Home Futebol Incrível reação diante da Bélgica é a prova de que a França ainda merece (e impõe) muito respeito

Incrível reação diante da Bélgica é a prova de que a França ainda merece (e impõe) muito respeito

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Didier Deschamps e Roberto Martínez e explica como Mbappé desequilibrou o jogo em Turim

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Didier Deschamps e Roberto Martínez e explica como Mbappé desequilibrou o jogo em Turim

A França é o tipo de seleção que desperta uma vasta gama de sentimentos contraditórios neste que escreve. Uma equipe que conta com nomes como Pogba, Mbappé, Benzema e Griezmann pode e deve jogar muito mais do que vem jogando. Ao mesmo tempo, justamente por conta dos jogadores citados, ela deixa a certeza de que nenhum problema parece impossível de ser superado. O jogaço desta quinta-feira (7), em Turim, também comprova a tese de que os Bleus ainda merecem e impõem respeito demais nos seus adversários. O primeiro tempo horrível diante da sempre perigosa Bélgica de Lukaku, Hazard e De Bruyne deu lugar a uma segunda etapa de muita intensidade, pressão pós-perda e muita organização ofensiva por parte dos comandados de Didier Deschamps. Principalmente por conta (ainda) jovem Kylian Mbappé, o grande responsável por colocar a França na final da Liga das Nações da UEFA com um gol, uma assistência e uma atuação absurda na vitória épica sobre os belgas.

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É preciso dizer, no entanto, que a França simplesmente não entrou em campo nos primeiros quarenta e cinco minutos. A equipe parecia até meio apática diante da maneira como a Bélgica conseguia ocupar espaços na frente da área do goleiro Lloris e como De Bruyne conseguia encontrar Lukaku com facilidade no meio da linha de cinco francesa. Nesse aspecto, o modo como os dois treinadores organizaram suas equipes merece destaque. Didier Deschamps apostou num 3-4-1-2 com Griezmann um pouco mais recuado em relação a Benzema e Mbappé. Do lado da Bélgica, Roberto Martínez mantinha seu 3-4-2-1 costumeiro onde Hazard e De Bruyne buscavam mais o jogo por dentro e abriam o corredor para as subidas de Castagne e Carrasco para o ataque como verdadeiros pontas. Ao mesmo tempo, Lukaku arrastava consigo pelo menos dois defensores e fazia com que sua equipe sempre chegasse no terço final com vantagem numérica. Pogba e Rabiot eram facilmente superados nos duelos por dentro.

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De Bruyne e Hazard buscavam mais o jogo por dentro, abriam o corredor para a subida dos alas e sempre procuravam Lukaku nos espaços da linha de cinco da França. A Bélgica aproveitou bastante a inércia do escrete de Didier Deschamps nesse primeiro tempo em Turim. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports

Estava claro que o problema da França residia na postura da equipe e no fato dela ter “aceitado” a marcação da Bélgica sem tentar algo “fora da caixinha”. E os gols de Carrasco e Lukaku (em bolas até certo ponto defensáveis para o goleiro Lloris) fizeram com que Didier Deschamps incendiasse sua equipe no intervalo. Tanto que a atitude foi muito diferente na etapa final. Muito por conta do modo como Mbappé encontrou seu lugar no ataque francês. O camisa 10 passou a se movimentar não tanto pelo lado, mas a partir do espaço entre as alas e os zagueiros da Bélgica, sempre procurando Benzema ou partindo para a jogada individual, o drible que bagunça as linhas adversárias e quebra as linhas. Ao mesmo tempo, Pogba, Rabiot e Griezmann subiram a pressão em cima de Witsel e de Tielemans e congestionaram o setor preferido de Hazard e De Bruyne. Mas essa mudança de postura começou com Mbappé chamando a responsabilidade e partindo pra cima da defesa belga.

Aos 16 minutos da segunda etapa, Mbappé apareceu pela esquerda e iniciou a jogada do gol de Benzema. Minutos antes, o camisa 10 dos Bleus havia recebido passe no lado direito e partiu na direção da linha de fundo. Nesse mesmo momento, Griezmann e Pavard apareciam por dentro e Benzema buscava o espaço às costas de Castagne e Alderweireld pelo lado esquerdo. Muita intensidade nos movimentos, atenção nos espaços abertos pela movimentação dos atacantes e muita personalidade do trio ofensivo da França para vencer uma partida que já era dada como perdida por muita gente. O próprio Mbappé converteu a penalidade (marcada com o auxílio do VAR) que igualou o placar e Theo Hernández marcou o gol da virada e da classificação para a final da Liga das Nações com um belo chute da entrada da área. Mas tudo começou com o jovem atacante chamando a responsabilidade e colocando a sua França para jogar na sua rotação. Pogba, Benzema, todos cresceram de produção junto com o camisa 10.

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Mbappé foi fundamental no segundo tempo primoroso da França em Turim. O camisa 10 buscou a linha de fundo, bagunçou as linhas adversárias e foi extremamente preciso nas tomadas de decisão. Se a virada sobre a Bélgica veio, muito se deve ao atacante do Paris Saint-Germain. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports

Os tais sentimentos contraditórios deste colunista com relação ao escrete comandado por Didier Deschamps não cessaram com a virada épica sobre uma Bélgica que ainda busca seu primeiro título de expressão no cenário mundial. Justamente por ter perfeita noção do potencial de Mbappé, Benzema, Griezmann e vários outros jogadores do escrete francês. Do mesmo modo, a sensação que ficou da atuação da equipe de Roberto Martínez é a de que, apesar do grande talento da “promissora geração belga”, ainda falta um título de expressão. Sempre falta aquele “algo a mais” em jogos grandes. Foi assim na Rússia (em 2018) e na disputa da Eurocopa ainda nesse ano. É bem possível que a Copa do Mundo de 2022 seja a última chance da grande maioria desses jogadores. Por outro lado, não será nem um pouco fácil superar a desconfiança e as críticas depois de tantas campanhas frustrantes nessas últimas sete temporadas. Ainda mais quando outras “ótimas” gerações vão surgindo em outras seleções.

A França voltou a mostrar a sua força numa virada épica. E por mais que o trabalho de Didier Deschamps mereça ser criticado (por causa do excesso de pragmatismo e pela falta de alternativas táticas em partidas decisivas), Mbappé, Benzema, Griezmann e Pogba têm potencial para desequilibrar qualquer partida e qualquer sistema defensivo que apareça na frente deles. Por mais que os Bleus baseiem seu jogo no talento individual dos nomes citados acima, eles ainda merecem muito respeito. Não chegaram aonde chegaram por obra do acaso.

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