Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Fernando Diniz e Felipe Surian na emocionante partida disputada neste sábado (9)
É preciso deixar claro que o Vasco tinha todas as condições de sair do Castelão (em São Luís) com mais três pontos na bagagem e consolidar sua arrancada rumo ao G4 da Série B. O escrete de Fernando Diniz criou chances, teve a posse da bola e superioridade numérica quando Luís Gustavo levou um cartão vermelho no mínimo discutível no final da primeira etapa. O grande problema é que o Trem Bala da Colina não teve calma para colocar a bola no chão e explorar todo o cenário favorável que teve diante do Sampaio Corrêa no segundo tempo. O resultado disso foi um Vasco desorganizado, sem a efetividade necessária para vencer o adversário deste sábado (9) e que novamente pecou na marcação da bola aérea. Mas a equipe de Felipe Surian também tem seus méritos. A Bolívia Querida foi muito veloz nos contra-ataques pela direita com Pimentinha e Ciel e soube tirar o espaço na frente da área do goleiro Luiz Daniel, o grande herói da partida em São Luís.
A imagem que retrata uma infinidade de emoções. Luiz Daniel GIGANTE
📸John Tavares pic.twitter.com/Bra02dvrEF
— Sampaio Corrêa FC (@sampaiocorrea) October 10, 2021
O Vasco de Fernando Diniz sofreu daquilo que podemos chamar de “Síndrome do Arame Liso” no primeiro tempo. A equipe de São Januário concentrou seu jogo no lado esquerdo, onde Gabriel Pec e Riquelme formavam boa dupla naquele setor. Nenê e Marquinhos Gabriel distribuíam bem os passes e aproveitavam a profundidade que o camisa 11 dava ao escrete vascaíno na inversão do 4-3-3 para o 3-2-5 bem conhecida de Fernando Diniz (com Zeca mais recuado pela direita ajudando na saída de bola). No entanto, o Vasco finalizava pouco a gol. E quando o fazia, não acertava o alvo. Já o Sampaio Corrêa tinha uma proposta clara. O escrete comandado por Felipe Surian se fechava na defesa e explorava bastante os contra-ataques pelo lado direito, onde o veloz Pimentinha (que recuava como o quarto meio-campista da Bolívia Querida na variação para o 4-4-2) levava bastante perigo. O árbitro Caio Max Augusto Vieira (do Rio Grande do Norte) anulou penalidade de Vanderlei em cima de Ciel em lance que teve origem num lançamento às costas de Riquelme e Leandro Castán. Justamente o ponto mais frágil do sistema defensivo do Vasco.
Difícil não perceber que faltava objetividade ao time de Fernando Diniz quando a bola chegava no terço final. E também uma boa dose de calma na hora de decidir o que fazer no momento decisivo. Bruno Gomes e Marquinhos Gabriel até que encontravam um certo espaço no meio-campo para distribuir passes. Mas eles sempre acabavam indo mais para os lados do campo ou para trás do que para frente. Isso porque Cano ficou encaixotado no meio da zaga do Sampaio Corrêa e só conseguia participar das jogadas de ataque quando recuava para a intermediária. Morato (o ponta com o pé invertido pela direita) deveria ser o jogador que ocuparia esse espaço deixado pelo argentino, mas também embolava pelo meio. Além disso, Nenê foi muito bem vigiado por Baraka, Eloir e Márcio Araújo (aquele mesmo) e sempre tinha ao menos um deles no seu encalço quando recebia a bola. A falta de objetividade já era bem clara quando Luís Gustavo foi expulso no final do primeiro tempo.
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Este que escreve pensou que o Vasco encontraria mais facilidade para chegar ao gol do Sampaio Corrêa no segundo tempo com um jogador a mais em campo. E foi aí que a equipe de Fernando Diniz pecou demais pela falta de calma quando tinha a bola. A afobação do setor ofensivo era nítida. Talvez pelo contexto favorável, pela presença da torcida, pela oportunidade de conquistar a quarta vitória seguida na Série B ou por todas as opções anteriores. Fato é que o Trem Bala da Colina se mostrava desgovernado na hora de avançar e abria espaços generosos. Principalmente pelo lado esquerdo da sua defesa, onde Pimentinha e Ciel levavam ampla vantagem sobre Riquelme e Leandro Castán. Numa dessas escapadas, o camisa 11 da Bolívia Querida se livrou da marcação e obrigou Vanderlei a fazer boa defesa. Na cobrança do escanteio, no entanto, o Vasco novamente cochilou e Allan abriu o placar no Castelão. Isso aos 19 minutos da segunda etapa.
A essa altura, Fernando Diniz já tinha ido para o tudo ou nada com Daniel Amorim no lugar de Ricardo Graça. Depois de ver sua equipe levar mais um gol na bola aérea, o comandante vascaíno trocou Gabriel Pec e Zeca por Figueiredo e João Pedro respectivamente. No entanto, mesmo com cinco atacantes, o Trem Bala da Colina seguia padecendo dos mesmos problemas. Na prática, as melhores chances do Vasco só apareceram quando o time começou a levantar a bola na área, já que o Sampaio Corrêa literalmente estacionou um ônibus na frente da área do goleiro Luiz Daniel (que viria a se transformar no grande nome da partida em São Luís). Nesse ponto, a afobação e a falta de concentração dos jogadores vascaínos ficou bem clara conforme o jogo ia se encaminhando para o apito final. Daniel Amorim, Leandro Castán e Cano pararam no camisa 1 da Bolívia Querida e ainda defendeu a penalidade cobrada por Nenê aos 53 minutos do segundo tempo.
O cenário favorável da partida deste sábado (9) acabou sendo dominado pela afobação de uma equipe que ainda busca a melhor formação e os pontos necessários para entrar no cobiçado G4 da Série B. Observando-se o contexto geral, no entanto, todos os problemas do Vasco de Fernando Diniz podem ser facilmente explicados e compreendidos. A grande questão é que não há tanto tempo hábil assim para uma recuperação. As três vitórias seguidas na competição não escondem o fato de que o Trem Bala da Colina ainda busca mais consistência defensiva e frieza nos momentos decisivos. Isso ficou bem claro após a atuação contra o Sampaio Corrêa de Felipe Surian. E é preciso reconhecer que as mexidas do técnico da Bolívia Querida se mostraram mais eficientes do que as promovidas por Fernando Diniz. Luiz Daniel, Eloir, Nilson Júnior, Pimentinha e Ciel foram alguns dos destaque da vitória deste sábado (9) diante da fanática torcida do escrete maranhense.
Encontrar o equilíbrio entre intensidade e concentração parece ser a grande missão do treinador do Vasco nessa reta final de Campeonato Brasileiro da Série B. O elenco já mostrou seu valor em cenários extremamente complicados e ganhou ainda mais qualidade com a chegada de Nenê. Mesmo assim, é preciso manter a concentração, aprender com os erros e não se deixar abater por eles. Ainda há tempo para retomar a arrancada. Mas é preciso aproveitar os contextos favoráveis.
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