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O que explica todo esse culto à Seleção Brasileira de 2006?

Em reportagem especial para o TORCEDORES.COM, Luiz Ferreira explica o que faz o time comandado por Carlos Alberto Parreira ser tão celebrado

Por Luiz Ferreira em 19/10/2021 07:30 - Atualizado há 9 meses

Nilton Santos / CBF

Em reportagem especial para o TORCEDORES.COM, Luiz Ferreira explica o que faz o time comandado por Carlos Alberto Parreira ser tão celebrado

Você já deve ter visto em algum momento algum post no Facebook, no Twitter ou no Instagram sobre a Seleção Brasileira de 2006. Uma onda de saudosismo que surge nas redes sociais sempre que o escrete canarinho não consegue um bom resultado ou quando não apresenta um desempenho que atenda a expectativa do exigente torcedor brasileiro. Certo é que a equipe comandada por Carlos Alberto Parreira reuniu alguns dos melhores jogadores do mundo na época. Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Juan, Dida, Adriano, Zé Roberto e vários outros vinham de ótima fase nos seus clubes e alimentavam a imaginação dos amantes do velho e rude esporte bretão em todo o mundo. No entanto, mesmo vencendo a Copa América de 2004, a Copa das Confederações de 2005 e ficando com o primeiro lugar nas Eliminatórias, a Seleção Brasileira acabou falhando no principal objetivo: a conquista da Copa do Mundo de 2006, disputada na Alemanha.

O que este que escreve não consegue compreender é a razão do culto e da supervalorização de uma equipe que apresentou apenas lampejos do “Joga Bonito” tão alardeado pela imprensa e pela própria CBF. Fato é que as boas atuações do escrete comandado por Carlos Alberto Parreira podem ser contadas nos dedos da mão e ficaram bem longe de atender às expectativas de todos os que apontavam aquela Seleção Brasileira como uma das grandes favoritas ao título da Copa do Mundo da Alemanha. Por mais que se reconheça o valor dos jogadores ali presentes e de atuações até hoje inesquecíveis como as vitórias sobre a Alemanha e a Argentina na Copa das Confederações de 2005, a grande verdade é que toda essa celebração da Seleção Brasileira de 2006 como um time “imbatível” tem cara de saudosismo e de “caça likes”. Mas, afinal de contas, quais são as razões de tanto confete em cima de um time que não jogou tudo isso que se fala por aí?

Como bem observa o jornalista André Rocha (do UOL), é preciso contextualizar as coisas para entender que o período de futebol bem jogado foi muito menor do que eu e você estamos pensando. Tudo começa no dia 20 de maio de 2004, no famoso amistoso comemorativo do centenário da FIFA. Aquele em que Brasil e França jogaram com réplicas dos uniformes do passado. O empate sem gols acabaria marcado por um certo domínio da equipe de Zidane, Thuram, Henry e Trezeguet e pelo 4-3-1-2 adotado por Carlos Alberto Parreira. O desenho tático dava liberdade para Ronaldinho Gaúcho encostar em Ronaldo e exigia bastante de Kaká na movimentação por trás da dupla de ataque. Ao mesmo tempo, Juninho e Zé Roberto tentavam fazer a bola chegar na frente e superar a boa organização do escrete então comandado por Jacques Santini. O desempenho coletivo não era dos mais empolgantes e a Seleção Brasileira dependia demais das subidas de Cafu e Roberto Carlos ao ataque para ganhar amplitude e profundidade.

Parreira apostou num 4-3-1-2 na Seleção Brasileira no amistoso contra a França. O esquema liberava Ronaldinho Gaúcho e exigia bastante de Kaká na movimentação por trás dos atacantes.

