Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Vanderlei Luxemburgo e Felipe Conceição no animado jogo desta quinta-feira (28)
Essa fase terrível do Cruzeiro não começou hoje. A equipe não corresponde dentro de campo há tempos e sofre demais a influência de todo o caos financeiro e administrativo fora dele causado pelo rebaixamento em 2019. A derrota (justa) por 3 a 1 para o Remo nesta quinta-feira (28) na Arena Independência é mais um capítulo da passagem da Raposa por uma espécie de purgatório. Em dois anos na Série B, o escrete celeste não conseguiu aparecer no G4 nenhuma vez e parece ainda não ter entendido o contexto no qual está inserido. E como consequência, faz seu torcedor sofrer com atuações ruins nas partidas da competição. E olha que o Leão da Amazônia nem fez uma partida tão correta assim. Bem longe disso. O time de Felipe Conceição deixou espaços na sua defesa e sofreu com o ímpeto ofensivo do seu adversário. No entanto, foi muito feliz nas conclusões a gol e aproveitou o desespero e a falta de concentração dos jogadores nos minutos finais. Retrato quase perfeito do que vem sendo o Cruzeiro nesses últimos meses.
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A primeira etapa teve domínio celeste com o 4-2-3-1 de Vanderlei Luxemburgo empurrando o Remo para seu campo e explorando bem os lados do campo com as subidas constantes de Rômulo e Felipe Augusto para ganhar amplitude e profundidade nas jogadas de ataque. O Cruzeiro chegava, mas faltava contundência para superar a última linha do Remo. Tanto que as melhores chances da Raposa saíram de chutes de média distância de Vítor Leque e Thiago bem defendidos pelo goleiro Thiago Coelho. A equipe de Felipe Conceição, por sua vez, tentava conduzir a bola ao ataque, mas sofria com a marcação frouxa no meio e com Felipe Gedoz mais isolado no ataque, já que Arthur e Matheus Oliveira meio que se revezavam no posicionamento à direta e por dentro. Além disso, Thiago Ennes e Raimar subiam pouco e os volantes Anderson Uchoa e Siqueira encontravam certa dificuldade na saída de bola. O cenário estava todo favorável ao Cruzeiro de Vanderlei Luxembugo. Faltava, como dissemos anteriormente, aprimoramento e intensidade nas trocas de passe.
Apesar do Cruzeiro ter mais a posse da bola e buscar mais o ataque (ainda que sem muito sucesso), quem abriu o placar foi o Remo, com um belo gol de Anderson Uchoa em sobra de cobrança de escanteio aos 39 minutos da primeira etapa. Aos 45, Eduardo Brock empatou para a Raposa (em lance revisado pelo VAR). A reação rápida depois do adversário abrir o placar pouco antes do intervalo poderia até dar a confiança que o escrete de Vanderlei Luxemburgo precisava para finalmente conquistar a vitória que tanto precisava. No entanto, o cenário da partida não mudou muito no segundo tempo. O Remo tentava se fechar na defesa para ganhar espaço e encaixar o contra-ataque em alta velocidade, mas esbarrava nas próprias deficiências e nos problemas de compactação entre as suas linhas. O Cruzeiro ganhou fôlego novo e experiência com as entradas de Marcelo Moreno, Wellington Nem e Rafael Sóbis, mas voltou a repetir os erros da primeira etapa e ia perdendo força ofensiva e confiança conforme o tempo ia passando.
Conforme o tempo ia passando, o nervosismo do Cruzeiro aumentava junto com a desorganização tática dos jogadores em campo. Vanderlei Luxemburgo ainda tentou dar mais uma cartada com a entrada de Dudu no lugar de Vítor Leque num momento em que o escrete celeste já jogava numa espécie de 4-3-3/4-2-4 conforme o posicionamento de Wellington Nem (muito mais meia de criação do que o ponta veloz que foi nos tempos de Fluminense). O problema é que isso abriu ainda mais espaços na frente da última linha da Raposa. Aos 42 minutos, Lucas Siqueira encontrou Jeferson na entrada da área. O camisa 17 do Leão da Amazônia teve tempo de dominar e chutar rasteiro. Fábio ainda chegou a tocar na bola, mas ela ainda bateu na trave antes de entrar. E aos 47 minutos viria o golpe fatal: Marcos Júnior lança Ronald às costas de Rômulo. Ele avança sem problemas até chutar cruzado e marcar o terceiro do Remo. Notem que os lances nasceram de dois contra-ataques concedidos pelo Cruzeiro e pela pressão frouxa da equipe depois de perder a posse.
A derrota (justa) para o Remo jogou o Cruzeiro para a 13ª posição na tabela do Campeonato Brasileiro da Série B. Com 39 pontos, a Raposa está a sete pontos do Z4 e a catorze do G4 com seis rodadas para o fim da competição. Difícil acreditar numa reação do escrete de Vanderlei Luxemburgo diante do futebol apresentado nas últimas partidas (principalmente quando joga nos seus domínios) e de tudo aquilo que sabemos dos bastidores do clube. O elenco celeste tem jogadores de qualidade, mas a impressão que fica é a de que o extracampo e as apostas erradas dos dirigentes minaram qualquer chance de acesso do Cruzeiro. Enquanto isso, o Remo teve atuação apenas razoável, mas se adaptou rápido ao contexto e foi premiado com dois gols nos minutos finais. E por mais que as lesões e suspensões no elenco ainda prejudiquem demais o trabalho de Felipe Conceição, o Leão da Amazônia fez uma Série B muito acima das expectativas. Ainda mais num cenário que envolveu a pandemia do novo coronavírus e a ausência do público nos estádios.
Certo é que o Cruzeiro terá que repensar muita coisa para 2022. Com ou sem Vanderlei Luxemburgo. A começar pela montagem do elenco e por uma estrutura financeira que consiga minimamente cumprir seus compromissos com jogadores e funcionários. Este que escreve compreende bem o fato de que o caos era imenso e que o estrago é gigantesco. Mas faltou sim mais jogo de cintura por parte da diretoria no planejamento para a atual temporada. Vide a rotatividade dos atletas e dos treinadores apenas em 2021. Difícil trabalhar e jogar futebol assim.
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