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Flamengo repete “receita” de Abel Ferreira e conquista triunfo importantíssimo sobre o Atlético-MG; entenda

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Renato Gaúcho melhorou o sistema defensivo e travou o escrete de Cuca no jogo deste sábado (30)

Por Luiz Ferreira em 31/10/2021 02:00 - Atualizado há 3 anos

Gilvan de Souza, Marcelo Cortes & Paula Reis / Flamengo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Renato Gaúcho melhorou o sistema defensivo e travou o escrete de Cuca no jogo deste sábado (30)

No último dia 28 de setembro, o Atlético-MG era eliminado da Copa Libertadores da América pelo Palmeiras por conta do critério do gol qualificado após empate em 1 a 1 no Mineirão. Para superar o ímpeto ofensivo de um dos times mais fortes do continente nesses últimos meses, Abel Ferreira apostou num estilo mais reativo, com linhas mais fechadas, muita marcação e aproveitamento dos espaços às costas dos laterais atleticanos para ficar com a vaga na final. De certo modo, foi o que o Flamengo fez na partida deste sábado (30), na vitória por 1 a 0 sobre o escrete comandado por Cuca. Bastante criticado pela imprensa e pela torcida após a derrota para o Athletico Paranaense na quarta-feira (27), Renato Gaúcho resolveu repetir a “receita” do treinador português, fechou sua equipe na defesa e tratou de explorar os pontos fracos do Galo num jogo amarrado e truncado no Maracanã. Destaque para as boas atuações de Willian Arão, Michael, Everton Ribeiro, Isla e (pasmem) Léo Pereira.

Os números do SofaScore (ver no tweet acima) mostram que Renato Gaúcho estava focado em apenas uma coisa: a vitória sobre o Atlético-MG. Mas o comandante rubro-negro sabia bem que não poderia enfrentar o atual líder do Brasileirão de “peito aberto”. Não depois da eliminação na Copa do Brasil e todo o caos que se instalou no Flamengo depois de tudo o que aconteceu contra o Athletico Paranaense. Renato fez o simples. Trouxe Andreas Pereira para jogar onde se sente mais confortável, abriu Michael pelo lado esquerdo para explorar as subidas de Guga ao ataque e liberou Isla para jogar como um ala com o recuo de Willian Arão para junto de Gustavo Henrique e Léo Pereira. Na prática, um 4-4-2 mais compactado no meio-campo e sem tantos problemas na transição defensiva para segurar o ímpeto ofensivo de um Atlético-MG que buscava o ataque o tempo todo com Allan iniciando a saída de bola, Jair dando a dinâmica necessária no meio-campo e Hulk um pouco mais afastado da área do que o normal.

Formação inicial das duas equipes no Maracanã. Renato Gaúcho mudou peças e deixou seu Flamengo mais compactado e marcando em bloco mais baixo para encarar um Atlético-MG extremamente ofensivo e intenso nas trocas de passe no meio-campo.

Do outro lado, Cuca mandava o Atlético-MG a campo com o que tinha de melhor. O 4-2-3-1 se transformava numa espécie de 3-1-4-2 com o recuo de Allan para junto de Nathan Silva e Junior Alonso e os avanços constantes de Guga e Guilherme Arana ao ataque. Por mais que o Atlético-MG tenha feito um primeiro tempo de mais posse de bola e tenha levado mais perigo nas tramas ofensivas, a impressão que ficava era a de que o Galo enfrentava certas dificuldades para furar o forte bloqueio defensivo do Flamengo. Com Nacho Fernández e Zaracho bem vigiados por Willian Arão, Everton Ribeiro e Andreas Pereira, Ramon muito esperto na marcação, Michael mais solto e Isla explorando bastante o corredor direito, o escrete comandado por Cuca rodava a bola do meio para trás sem encontrar meios de chegar ao gol de Diego Alves. As melhores chances surgiram quando o Flamengo demorou para ajustar e encaixar a marcação por perseguições individuais tão característica dos trabalhos de Renato Gaúcho.

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Renato Gaúcho pode não ter se inspirado no Palmeiras de Abel Ferreira deliberadamente para montar o Flamengo para o jogo deste sábado (30). E se realmente o fez, dificilmente vai admitir essa influência. Mas estava claro que o treinador rubro-negro repetia a “receita” num jogo em que o resultado era muito mais importante do que a atuação em si. Ainda mais diante do líder do Brasileirão. Aos 24 minutos da primeira etapa, Willian Arão fez lançamento de manual para Isla que jogou a bola na área. Bruno Henrique escorou e Michael apareceu nas costas da zaga atleticana e mandou para as redes. Notem que o início da jogada do único gol da partida tem Gabigol arrastando a marcação de Allan, Everton Ribeiro aproveitando o cochilo de Jair e Isla se lançando no espaço aberto por Guilherme Arana e Keno. Tanto que o lateral chileno recebe a marcação de Nacho Fernández e Junior Alonso antes de fazer o cruzamento. Atrair e arrastar para abrir espaços. Conceito bem trabalhado por Abel Ferreira e repetido por Renato Gaúcho.

Gabigol arrasta a marcação, Isla se lança do espaço vazio e Michael aproveita cochilo de Guga na marcação no lance do único gol da partida. Renato Gaúcho montou seu Flamengo para explorar a marcação por encaixes do Atlético-MG de Cuca e foi bem sucedido no duelo de estratégias. Foto: Reprodução / Premiere / GE

O gol de Michael acabou tendo um efeito muito ruim nas escolhas de Cuca para a segunda etapa. A começar pela saída de Guga para a entrada de Diego Costa e o recuo de Zaracho para a lateral. Posteriormente, o comandante atleticano sacou o camisa 15 para a entrada de Mariano e acabou com qualquer resquício de criatividade da sua equipe com a saída de Nacho Fernández e a entrada de Savarino. É verdade que o argentino já não tinha mais o mesmo nível de intensidade do primeiro tempo, mas empilhar atacantes contra um Flamengo muito mais organizado do que na partida contra o Athletico Paranaense não foi uma boa ideia. Ainda mais diante do que viria pela frente. Renato Gaúcho radicalizou de vez seu estilo reativo com as entradas de Bruno Viana, Rodinei, Thiago Maia e Vitinho e a aposta num 5-4-1 que fechou a frente da área e mostrou até uma certa segurança na bola aérea. O Flamengo ainda poderia ter feito o segundo se o chute de Rodinei não tivesse acertado a trave direita de Everson.

Renato Gaúcho apostou num 5-4-1 e radicalizou sua proposta reativa no final da partida. Cuca não conseguiu fazer o Atlético-MG reagir com as entradas de Savarino, Mariano, Vargas, Diego Costa e Nathan. Faltou criatividade para furar a retranca.

A vitória diminuiu um pouco a distância para o Atlético-MG e aliviou bastante a pressão sobre Renato Gaúcho. É verdade que o Flamengo esteve um pouco mais organizado na defesa e soube como explorar bem os pontos fracos do seu forte adversário deste sábado (30). Ainda que a equipe rubro-negra precise de ajustes e sinta demais a falta de Arrascaeta no meio-campo, é preciso dizer que finalmente Renato Gaúcho entendeu que precisava fazer o simples. Manter Andreas Pereira como volante, soltar Isla como ala pela direita e posicionar seus jogadores de modo que Michael, Bruno Henrique e Gabigol tivessem campo para explorar nos contra-ataques. Some isso às boas atuações de Gustavo Henrique (que substituiu Rodrigo Caio minutos antes do início da partida) e Léo Pereira na marcação de Hulk, Keno e todo o ataque atleticano. Fora a grande partida de Willian Arão, o melhor em campo na humilde opinião deste que escreve. O camisa 5 foi preciso nos desarmes, atento na marcação e importantíssimo na saída de bola.

A influência ainda que indireta do Palmeiras de Abel Ferreira na formação e na postura do Flamengo que venceu o Atlético-MG ficou bem clara nos minutos finais. Há quem veja nisso tudo a preocupação de Renato Gaúcho com o resultado e nada mais. Este colunista, no entanto, ainda se mostra um tanto quanto incomodado com a maneira como o gol no início das partidas influencia a atuação das equipes de Renato Gaúcho. Contra ou a favor. Há como ser reativo e mais cauteloso sem abrir mão do controle das ações na partida. Essa é a lição que fica da boa vitória sobre o Galo no Maracanã.

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