A Seleção Brasileira seguiu jogando com esse losango no meio-campo durante boa parte das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006 até a vitória sobre o Peru por 1 a 0 no Serra Dourada. Com a entrada de Robinho no lugar de Juninho Pernambucano, Parreira começava a abandonar o 4-3-1-2 e adotava o 4-2-2-2 em algo bem próximo do “quadrado mágico” tão desejado pelo já veterano treinador. Apesar dos resultados serem satisfatórios e da Seleção Brasileira ter conquistado a Copa América de 2004 de maneira emocionante (sem a presença das suas grandes estrelas), o desempenho coletivo era mais burocrático do que empolgante. A goleada sobre o Paraguai por 4 a 1 no Beira-Rio teve Robinho, Kaká e Ronaldinho Gaúcho atrás de Adriano (Ronaldo não jogou a partida) se transformaria na base do que viria a seguir, na disputa da Copa das Confederações, um “ensaio geral” da Copa do Mundo da Alemanha dali a um ano.

Vitória por 3 a 0 sobre a Grécia, derrota para o México por 1 a 0 e empate em 2 a 2 com o Japão numa campanha muito mais irregular do que o necessário. Nas semifinais da competição, a Seleção Brasileira venceu a Alemanha por 3 a 2 e teve seu ponto mais alto na goleada sobre a Argentina por 4 a 1 na decisão da Copa das Confederações. Isso tudo Cicinho, Gilberto e Adriano nos lugares de Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. A chave estava na movimentação ofensiva. Adriano partida da direita para dentro e permitia que Kaká circulasse por todo o campo com muito mais liberdade. Ao mesmo tempo, Ronaldinho Gaúcho e Robinho se revezavam por dentro e pela esquerda. E todo o trabalho dos laterais Cicinho e Gilberto no apoio ao ataque e Zé Roberto firme na marcação (ao lado de Emerson) deixava o jogo da Seleção Brasileira mais fluido e mais homogêneo. Muito mais próximo do “joga bonito”, por assim dizer.

Na goleada sobre a Argentina, a Seleção Brasileira apostou num 4-2-3-1 com Robinho se movimentando bastante, Kaká circulando por toda a intermediária e Adriano decidindo no ataque.

A goleada sobre o Chile por 5 a 0 (com Robinho e Kaká armando o jogo para Adriano e Ronaldo) foi suficiente para empolgar a torcida e inflamar as principais mesas de debate da época com comparações exageradas com a Seleção de 1982 e até mesmo a de 1970. Mas foi a vitória por 3 a 0 sobre a Venezuela no Mangueirão (com Ronaldinho Gaúcho na vaga de Robinho) na última rodada das Eliminatórias que fez com que Carlos Alberto Parreira se convencesse de que havia encontrado o time titular ideal. Mesmo sem uma atuação de gala contra o antepenúltimo colocado. É óbvio que a preparação em Weggis (e toda a bagunça registrada pelas câmeras de TV), todo o desgaste de Ronaldinho Gaúcho com o título da Champions League, a queda de rendimento de Adriano (já tratado como “Imperador” desde antes da Copa das Confederações) e a péssima forma física de Ronaldo contribuíram para o fracasso daquela Seleção Brasileira.

Mas a grande verdade é que o “quadrado mágico” de Carlos Alberto Parreira engessou a equipe. Cafu (com 36 anos na época) e Roberto Carlos (com 33) já não tinham vitalidade suficiente para ir de uma linha de fundo a outra, abrir o campo e dar a profundidade necessária às jogadas de ataque da Seleção Brasileira. Zé Roberto ficava mais sobrecarregado se via obrigado a cobrir a enorme cratera aberta entre o meio-campo e o ataque, já que Kaká recebia a orientação de jogar mais aberto pela direita com Ronaldinho Gaúcho pelo lado oposto. Era nítido que a mobilidade de Robinho pelos lados do campo fazia muita falta na equipe. Com isso, o jogo brasileiro foi ficando enfadonho, chato e bastante previsível. Mesmo com tantas estrelas desfilando pelos gramados alemães. Os gols saíam muito mais na base da qualidade dos jogadores em campo do que na base do jogo coletivo. Esse era o grande problema daquela Seleção Brasileira.

