Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o time de Arthur Elias superou a retranca imposta por Roberta Batista nas Guerreiras Grenás
Muito se tem falado sobre o grande número de times que adotam posturas mais reativas e enchem o campo defensivo de jogadores. Há quem diga que o futebol (seja ele masculino ou feminino) está ficando mais “feio” e “previsível”. Este que escreve, no entanto, prefere ver apenas a adaptação de cada treinador (ou treinadora) ao contexto que cada partida tem. Foi mais ou menos esse o caso da partida deste domingo (31), na Arena Barueri. Roberta Batista mandou a Ferroviária a campo organizada num 5-2-3 com o claro objetivo de conter o ímpeto do Corinthians de Arthur Elias e, pelo menos, conquistar a vitória simples que levaria o confronto que valia vaga nas finais do Paulistão Feminino para a disputa de pênaltis. No entanto, Adriana, Vic Albuquerque, Gabi Zanotti e Diany (a melhor em campo na opinião deste que escreve) mostraram como é que se faz para superar ferrolhos e retrancas sem perder o equilíbrio e a concentração. Mais um feito de uma equipe que se acostumou a nos deixar maravilhados.
E assim foi o apito final, lá pertinho das brabas!
Partimos para mais uma final, Fiel! pic.twitter.com/zuTvpGAiLa
— Corinthians Futebol Feminino (@SCCPFutFeminino) October 31, 2021
Na prática, Roberta Batista repetiu a estratégia do jogo de ida, quando soltou mais Carol Tavares e Barrinha pelos lados do campo e apostou num 5-2-3 com Ana Alice, Gessica e Yasmin Cosmann formando o trio defensivo. Daiane e Rafa Mineira protegiam a linha de cinco e Raquel, Laryh e Suzane tentavam puxar os contra-ataques. O Corinthians, por sua vez, até que encontrava espaços na intermediária ofensiva, mas encontrou certa dificuldade para impor seu estilo nos primeiros minutos de jogo, visto que as Guerreiras Grenás competiam demais por cada pedaço do campo. Arthur Elias repetiu seu 4-4-2/4-2-4 extremamente móvel com Gabi Portilho abrindo o jogo pela direita, Vic Albuquerque dava profundidade e Adriana se circulava por todo o setor ofensivo. Ao mesmo tempo, Katiuscia aparecia por dentro e Yasmim fazia boa dupla com Tamires pela esquerda. Tudo para superar a retranca e o jogo mais reativo de uma Ferroviária bastante aplicada na marcação e que levava certo perigo ao gol de Natascha.
Na prática, bastou que Arthur Elias acertasse a marcação para que o Corinthians impusesse seu estilo de jogo e controlasse as ações dentro de campo. É verdade que Raquel desperdiçou chance incrível na frente de Natascha e que Rafa Mineira obrigou a camisa 97 do Timão a fazer boa defesa nos melhores lances da Ferroviária no primeiro tempo. Mas é aí que está o grande erro do time comandado por Roberta Batista: criar oportunidades de gol contra uma equipe tão qualificada e tão bem treinada como é a atual campeã brasileira e não colocar a bola na casinha é suicídio. Ou algo próximo. Isso porque Tamires, Yasmim e companhia já haviam dado a receita para superar a linha de cinco da Ferroviária. Aos 48 minutos da primeira etapa, Vic Albuquerque descola passe de cinema para Tamires, que vai até a linha de fundo e cruza na medida para Adriana acertar o ângulo da goleira Luciana (que já havia salvado a Ferroviária em pelo menos duas oportunidades). Atrair, gerar espaço e atacá-lo. Essa é a receita.
Com o cenário a seu favor, o Corinthians teve todo o segundo tempo para trabalhar a bola e construir a goleada sobre a Ferroviária. E como o time de Roberta Batista teve que sair mais para tentar a virada (e levar o confronto para a disputa de pênaltis), os espaços apareceram e o quarteto ofensivo do Timão ganhou o “reforço” de Diany e seus lançamentos precisos e dignos de nota em qualquer enciclopédia do velho e rude esporte bretão. Logo aos cinco minutos da segunda etapa, a camisa 8 encontrou Gabi Portilho na direita no início do lance do segundo gol corintiano (marcado por Gabi Zanotti) e ainda deu aquela “fatiada” de manual para Vic Albuquerque marcar o terceiro (aos 23 minutos). Ainda que as Guerreiras Grenás tenham reagido com Carol Tavares aproveitando falha da goleira Natascha, o Timão manteve o ritmo de jogo intenso mesmo com as substituições promovidas por Arthur Elias e viu Adriana fechar o placar na Arena Barueri cobrando penalidade de Luciana em Miriã aos 47 minutos do segundo tempo.
O Corinthians chega em mais uma decisão e coleciona mais uma grande atuação coletiva. Por mais que Gabi Zanotti, Vic Albuquerque e Adriana sejam espetaculares com e sem a bola, a equipe como um todo sabe muito bem como, quando e o que fazer com a bola. Embora seu trabalho ainda esteja no início, Roberta Batista já conseguiu implementar algumas boas ideias na Ferroviária e um estilo mais combativo em todos os setores. Na prática, ela fez com que as Guerreiras Grenás competissem bastante no primeiro tempo e até igualassem o jogo em determinados momentos. Sem exagero. E também precisamos reconhecer que bater de frente com o Timão não é tarefa fácil. Faltou, no entanto, capricho no último passe, sorte nas conclusões a gol e concentração para fazer os movimentos defensivos da maneira mais correta. E desperdiçar chances contra essa equipe é fatal. Ainda mais sabendo que, mesmo com a retranca e a linha de cinco, o volume de jogo do Corinthians continuava muito grande. É muito difícil segurar.
A goleada sobre a Ferroviária nos mostrou um Corinthians que dava aulas de como se vencer uma retranca sem perder a calma e/ou apelar para bolas levantadas na área a esmo sem um mínimo de organização. Além disso, também deixou claro que Tamires e Yasmim formam uma das duplas mais fortes do futebol brasileiro. O lado esquerdo do Timão dá inveja em muita gente com toda a certeza. Aqui no Brasil e em todo o continente sul-americano. E este que escreve só gostaria de ver essas duas reeditando essas jogadas na Seleção Brasileira. Alô, Pia!
CONFIRA OUTRAS ANÁLISES DA COLUNA PAPO TÁTICO: