Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Tite contra a Argentina e todas as polêmicas do jogo disputado nesta terça-feira (16)
Tite está coberto de razão ao afirmar que qualquer confronto contra a Argentina tem o mesmo peso de um jogo de Copa do Mundo. Não só pela história dos dois países no cenário internacional, mas por conta da qualidade do material humano à disposição dos dois treinadores. É exatamente esse o motivo que permite que este que escreve afirme em alto e bom som que a Seleção Brasileira teve sim uma boa atuação nesta terça-feira (16) e que os mais jovens conseguiram lidar com toda a pressão que uma partida desse nível tem. Vale lembrar que além de Messi (é verdade que longe de seus melhores dias, mas ainda é o Messi), Di María, De Paul, Lautaro Martínez, Lo Celso e vários outros jogadores experientes. Sem Casemiro e Neymar (as duas referências do escrete canarinho), Tite viu nomes como Fabinho e Fred tomarem conta do meio-campo e se tornarem os melhores da partida com sobras. Além disso, outro que se destacou foi Matheus Cunha, jogador que já andava merecendo mais chances na Seleção Brasileira.
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É verdade que o torcedor mais exigente queria a vitória sobre o eterno rival. Mas é preciso que o contexto da partida seja levado em consideração. Sem Casemiro e Neymar, Tite mandou a campo uma Seleção Brasileira bem jovem (média de 26,5 anos) e viu sua equipe se comportar bem diante da torcida em San Juan, das entradas mais duras e da catimba dos argentinos além da arbitragem tenebrosa do uruguaio Andres Cunha. Tite manteve seu 4-4-2/4-2-4 com Éder Militão entrando na zaga, Fabinho e Fred na “volância”, Lucas Paquetá fazendo a função que era de Neymar e Vinícius Júnior se revezando com o camisa 17 no lado esquerdo e num posicionamento mais próximo de Matheus Cunha. Se a Seleção Brasileira teve poucas oportunidades, ela também concedeu muito pouco. E nesse ponto, precisamos reconhecer os méritos do sistema defensivo diante das investidas de Lautaro Martínez, Messi, Di María e companhia. Mesmo nos momentos em que a Argentina mais incomodava, o escrete canarinho manteve a concentração e não cedeu espaços.
Vinícius Júnior desperdiçou boa chance aos 16 minutos em belo passe de Lucas Paquetá. Dois minutos depois, Matheus Cunha percebeu Emiliano Martínez adiantado e por pouco não marcou um golaço do meio-campo. Raphinha e Fred ainda arriscaram finalizações de média e longa distância, mas o primeiro mandou pra fora e o segundo parou na boa defesa do goleiro argentino. Por mais que o escrete de Lionel Scaloni fosse mais experiente (e muito mais catimbeiro), a equipe comandada por Tite era organizada e competia demais em San Juan. Faltava aquele aprimoramento no último passe e nas finalizações. No entanto, aos 33 minutos, o árbitro uruguaio Andres Cunha e o VAR simplesmente ignoraram cotovelada criminosa de Otamendi em Raphinha. É simplesmente inacreditável que o lance não tenha sido revisto e que o zagueiro do Benfica não tenha levado o cartão vermelho pela agressão clara ao jogador brasileiro. Mas não é surpresa nenhuma que essa palhaçada tenha vindo de árbitros da CONMEBOL. Nenhuma mesmo.
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É interessante que a Argentina tentou subir suas linhas e jogar mais no campo de ataque depois do lance. A Seleção Brasileira não se intimidou, se fechou na frente da área de Alisson e se posicionou de modo a aproveitar o espaço que seu adversário deixava às costas dos laterais Molina e Acuña. Na prática, Lionel Scaloni deixou Messi mais livre num 4-3-3, posicionou Paredes na frente da dupla de zaga e soltou Di María, De Paul e Lo Celso para encostar no setor ofensivo. Se a ideia do treinador argentino era deixar seu principal jogador sem obrigações defensivas, a Seleção Brasileira manteve o plano elaborado por Tite e viu Fabinho e Fred se transformarem nos grandes nomes do jogo com atuações quase perfeitas na frente da última linha. Proteção e ocupação de espaços, desarmes, coberturas perfeitas e uma saída de bola de dar inveja a muita seleção europeia que este colunista conhece. Não reconhecer a grande atuação da dupla de volantes no jogo desta terça-feira (16) já deixou de ser análise e se transformou em má vontade.
Mesmo com uma equipe mais jovem e sem as suas referências em campo, a Seleção Brasileira conseguia levar perigo ao gol de Emiliano Martínez. Não foram muitas chances, é verdade, mas a dinâmica colocada nas tramas ofensivas abria espaços na última linha argentina com uma certa frequência. Principalmente quando Danilo (ou Alex Sandro) apareciam na frente para fazer as jogadas de ultrapassagem. Enquanto um dos pontos abria o corredor, o outro abria o campo e atacava o espaço aberto pela movimentação de Lucas Paquetá e Matheus Cunha por dentro. Os dois sempre arrastavam pelo menos três jogadores para a linha de fundo (dando a profundidade que Tite tanto pede aos seus jogadores) e fazendo com que a área ficasse escancarada. Se Vinícius Júnior fosse um pouco mais eficiente nas conclusões a gol, a Seleção Brasileira poderia ter voltado de San Juan com uma vitória na bagagem. Sem exagero. Mesmo assim, foi bom ver a molecada partindo pra dentro de Otamendi, Cristian Romero e companhia sem medo de ser feliz.
Já classificada para a Copa do Mundo, a Seleção Brasileira chegou a 35 pontos e utilizou sete jogadores que poderiam ter disputado os Jogos Olímpicos de Tóquio: Eder Militão, Lucas Paquetá, Vinicius Júnior, Matheus Cunha, Antony, Gerson e Gabriel Jesus. Mesmo com uma média de idade mais baixa, o time não se intimidou e tentou impor seu estilo contra a sempre temida Argentina fora de casa. Difícil não concluir que o escrete canarinho segue extremamente competitivo e muito bem servido em todos os setores. Na prática, Tite precisa fazer alguns ajustes e encontrar os jogadores certos para que seu modelo de jogo seja cumprido com a máxima perfeição possível. Danilo e Alex Sandro são importantíssimos na defesa, mas não são tão eficientes atacando. Ao mesmo tempo, Vinícius Júnior provou que merece seu espaço pela habilidade e pela maneira como encarou a forte marcação argentina. Mas para que seu talento apareça, ele precisa se sentir à vontade com a camisa da Seleção Brasileira. A afobação ainda é um dos seus grandes problemas.
Tite sabe que tem uma base sólida e muito competitiva à sua disposição. E a tendência é que ele rode mais o elenco, dê oportunidades a outros jogadores (talvez alguns velhos conhecidos do torcedor) e faça mais alguns testes nas últimas partidas das Eliminatórias da Copa do Mundo. É possível adivinhar a maioria dos nomes do sistema defensivo, mas algumas vagas no ataque permanecem abertas. Seja como for, a Seleção Brasileira segue muito bem servida e altamente competitiva nesse novo ciclo para a Copa do Mundo do Catar.
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