França retoma o protagonismo com virada impressionante sobre a Espanha e o título da Liga das Nações da UEFA
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Didier Deschamps e Luís Enrique na emocionante partida deste domingo (10)
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Didier Deschamps e Luís Enrique na emocionante partida deste domingo (10)
Este que escreve já havia alertado em outras ocasiões que a França (apesar de todos os problemas e de algumas escolhas questionáveis de Didier Deschamps) ainda merecia muito respeito por parte dos seus adversários. Ainda que a atual campeã da Copa do Mundo tenha decepcionado na Eurocopa, o talento, a fibra e a intensidade ainda estavam lá. Uma mexida aqui e outra ali e Les Bleus mostraram sua força contra a Bélgica em virada emocionante e contra a Espanha de Luís Enrique, na partida que valeu o título da Liga das Nações da UEFA. E justamente em mais uma virada que teve a marca de Benzema, Griezmann, Mbappé e Pogba. Some isso tudo à intensidade e ao espírito altamente competitivo da equipe de Didier Deschamps (sem aquele ar meio “blasé” da Eurocopa) e teremos o “combo” perfeito para uma seleção que quer muito se manter no topo na Copa do Mundo de 2022. O protagonismo foi retomado com sucesso no San Siro com mais uma ótima atuação coletiva.
🆚| #EspanhaFrança 1-2
⚽️| Mikel Oyarzabal
⚽️| Karim Benzema e Kylian Mbappé
——
📊 Estatísticas:📈 Posse: 64% – 36%
👟 Finalizações: 12 – 12
✅ Finalizações no gol: 4 – 5
🛠 Grandes chances: 0 – 1
☑️ Passes certos: 534 – 276💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/QFyMnCl71y
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) October 10, 2021
Mas é preciso dizer que Espanha e França fizeram um primeiro tempo muito abaixo das expectativas. A impressão deste colunista é a de que as duas equipes pareciam mais preocupadas em se estudar e em não cometer falhas defensivas. Luís Enrique repetiu seu 4-3-3, mas com algumas pequenas modificações. Oyazarbal jogou mais por dentro, Ferran Torres e Sarabia pelos lados e Rodri se juntou a Busquetes e Gavi no meio-campo. Já a França entrou em campo armada no mesmo 3-4-1-2 da vitória sobre a Bélgica. Tchouaméni substituiu Rabiot na proteção da defesa e Kimpembe substituiu Lucas Hernández no trio de zagueiros. Apesar da postura mais ofensiva das duas seleções, o único lance de algum perigo nesse primeiro tempo foi uma arrancada de Benzema pela direita e só. Muito estudo, muitos passes no meio-campo e pouca agressividade de espanhóis e franceses. O time de Luís Enrique foi ligeiramente melhor do que o de Didier Deschamps, mas nada de muito especial.
Acabou que a emoção ficou reservada para o segundo tempo. Principalmente com as chances desperdiçadas por Sarabia, Mbappé e Theo Hernández. Aos 18 minutos, Oyazarbal ganhou de Upamecano (substituto de Varane) e chutou cruzado, sem defesa para Lloris. A França demorou apenas dois minutos para igualar o placar no San Siro em contra-ataque de manual puxado por Griezmann pela direita. O atacante do Atlético de Madrid acionou Pogba no meio-campo e o camisa 6 viu Mbappé se lançando em diagonal no lado esquerdo. Do jogador do Paris Saint-Germain para Benzema, que tirou dois zagueiros espanhóis antes de acertar o ângulo esquerdo de Unai Simón. Golaço que teve a marca de um dos melhores centroavantes do mundo na atualidade e a execução quase perfeita dos movimentos do 3-4-1-2 de Didier Deschamps. Amplitude, profundidade, intensidade para abrir espaços e ocupá-los com inteligência. Características de uma seleção muito bem organizada taticamente.