O “quadrado mágico” de Parreira concentrava demais o jogo pelo meio, sobrecarregava a dupla de volantes e exigia demais dos já veteranos Cafu e Roberto Carlos. As atuações da Seleção Brasileira se tornavam mais burocráticas e previsíveis com a falta da mobilidade trazida por Robinho nos jogos anteriores. Foto: Reprodução / YouTube / FIFA TV

As atuações ruins contra Croácia e Austrália contrastaram com o bom desempenho contra o Japão comandado por Zico. Mas somente porque a Seleção Brasileira jogou mais solta com Cicinho e Gilberto nas laterais, Juninho Pernambucano no meio-campo e Robinho se juntando a Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo num 4-2-3-1 bem próximo daquele visto na Copa das Confederações. Adriano voltou contra Gana e o quarteto ofensivo só não ficou tão engessado por conta da grande atuação de Zé Roberto. Na partida contra a França, no entanto, Parreira (sem confiança no seu camisa 7) voltaria ao 4-3-1-2 do amistoso de 2004. Com Ribéry e Malouda em cima de Cafu e Roberto Carlos, Viera e Makélélé vigiando Kaká e Ronaldinho Gaúcho e Zidane circulando por todo o campo e humilhando quem quer que aparecesse à sua frente, a equipe de Raymond Domenech venceu o jogo por 1 a 0 com ampla justiça. Tanto que o único chute a gol da Seleção Brasileira na direção do gol de Barthez aconteceu apenas aos 45 minutos do segundo tempo.

Parreira retornou ao 4-3-1-2 na partida decisiva contra a França pelas quartas de final da Copa do Mundo e viu a Seleção Brasileira se transformar em presa fácil para a equipe de Zinedine Zidane. A equipe seguia engessada e pouco fez para evitar a derrota. Mesmo com Cicinho, Robinho e Adriano em campo no segundo tempo. Foto: Reprodução / YouTube / FIFA TV

Este que escreve compreende bem a memória afetiva que muitos torcedores possuem dessa Seleção Brasileira por conta dos nomes que estavam em campo e dos títulos conquistados entre o pentacampeonato em 2002 e a eliminação para a França quatro anos mais tarde. As consequências vieram na forma de um Dunga disciplinador e a cultura de “terra arrasada” que perdura até os nossos dias. Mesmo assim, ainda é extremamente complicado entender o culto e a onda de saudosismo criada em torno de uma equipe que tinha sim grandes nomes, mas que teve apenas lampejos do futebol que poderia apresentar. O jogo coletivo era muito pobre e dependia demais de atletas que já não entregavam o mesmo rendimento. Ao mesmo tempo, este colunista lembra muito bem que boa parte da imprensa esportiva daquele tempo pedia um “quinteto mágico” antes da Copa do Mundo, com Robinho se juntando a Ronaldo, Kaká, Adriano e Ronaldinho Gaúcho. Num dos maiores devaneios de quem forma a opinião esportiva desse país.

Difícil apontar um único culpado pelo fracasso da Seleção Brasileira “Joga Bonito”. Mas é possível dizer que o grande legado dessa equipe está nas palavras de Cafu à TNT Sports Brasil (na época ainda chamada de Esporte Interativo) sobre o que teria ocorrido de errado com o escrete de Carlos Alberto Parreira na Alemanha. Lições valiosas deixadas por jogadores geniais, mas que não conseguiram formar um time coeso e à altura de tanto talento. Lições que foram solenemente ignoradas ao longo dos últimos anos.

FONTES DE PESQUISA:
Fracasso da seleção “Joga Bonito” em 2006 começou com ilusão no Mangueirão (André Rocha / UOL)
RSSSF Brasil – Arquivos da Seleção Brasileira
2016 FIFA World Cup Germany

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