiu se adaptar ao cenário da partida. O Alianza Lima encontrava dificuldades para se fechar mesmo depois que o técnico Samir Mendoza arrumou sua equipe num 4-1-4-1. Andressinha melhorou a qualidade do passe, Ingryd entrou bem no meio-campo e o quarteto ofensivo como um todo seguiu empurrando a defesa adversária para trás.
A vitória era o resultado esperado por todos. Mas é preciso reconhecer e entender que ela não veio da maneira que a grande maioria esperava. Enquanto teve fôlego, o Alianza Lima criou problemas para o Corinthians com sua retranca e ainda levou perigo com as bolas lançadas às costas da última linha. A formação sem zagueiras de ofício proposta por Arthur Elias visava a adaptação a esse contexto específico do jogo deste sábado (13) e pode não ser uma solução corriqueira. É exatamente por isso que este que escreve chama a atenção para o cuidado com a concentração da equipe paulista. Quem viu os primeiros quarenta e cinco minutos da partida deve ter se lembrado do confronto contra o América de Cali na edição de 2020 da Libertadores Feminina. O gol de Guarecuco saiu justamente de uma bola despretensiosa jogada nas costas da última linha. O resto é consequência de todo o processo. É por isso que a partida contra o Alianza Lima deixa lições importantíssimas para o escrete de Arthur Elias.
Ninguém duvida que o Corinthians seja uma das melhores (senão a melhor) equipe do continente. Mas isso não quer dizer que ele será o campeão da Libertadores Feminina de 2021. Há muita coisa em disputa e o nível de exigência será elevado consideravelmente na semifinal e numa eventual decisão. Entender o cenário de cada partida é fundamental para que o escrete de Arthur Elias alcance a Glória Eterna mais uma vez. Concentração, força mental, tranquilidade e aplicação tática já são alguns dos lemas do Timão. É seguir trabalhando nessa linha e ir fazendo os ajustes necessários.
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