Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Fábio Carille e Luiz Felipe Scolari no “duelo dos desesperados” desse domingo (10)
Luiz Felipe Scolari é o tipo de treinador que desperta os mais variados sentimentos do torcedor brasileiro. Há quem lembre do pentacampeonato mundial em 2002. Há quem lembre do fatídico 7 a 1 para a Alemanha em 2014. Há quem lembre do temperamento mais irritadiço, do forte sotaque gaúcho e do famoso bigodinho que já não existe mais. Seja como for, a última lembrança do torcedor do Grêmio terá do técnico (pelo menos por algum tempo) será a atuação ruim do seu time do coração na derrota (justa) para o Santos de Fábio Carille neste domingo (10), na Vila Belmiro. Difícil não perceber que Felipão mostrava enormes dificuldades em tirar alguma coisa dos seus jogadores, um mínimo de jogo coletivo e organização que pudesse potencializar o talento de Vanderson, Rafinha, Douglas Costa, Diego Souza e outros. O fato do goleiro Brenno ter sido o destaque do Grêmio na partida já diz muita coisa sobre o trabalho de Luiz Felipe Scolari.
#Brasileirão 🇧🇷
🆚| #SANxGRE 1-0
⚽️| Wagner Leonardo
——
📊 Estatísticas:📈 Posse: 59% – 41%
👟 Finalizações: 13 – 8
✅ Finalizações no gol: 5 – 3
🛠 Grandes chances: 1 – 1
☑️ Passes certos: 368 – 239💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/C9SXkYlfOU
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) October 10, 2021
É verdade que o jogo entre Santos e Grêmio poderia ser chamado de “duelo dos desesperados” por conta da posição das duas equipes na tabela do Brasileirão. Mas foi o escrete comandado por Fábio Carille quem tomou a iniciativa e iniciou melhor o confronto jogando num esquema que se mostrou bastante interessante. No momento defensivo, Marcos Guilherme e Wagner Leonardo eram os laterais. Na fase ofensiva, o camisa 23 ganhava liberdade para avançar ao ataque com o jovem zagueiro mais preso pela esquerda. No meio-campo, Camacho ditava o ritmo e ganhava o auxílio de Vinícius Zanocelo na armação das jogadas. A movimentação ofensiva inteligente do Peixe desarrumava completamente o 3-4-2-1 armado por Luiz Felipe Scolari e apresentava um jogo coletivo muito mais consistente do que o do seu adversário ainda que pecasse um pouco pela afobação em determinados lances. Mesmo oscilando, no entanto, o Santos era bem superior.
O Grêmio até que conseguiu equilibrar os duelos contra o Santos ao melhorar a marcação no meio-campo. Mesmo assim, o escrete comandado por Luiz Felipe Scolari funcionava meio que na base do aleatório, sem um plano de jogo mais elaborado e consistente para aproveitar o talento dos jogadores que estavam em campo. Aliás, essa é a principal crítica feita ao trabalho de Felipão no Tricolor Gaúcho. O elenco tem bons jogadores e possui muito mais qualidade do que a grande maioria das equipes que estão na parte de baixo da tabela do Brasileirão, só que o veterano treinador mostra dificuldades absurdas para tirar alguma coisa do material humano que tem em mãos. Enquanto o Santos buscava executar o plano de Fábio Carille da melhor maneira possível, o Grêmio dependia unicamente das ações de Douglas Costa para que pudesse ser mais produtivo e agressivo em campo. Muito pouco para quem disputava títulos importantes não faz muito tempo.
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Mas o Santos também encontrava as suas dificuldades. Primeiro por conta da ansiedade que acabou com o trabalho mais cuidadoso com a bola e fez com que a equipe de Fábio Carille se precipitasse em determinados momentos da partida na Vila Belmiro. Fora isso, o Peixe demorou para encaixar a marcação no lado esquerdo, setor onde o promissor Vanderson encontrava certa liberdade para apoiar o ataque. Ao mesmo tempo, Alisson se mexia bem jogando um pouco mais por dentro do que o normal e Diego Souza era incômodo constante para a zaga santista. E só. O time do Grêmio só conseguiu levar perigo ao gol de João Paulo na base das ligações diretas e do “abafa” no meio-campo. Difícil não concluir que Luiz Felipe Scolari poderia ter feito muito mais ao invés de apenas orientar sua equipe a parar jogadas com faltas no meio-campo sem ao menos tentar entender o funcionamento do esquema de jogo do seu adversário deste domingo (10).
Luiz Felipe Scolari desfez seu 3-4-2-1 no segundo tempo, mas a equipe do Grêmio seguia dependente de algum lançamento longo ou cruzamento na área. Ferreirinha ainda criou alguns problemas pelo lado esquerdo, mas nada muito além de mais do mesmo no escrete gaúcho. O Santos, por sua vez, melhorou seu desempenho com as mudanças promovidas por Fábio Carille e ganhou mais consistência no setor ofensivo com Marinho mais móvel, Gabriel Pirani e Diego Tardelli se juntando a Lucas Braga e Carlos Sánchez na armação das jogadas e Madson e Felipe Jonatan firmes no apoio. Diante de tudo o que se via no desenrolar da partida na Vila Belmiro, estava mais do que claro que Felipão estava mais do que satisfeito com o pontinho conquistado na casa do adversário. Nesse ponto, o gol de Wagner Leonardo (confirmado apenas com o auxílio do VAR e do sal grosso) foi um verdadeiro castigo para a falta de ousadia e de ideias do treinador.
Entender o que acontece com o Grêmio é uma das tarefas mais complicadas desses tempos. A impressão é que a diretoria se perdeu completamente depois da saída de Renato Gaúcho no início do ano e perdeu completamente o rumo. Sobre Felipão, é difícil defender um trabalho tão pobre em ideias e jogo coletivo. Por mais que o treinador mereça reconhecimento por tudo o que fez no futebol mundial em mais de três décadas no banco de reservas, a grande verdade é que seus últimos trabalhos não foram os melhores e ficaram marcados exatamente pelos mesmos problemas percebidos no Grêmio que entrou em campo neste domingo (10). Enquanto o Santos encontrava um caminho a seguir (ainda que o time tenha seus problemas e necessidade de ajustes em todos os setores) com o plano de jogo de Fábio Carille, o Tricolor Gaúcho parece dar voltas, ensaiar uma reação e voltar à estaca zero. Primeiro com Tiago Nunes e agora com Luiz Felipe Scolari.
A demissão de Felipão acabou sendo o caminho mais óbvio diante de todos os problemas coletivos e de todas as dificuldades de se tirar alguma coisa desse elenco do Grêmio. Certo é que o torcedor não deve guardar boas lembranças do treinador campeão da Libertadores em 1995 pelo menos por um bom tempo. A “despedida” de Luiz Felipe Scolari não poderia ter sido mais melancólica. Derrota no último minuto e jogadores gremistas arrumando confusão depois do apito final.
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