A grande polêmica da noite acabaria sendo o gol marcado por Mbappé aos 34 minutos do segundo tempo. O lance gerou bastante discussão por conta da posição do camisa 10 no momento do passe de Theo Hernández, claramente flagrado em posição de impedimento (um pouco à frente do zagueiro Eric García). Deixo abaixo a explicação do comentarista de arbitragem do Carrusel Deportivo, Eduardo Iturralde. No momento do passe, o camisa 12 da Espanha cai no chão e toca na bola. Notem aqui que a posição de Mbappé CONDICIONA a ação de Eric García no momento do passe de Theo Hernández e não INTERFERE no lance do segundo gol da França. E como já comentado amplamente por quem entende das nuances das regras do velho e rude esporte bretão, estar em posição de impendimento não significa ESTAR impedido. Mbappé não disputa a bola diretamente com Eric García e nem afeta sua capacidade de jogar ou de tentar cortar o passe. Não há interferência no lance.
‼️🔊 @Itu_Edu, sobre el gol de Mbappé:
💭 "Eric se tira al suelo para intentar despejar. Si la toca, es gol. Si va al suelo y la toca, habilita, porque él intenta despejar"
👀 "Mbappé no interfiere en el despeje, lo que hace es condicionarlo. El reglamento habla de interferir" pic.twitter.com/nbKzdHUMOS
— Carrusel Deportivo (@carrusel) October 10, 2021
Sarabia já havia deixado o jogo para a entrada do meia Yéremi Pino antes mesmo do gol de Benzema. E logo depois de sofrer o gol de empate, Luís Enrique sacou o jovem Gavi e mandou Koke para o campo. Logo depois, Merino e Fornals entraram nos lugares de Ferran Torres e Rodri. Didier Deschamps respondeu com Dubuois e Veretout nas vagas de Pavard e Griezmann para fechar a sua França numa linha de cinco na frente da área. Os minutos finais da partida no San Siro acabaram consagrando o goleiro Lloris, que salvou Les Bleus com duas defesas de cinema (em chutes à queima roupa desferidos por Oyazarbal e Pino). A essa altura, a equipe de Luís Enrique mais levantava bolas na área francesa do que trabalhava a bola pelo chão. Até mesmo Unai Simón foi se aventurar no ataque para tentar o gol que levaria a decisão da Liga das Nações para a prorrogação, mas sem sucesso. A França permaneceu firme na defesa e segurou o resultado até o apito final.
A campanha frustrante na Eurocopa deixou muita gente com dúvidas sobre o nível de competitividade da França de Didier Deschamps e sobre onde essa equipe poderia (e queria) chegar. É claro que o trio que fez a diferença na Copa do Mundo da Rússia (Pogba, Griezmann e Mbappé) ganhou muito mais qualidade com a presença de Benzema. Mas fato é que Les Bleus parecem estar num patamar acima dos grandes rivais no Velho Continente. Principalmente quando resolvem colocar mais intensidade nos movimentos e aumenta a concentração defensiva. Quem tem jogadores do nível dos citados pode resolver situações complicadas com dosi ou três toques na bola. Ao mesmo tempo, a rejuvenescida Espanha de Luís Enrique também merece crédito. Alguns jovens como Ferran Torres, Oyazarbal, Gavi e Sarabia podem dar muitos frutos num futuro próximo. E chegar numa semifinal de Eurocopa e em finais de Jogos Olímpicos e de Liga das Nações é um feito digno de nota e de aplausos.
A França retoma o protagonismo no momento certo e responde às críticas com bom futebol e imposição do seu estilo diante de adversários poderosos. Mas talvez a grande boa nova da equipe de Didier Deschamps seja o fato de que o ar mais blasé parece ter ficado para trás. E quem tem jogadores do nível de Mbappé, Benzema, Pogba, Griezmann, Lloris e Varane não pode almejar outra coisa senão o topo do mundo. As viradas emocionantes sobre Bélgica e Espanha estão aí para provar essa tese.
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