Empate entre Liverpool e Manchester City é a prova de que o futebol pode ser maravilhoso quando bem jogado
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida disputada neste domingo (3) e o duelo travado por Jürgen Klopp e Pep Guardiola na beira do gramado
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida disputada neste domingo (3) e o duelo travado por Jürgen Klopp e Pep Guardiola na beira do gramado
De um lado, o Liverpool de Jürgen Klopp, Salah, Mané, Fabinho e Alisson. Do outro, o Manchester City de Pep Guardiola, De Bruyne, Gabriel Jesus, Bernardo Silva e Ederson. O amante do velho e rude esporte bretão não poderia esperar outra coisa senão um grande jogo no Anfield Road. Difícil imaginar quem se apresentou melhor ou quem merecia ficar com o três pontos. Certo é que Reds e Citzens nos provaram que o futebol ainda pode ser um esporte maravilhoso se bem jogado e tratado como merece. O empate em 2 a 2 acabou sendo justo diante tudo aquilo que vimos dentro das quatro linhas e fora delas também, afinal de contas, não é todo dia que temos a chance de acompanhar um verdadeiro duelo tático entre dois dos maiores treinadores do século XXI. E nesse ponto, Jürgen Klopp e Pep Guardiola foram geniais. Como sempre, aliás. É o tipo de partida que merece ser desfrutada em todos os sentidos. Ainda mais quando Liverpool e Manchester City estavam preocupados unicamente em jogar futebol.
Nenhuma das equipes entrou em campo com alguma grande mexida tática. A única digna de nota (e ainda assim forçada por problemas físicos de Alexander-Arnold) foi a entrada do veterano Milner na lateral-direita. No entanto, quando a bola rolou, foi possível notar que Klopp e Guardiola tinham as suas cartas na manga. O Liverpool teve um início melhor de partida, com Henderson, Salah, Diogo Jota e Mané forçando o erro na saída de bola do City. A partir do momento em que Rúben Dias, Laporte e João Cancelo conseguiam superar essa pressão, o jogo do escrete de Guardiola fluía com certa facilidade. Principalmente pelo lado esquerdo de ataque, onde Phil Foden e Bernardo Silva exploravam bastante o setor e causavam muitos problemas para Milner e Matip por ali. Não foi por acaso que o brasileiro Alisson se transformava no nome do jogo até aquele momento com duas boas defesas em contra-ataques do Manchester City em alta velocidade. Todas em finalizações do camisa 47 dos Citzens.
Se nenhum dos times apresentou surpresas na escalação inicial, foi possível perceber o duelo tático intenso que acontecia no banco de reservas assim que a bola rolou. Ao invés de manter Grealish aberto pela esquerda como mais um “ponta-armador”, Pep Guardiola posicionou seu camisa 10 como um “falso nove” que circulava bastante entre as linhas do Liverpool. Com isso, Phil Foden e Gabriel Jesus tinham espaço para entrar em diagonal na direção do gol de Alisson e altíssima velocidade. Aliás, a maneira como o Manchester City se livrava da pressão dos Reds ainda no seu campo de defesa e empurrava seu adversário para trás era impressionante. Todo esse volume de jogo, toda essa intensidade nos movimentos exigia de Jürgen Klopp alguma intervenção no jogo, alguma mudança tática que pudesse colocar os Citzens contra a parede. E nesse ponto, o intervalo da partida no Alfield Road se mostraria fundamental para que o treinador alemão ajustasse sua equipe para ganhar mais agressividade.
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A solução encontrada por Klopp foi simples: acelerar ainda mais o jogo e aproveitar a velocidade do trio ofensivo com passes mais longos e ligações diretas. Matip encontrou Diogo Jota na entrada da área em finalização bem defendida por Ederson logo no início do primeiro tempo. Aos 13 mintuos, Fabinho (cada vez mais importante na marcação e na distribuição do jogo no meio-campo do Liveprool) encontrou Salah na direita. O egípcio se livrou de João Cancelo e encontrou Mané entrando em diagonal (às costas de Laporte). Gol com a marca do futebol intenso e vertical de Klopp e que obrigou Guardiola a responder à altura. Grealish deixou o jogo para a entrada de Sterling. A formação básica do Manchester City não mudou, mas a maneira de jogar sim. O camisa 7 deu mais força ao ataque dos Citzens e mais presença de área (sem perder a mobilidade). Aos 23 minutos, Gabriel Jesus se livrou de metade da defesa do Liverpool e deixou Phil Foden em ótimas condições para empatar a partida.
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O confronto em Anfield Road seguia a cartilha dos grandes jogos de futebol. Lances de pura qualidade, duelo tático intenso na beira do gramado e… Golaços. Como o marcado por Salah aos 30 minutos do segundo tempo após se livrar de três adversários e deixar Bernardo Silva no chão e finalizar de pé direito. Klopp (que já havia mandado Firmino para o jogo no lugar de Diogo Jota) aproveitou para substituir o amarelado Milner pelo zagueiro Joe Gomez. Só que que o Manchester City tinha Kevin de Bruyne. Foi o belga quem iniciou e terminou a jogada do gol de empate dos Citzens aos 35 minutos. Ainda haveria tempo para Rodri salvar gol certo de Fabinho após saída em falso de Ederson e para Robertson bloquear finalização de Gabriel Jesus com toda a defesa do Liverpool já batida após contra-ataque puxado por Sterling e De Bruyne. Resultado justo diante do futebol absurdamente bem jogado pelas duas equipes. Verdadeiras aulas dentro de campo e nos bancos de reservas com Guardiola e Klopp.
Sobre os brasileiros que estiveram em campo, Alisson foi importantíssimo no primeiro tempo com duas grandes defesas, Fabinho esteve muito seguro na marcação e na distribuição do jogo no meio-campo e Firmino teve apresentação razoável (ainda mais para quem vinha de um longo tempo parado) entrando no lugar de Diogo Jota. Do lado dos Citzens, Ederson mostrou que é um dos goleiros que melhor se adaptou ao jogo com os pés atualmente. É praticamente mais um armador em campo. Ao mesmo tempo Gabriel Jesus fez a diferença pelo lado direito e atormentou a vida de Robertson. Aliás, o camisa 9 do Manchester City vem se transformando novamente com Pep Guardiola. Muito mais ponta do que centroavante, importantíssimo no balanço defensivo (tanto que o Liverpool pouco usou seu lado esquerdo) e letal nos contra-ataques com passes precisos e ótimas tomadas de decisão no terço final. Difícil não perceber como os jogadores brasileiros rendem mesmo quando colocados em contextos que não eram os mais favoráveis.
Este que escreve também segue a linha dos perfis oficiais da Premier League. Pelo futebol apresentado nesse domingo (3), Liverpool e Manchester City não mereciam perder esse jogo e o resultado mais justo (se é que podemos falar em “justiça” no futebol) foi mesmo o empate. E o principal: Pep Guardiola e Jürgen Klopp mostraram para todos nós, reles mortais, que o futebol pode ser um esporte maravilhoso e incrivelmente agradável de se ver quando bem praticado, bem pensado e bem jogado.
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