Literalmente em casa, Pace e Fittipaldi, naturais de São Paulo, fizeram a festa dos brasileiros presentes no aútodromo
Realizado no dia 26 de fevereiro de 1975, Interlagos recebeu uma das corridas mais emblemáticas para os fãs brasileiros de automobilismo. Sediando pela terceira vez de forma oficial uma etapa no calendário da Fórmula 1, os torcedores presenciaram José Carlos Pace e Emerson Fittipaldi protagonizarem a primeira dobradinha brasileira na história da categoria.
Largando muito bem e contando com o abandono de Jean-Pierre Jarier, dono do carro mais veloz do início da temporada, Pace ampliou a hegemonia nacional em casa. Em três corridas, três triunfos brasileiros. Fittipaldi, segundo desta vez, foi o vencedor em 1973 e 1974.
Esta vitória em Interlagos foi primeira e única do piloto na Formula 1. “Moco”, como era conhecido, faleceu precocemente aos 32 anos, em 1977. Devido à uma forte tempestade, o avião monomotor em que viajava sofreu uma queda na Serra Cantareira, município de Mairiporã, região metropolitana de São Paulo.
Como forma de homenageá-lo, o autódromo foi rebatizado com seu nome em 1985.
FORMAÇÃO DO GRID
Antes de toda a empolgação pela maior resultado de sua carreira, Pace passou por um fato inusitado nos bastidores. Logo na sexta-feira, primeiro dia dos treinos oficiais, foi barrado na entrada sob alegação de que sua credencial não dava acesso ao autódromo. Depois de muita insistência e confusão, finalmente foi liberado à tempo de participar das atividades na pista.
Para o final de semana, Emerson Fittipaldi era considerado o favorito. Além de vencer as duas edições iniciais, conquistara em 1974 seu segundo título mundial de Fórmula 1. Para reforçar a condição, também havia recebido a bandeirada em primeiro na estreia da temporada de 1975, na Argentina.
Contudo, Jean-Pierre Jarier esfriou o calor da torcida e as previsões iniciais de domínio do brasileiro. O piloto francês da Shadow novamente impressionou a categoria ao cravar a pole pela segunda vez em duas corridas no ano. E ainda bateu o recorde do circuito com o tempo de 2min29s880. Mesmo Emerson afirmando não levar vantagem como muitos imaginavam, mostrou-se surpreso com o forte desempenho do francês, 0,8 segundos mais rápido que sua McLaren.
Atrás da dupla e de grandes nomes como Carlos Reutemann, Niki Lauda e Clay Regazzoni respectivamente, Pace fez o sexto tempo. Wilsinho Fittipaldi colocou a estreante e única equipe de construtores brasileiras a participar da Fórmula 1, a Copersucar, no 21º lugar e terminou a prova no dia seguinte em 13º.
CORRIDA
Expectativa da torcida brasileira para a largada pois, ainda que não tenha feita a pole, os presentes no autódromo ainda acreditavam que o então bicampeão mundial estava no páreo. No entanto, Fittipaldi não largou bem e caiu da segunda para a sétima posição. Reutemann tomou a ponta de Jarier e seu companheiro de Brabham, o brasileiro Pace, pulou da sexta para a terceira posição.
A liderança de Reutemann não durou muito. Logo na quinta volta Jarier o ultrapassou e comandou a prova. O argentino ainda levou o bote de Pace no Retão na 14ª volta, agitando os torcedores naquele setor. Duas voltas depois foi a vez de Fittipaldi iniciar sua reação. Primeiro, contou com o abandono de Jody Scheckter. Niki Lauda foi a próxima vítima, no giro de número 20. Reutemann, após bom início, sofreu para se manter na pista e foi superado na 23ª volta. Na 29ª, Fittipaldi deixou Clay Regazzoni para trás na curva do Sargento e assumiu a terceira posição em uma bela corrida de recuperação.
SHADOW DEIXA JARIER A PÉ E PACE CAMINHA PARA A VITÓRIA
Tudo se encaminhava para a vitória de Jarier em Interlagos, com boa vantagem à frente de Pace, segundo colocado. Entretanto, assim como na estreia da temporada pelo GP da Argentina, sua Shadow novamente acabou com suas esperanças e o deixou a pé após conquistar a pole. Por um problema no sistema de alimentação do combustível, Jarier encostou na curva do Sargento e deu adeus à corrida a sete voltas do fim.
Os brasileiros nas arquibancadas vibraram tal qual um gol ao avistar a cena, pois ali criou-se o melhor roteiro possível: dois pilotos da casa na iminência de vencer a corrida.
Pace herdou a liderança. Apesar das dificuldades com o freio e a aproximação de Fittipaldi, guiou sua Brabham para receber a bandeirada da vitória do Grande Prêmio Brasil de 1973 com seu conterrâneo e bicampeão mundial em segundo, completando o domínio nacional em Interlagos.
A multidão vibrou bastante nas arquibancadas e, posteriormente, tomou a pista. Cercou o carro de Pace, ávidos para ter contato e cumprimenta-lo. Emocionado, Moco desceu de seu monoposto, deitou no chão, chorou e ganhou o carinho de sua esposa e sua mãe. Carregado nos braços até o pódio, abraçou Fittipaldi e comemorou sua única e merecida vitória da carreira.
Oito etapas mais tarde (10ª do calendário) os brasileiros repetiram a dobradinha na Fórmula 1. Desta vez, mudou-se a ordem. Emerson Fittipaldi em primeiro e José Carlos Pace em segundo.
Apesar do ótimo início de ambos, Fittipaldi ficou com o vice no mundial pela segunda vez, enquanto Pace finalizou em sexto. Guiando a Ferrari, o lendário Niki Lauda foi o grande campeão da temporada 1975.
RESULTADO FINAL
1 – José Carlos Pace (Brabham-Ford) / 1:39:26.290
2 – Emerson Fittipaldi (McLaren-Ford) / +5.790s
3 – Jochen Mass (McLaren-Ford) / + 36.660s
4 – Clay Regazzoni (Ferrari) / + 43.280s
5 – Niki Lauda (Ferrari) / +61.880s
6 – James Hunt (Hesketh-Ford) / +65.120s
7 – Mario Andretti (Parnelli-Ford) / + 66.810s
8 – Carlos Reutemann (Brabham-Ford) / + 99.620s
9 – Jacky Ickx (Lotus-Ford) / + 111.840s
10 – John Watson (Surtees-Ford) / + 149.600s
11 – Jacques Lafitte (Williams) / + 1 volta
12 – Graham Hill (Lola-Ford) / + 1 volta
13 – Wilson Fittipaldi Jr. (Copersucar-Ford) / + 1 volta
14 – Rolf Stommelen (Lola-Ford) / + 1 volta
15 – Ronnie Peterson (Lotus-Ford) / + 2 voltas
Abandonaram:
Vittorio Brambilla, Jody Scheckter, Mark Donohue, Mike Wilds, Arturo Merzario, Tom Pryce, Patrick Depailler e Jean Pierre-Jarier.
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