Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o ótimo jogo desta quarta-feira (6) e explica como Luís Enrique superou Roberto Mancini no duelo de estratégias
A invencibilidade de 37 partidas e o título da Eurocopa eram motivos já eram motivos suficientes para que a Itália de Roberto Mancini fosse apontada como a favorita no confronto contra a Espanha. Além disso, toda a atmosfera do San Siro e a pressão em cima de Luís Enrique indicavam (pelo menos em tese) que a Squadra Azzurra não teria muitos problemas para se classificar para a grande final da Liga das Nações. Só que as coisas tomaram um outro rumo quando a bola rolou. A Fúria não só acabou com a série invicta da Itália. Ela nos mostrou que é possível jogar um futebol de altíssimo nível sem grandes estrelas se você tiver um jogo coletivo forte e encaixado. A Espanha foi altamente competitiva, organizada e intensa em cada movimento e em cada passe. Por mais que a equipe de Luís Enrique ainda necessite de ajustes e mais objetividade, é preciso reconhecer que chegar numa final de Liga das Nações e numa semifinal de Eurocopa com um grupo tão jovem não é tarefa para qualquer um.
🌍 | Italy 1:2 Spain
Spain are in the #NationsLeague final after inflicting Italy their first loss since September 2018!
The visitors were the better side at San Siro from the start, with Bonucci's 41st-minute red making things even more difficult for I Azzurri. #ITAESP pic.twitter.com/xw4ftQ5QEE
— Sofascore (@SofascoreINT) October 6, 2021
Já era de conhecimento de todos que a Itália manteria o seu estilo de jogo mais ofensivo e de alta velocidade com Jorginho, Barella e Verratti no meio, Di Lorenzo como lateral-base e Emerson Palmieri se juntando ao trio ofensivo formado por Bernardeschi, Chiesa e Insigine. Só que Luís Enrique teve a leitura de jogo perfeita e montou sua Espanha de acordo com o adversário. Com um lado esquerdo fortíssimo com Oyazarbal e Marcos Alonso forçando pela esquerda, a Fúria conseguia ser bastante perigosa nas suas transições. Ao invés de trocas de passe mais demoradas, um estilo mais vertical e veloz. O jovem Gavi se juntava ao trio ofensivo e ao lateral do Chelsea na variação do 4-3-3 para o 3-2-5 que criava superioridade numérica no terço final e causava problemas sérios para Bonucci e Bastoni na marcação. Tudo porque Sara ia recuava como “falso nove” e abria o espaço para Ferrán Torres infiltrar em velocidade. Exatamente como aconteceu no lance do primeiro gol da Espanha.
O lado esquerdo de ataque se transformaria no “mapa da mina” para a Espanha de Luís Enrique. Primeiro pela facilidade que Marcos Alonso, Koke e Oyazarbal encontravam para circular por ali. E depois pelos espaços que o meio-campo da Itália concedia no meio-campo. Busquets recebia sim a pressão quando tinha a bola, mas sempre encontrava espaços quando superava esse primeiro combate. E a circulação de Sarabia mais por dentro e Gavi pelo lado direito causavam problemas sérios para Jorginho e Verratti sempre que a Espanha acelerava as jogadas de ataque. Chiesa e Bernardeschi obrigaram o goleiro Unai Simón a trabalhar com boas defesas. E Insigne desperdiçou a melhor chance da partida após belo cruzamento de Emerson Palmieri. As chances da Itália praticamente acabaram quando Bonucci levou o segundo cartão amarelo depois de acertar cotovelada em Busquets. Com um a mais em campo, a Espanha teve espaço suficiente para trabalhar a jogada que resultaria no segundo gol de Ferrán Torres.
[DUGOUT dugout_id=”eyJrZXkiOiI3TGM4enlhVyIsInAiOiJ0b3JjZWRvcmVzIiwicGwiOiIifQ==”]
O segundo tempo nos mostrou uma Itália ainda insinuante no ataque, mas que sofria com o enorme espaço para cobrir diante de uma Espanha que desperdiçou boas chances de ampliar o marcador. Nesse ponto, o jogo coletivo da Espanha entregava muito mais do que a experiência dos comandados de Roberto Mancini. Tudo por conta de como cada peça se encaixava no 4-3-3/3-2-5 de Luís Enrique. Todas as jogadas de ataque envolviam mais de três jogadores, muita circulação para abrir espaços e intensidade nesses movimentos. Ainda que Pellegrini tenha descontado aos 37 minutos da segunda etapa (após falha de Pino e Pau Torres), a impressão que ficava era justamente a de um certo domínio do escrete comandado por Luís Enrique diante de todo o contexto da partida no San Siro. Se a Itália de Roberto Mancini intimidava e impunha respeito por conta da longa invencibilidade e do título da Eurocopa, a Espanha compensava com muita movimentação e um jogo coletivo consistente e bem treinado.
Após a partida, este que escreve ficou com a certeza de que a Espanha pode se transformar num oponente ainda mais temido se a equipe tiver mais objetividade e se não desperdiçar tantas chances de gol. O time de Luís Enrique é envolvente, cria muitas dificuldades para qualquer adversário e chega no ataque com uma certa facilidade. Tudo por conta de um setor ofensivo que une a experiência de Busquets e Koke com a juventude de Gavi, Oyazarbal e Ferrán Torres. Por mais que a Itália tenha qualidade, ficou claro que nem sempre é preciso ter uma equipe recheada de estrelar para competir em alto nível no futebol. O jogo coletivo pode sim elevar o potencial de qualquer atleta quando bem empregado e trabalhado pelo seu treinador. Todo o contexto da partida desta quarta-feira (6) pedia que a se comportasse dessa forma com e sem a posse da bola. E a maneira como Oyazarbal, Sarabia e Marcos Alonso destruíram o lado direito da Itália resume bem essa tese colocada neste parágrafo.
Luís Enrique comprou a briga e apostou numa Espanha mais jovem para encarar um adversário que não era derrotado há 37 partidas. A partida também teve um gostinho de vingança para a Fúria, já que a equipe pôde devolver a eliminação nas semifinais da Eurocopa com juros e correção monetária. Tudo por conta do jogo coletivo consistente de uma Fúria que tem potencial para chegar bem longe e que já mostrou que pode bater de frente com qualquer adversário.
CONFIRA OUTRAS ANÁLISES DA COLUNA PAPO TÁTICO: