Esqueça o espetáculo: Seleção Brasileira foi altamente competitiva na goleada sobre o Uruguai
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica o que mudou na equipe comandada por Tite e analisa a partida desta quinta-feira (14)
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica o que mudou na equipe comandada por Tite e analisa a partida desta quinta-feira (14)
Difícil não notar que a atmosfera da Arena da Amazônia deixava o cenário completamente favorável à Seleção Brasileira. Todos os jogadores pareciam muito mais à vontade em campo, sem a tensão no semblante de cada um deles durante as partidas contra Venezuela e Colômbia. Principalmente de Neymar. Justo aquele de quem mais se espera e que foi o principal alvo das críticas. Mas é preciso deixar claro que, muito mais do que “dar espetáculo”, a Seleção Brasileira foi altamente competitiva e cumpriu muito bem o plano de jogo proposto por Tite na goleada inapelável sobre o frágil Uruguai de Óscar Tabárez. Destaque para a grande atuação coletiva do escrete canarinho e para jogadores como Fred, Fabinho, Emerson Royal, Lucas Veríssimo, Antony, Lucas Paquetá e (principalmente) Raphinha. O meia do Leeds United simplesmente acabou com o jogo ao balançar as redes duas vezes e se transformar no ponta driblador tão procurado por Tite nesses últimos tempos.
O mais interessante da partida disputada na Arena da Amazônia é que Tite praticamente não modificou a formação básica da sua equipe. E conforme analisado anteriormente aqui neste espaço, o treinador da Seleção Brasileira tinha sim uma ideia bem clara daquilo que ele queria que seus jogadores fizessem em campo e que o discurso de “terra arrasada” não fazia o menor sentido. O 4-4-2/4-2-4 ganhou tinha Lucas Paquetá e Raphinha pelos lados do campo, Fabinho e Fred muito mais ligados na saída de bola e nos passes verticais (a assistência do volante do Manchester United para Neymar no lance do primeiro gol do Brasil foi uma pintura) e muita movimentação no terço final. Ao mesmo tempo, Tite conseguiu recuperar a conhecida pressão pós-perda tão características das suas equipes e praticamente não deixou o Uruguai de Óscar Tabárez respirar. Some isso à atmosfera favorável em Manaus e teremos um “combo” perfeito de desempenho e alta competitividade.
Neymar não era o único que estava claramente muito mais confortável diante dos mais de 12 mil torcedores presentes na Arena da Amazônia. Lucas Paquetá é outro que parece ter se adaptado completamente à Seleção Brasileira e fez ótima partida jogando mais aberto, procurando o camisa 10 por dentro quando a posse de bola é brasileira. Ao mesmo tempo, Tite recuperava a dinâmica do início das Eliminatórias com o retorno ao seu 4-4-2/4-2-4 e ainda ganhava o elemento do drible com Raphinha se movimentando constantemente pela direita. Mesmo sendo canhoto, o camisa 19 não tinha receio em ir para a linha de fundo ou partir em diagonal na direção do gol. Não foi por acaso que balançou as redes duas vezes nesta quinta-feira (14). A equipe uruguaia, por sua vez, se transformava em presa fácil para uma Seleção Brasileira que explorava bem o espaço entre as linhas defensivas e vencia facilmente os duelos no meio-campo. Muslera salvou a Celeste de um desastre maior.
Enquanto a Seleção Brasileira dominava as ações em campo, o Uruguai tentava se encontrar e produzir alguma coisa de bom na Arena da Amazônia. No entanto, as melhores chances da equipe comandada por Óscar Tabárez só surgiram quando o Brasil diminuiu o ritmo por conta da vantagem no placar. Postura até certo ponto natural por conta da festa da torcida na Arena da Amazônia. Mas não demorou muito para que o escrete canarinho retomasse o controle e fechasse a goleada de forma inapelável e apresentando um jogo coletivo extremamente eficiente. As entradas de Antony, Gabigol, Everton Ribeiro e Douglas Luiz mudaram um pouco a dinâmica da equipe com a posse da bola, mas não diminuiu o ímpeto ofensivo do 4-4-2/4-2-4 proposto por Tite. Muito mais do que “dar espetáculo” como alguns estão dizendo, a Seleção Brasileira mostrou um alto nível de competitividade e concentração para executar o plano de jogo do seu treinador com a máxima eficiência possível.
Há quem diga que o Uruguai facilitou (e muito) a vida dos comandados de Tite e que alguns jogadores já não entregam o mesmo desempenho de outros anos. Esse discurso cai por terra diante da grande quantidade de ótimas peças que Óscar Tabárez tem à sua disposição no elenco da Celeste Olímpica. De la Cruz, Bentancur, Valverde, Arrascaeta, Viña, Suárez ainda atuando em alto nível no Atlético de Madrid e um Darwin Núñez jogando o fino no Benfica. E isso sem falar em Agustín Álvarez e Facundo Torres, jovens valores do tradicionalíssimo Peñarol. Difícil não notar as dificuldades do treinador uruguaio em fazer desse elenco algo mais do que apenas um “time aguerrido”. As características dos jogadores do Uruguai mudaram, mas as ideias e o comando técnico não. As derrotas por larga margem de gols sofridas para a Argentina de Messi e agora para a Seleção Brasileira dizem muito sobre todos os problemas coletivos de uma Celeste Olímpica de potencial enorme.
A atuação coletiva da Seleção Brasileira empolga e deixa a sensação de que Tite finalmente encontrou em Raphinha o ponta insinuante e driblador que tanto procurou depois da queda física e técnica de Douglas Costa. Além da visão de jogo e do bom passe no terço final, o meia do Leeds United também entrega o drible, o improviso que bagunça as linhas adversárias. Ao mesmo tempo, Fred deve ter feito a sua melhor partida com a camisa amarelinha. Firme na marcação, ótima saída por baixo e passes verticais precisos. Lucas Paquetá, Fabinho, Emerson Royal e Antony foram outros que subiram de produção e estiveram muito bem diante do frágil Urguuai de Óscar Tabárez, Cavani, Suárez e companhia. E por mais que a equipe ainda precise de ajustes, as escolhas de Tite deixaram bem claro que o importante agora é aumentar a competitividade, se impor dentro de campo na base da técnica apurada dos nossos jogadores. O espetáculo acaba sendo consequência do processo.
Este que escreve ainda quer ver a Seleção Brasileira jogando contra adversários do primeiro escalão do futebol. Testes como esses são mais do que necessários para que Tite tenha uma ideia do potencial da sua equipe disputando jogos grandes. E nesse ponto, a presença de Raphinha, Lucas Paquetá, Emerson Royal, Fred e Lucas Veríssimo está mais do que certa pelo alto nível de competitividade que todos entregaram nesta quinta-feira (14), na Arena da Amazônia.
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