Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Tite e a atuação da sua equipe na vitória sobre o Peru nesta quinta-feira (9)
A vitória tranquila sobre o Peru manteve os 100% de aproveitamento da Seleção Brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo. São 24 pontos em oito rodadas, com 19 gols marcados (média de 2,3 por partida) e apenas dois sofridos. Ainda que a equipe comandada por Tite não jogue um futebol empolgante (bem longe disso), a superioridade do escrete canarinho diante de seus adversários na América do Sul (com a exceção da Argentina de Messi) é facilmente comprovada pelos resultados acima. Mesmo assim, o jogo desta quinta-feira (9) na Arena Pernambuco trouxe ótimas notícias. A principal delas é, sem qualquer sombra de dúvida, Everton Ribeiro. O jogador do Flamengo foi o que melhor aproveitou as chances que teve na Seleção Brasileira e se transformou na referência criativa de um meio-campo que lembrou bastante a formação utilizada nos anos 1990, com dois volantes e dois meias se movimentando por dentro. A equipe ganhou volume de jogo sem perder consistência defensiva.
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Tite manteve a equipe que iniciou a partida contra a Argentina antes da interrupção (correta) da mesma pelos agentes da ANVISA. Na prática, o escrete canarinho se organizava num 4-1-3-2 com Gerson mais adiantado em relação a Casemiro, Everton Ribeiro e Lucas Paquetá mais pelos lados (mas centralizando e abrindo o corredor para as descidas de Danilo e Alex Sandro) e Gabigol junto a Neymar na dupla (móvel) de ataque. Toda essa movimentação dos jogadores diante de um Peru que concedia espaços demais entre o meio-campo e a sua última linha fazia com que a Seleção Brasileira variasse a formação para um 4-4-2, um 4-2-2-2 e até mesmo um 4-2-4 em determinados momentos. Mas tudo com muito volume de jogo, intensidade nos movimentos ofensivos e sem deixar a defesa desprotegida. Ainda que o futebol apresentado na Arena Pernambuco não fosse dos mais empolgantes, a equipe comandada por Tite mantinha o nível de competitividade alto e encontrava soluções rápidas para cada situação do jogo.
Com Gerson mais avançado, Tite organizou a Seleção Brasileira num 4-1-3-2 que contava com Lucas Paquetá e Everton Ribeiro servindo Neymar e Gabigol na dupla de ataque. A equipe ganhou volume de jogo e explorou bem os espaços concedidos pelo seu adversário. Foto: Reprodução / TV Globo / GE
Se o Peru marcava mais forte e vigiava Neymar de perto, a Seleção Brasileira tinha Everton Ribeiro. E não é exagero nenhum afirmar que o camisa 11 foi o melhor em campo. Ótima leitura dos espaços, muita movimentação para encontrar o melhor posicionamento, boa distribuição de passes no meio e tormento constante para a defesa adversária. Além do gol marcado logo aos 13 minutos de partida, Everton Ribeiro também foi importante na defesa ao fechar o lado direito do meio-campo e ainda liberar Danilo para as suas boas subidas à linha de fundo. É difícil dizer se o meio-campo do Flamengo finalmente conquistou uma vaga no time titular até por conta da ausência dos atletas que jogam no futebol inglês (mais acostumados ao volume de jogo quase insano das ligas europeias). Mas certo é que ele ganhou pontos com Tite ao se transformar no principal polo de criatividade da Seleção Brasileira e descomplicar as coisas para a equipe com muita facilidade. Foi assim contra o Chile e agora contra o Peru.
Everton Ribeiro se transformou na principal referência criativa da Seleção Brasileira na partida contra o Peru. Abria o corredor para as subidas de Danilo, distribuía bem o jogo no meio-campo e sempre se projetava no espaço para receber a bola. Ótima atuação. Foto: Reprodução / TV Globo / GE
Com a boa atuação de Everton Ribeiro, o futebol de Gerson, Lucas Paquetá, Gabigol e Neymar também apareceu e a Seleção Brasileira não teve muitos problemas para superar o escrete peruano. O segundo gol (marcado aos 39 minutos do primeiro tempo) teve a participação de quase todos os jogadores e praticamente selou a vitória. Tanto que a segunda etapa ficou marcada pelas chances desperdiçadas por Neymar, Matheus Cunha, Gabigol e Hulk e pelos testes realizados por Tite. Mas se o volume de jogo apareceu e Everton Ribeiro foi importantíssimo nesse aspecto, também precisamos falar da já conhecida consistência defensiva. Mesmo com a melhora no desempenho da Seleção Peruana após as mexidas de Ricardo Gareca, a equipe brasileira pouco sofreu por conta da maneira como ela fecha espaços na frente da área. E mesmo com Gerson em campo (jogador que tem certas dificuldades para fazer esse balanço defensivo), o Brasil conseguiu conter os avanços do Peru com bom posicionamento e concentração.
Com a vantagem no placar, a Seleção Brasileira não deu chances ao Peru e fechou bem os espaços com duas linhas na frente da área e muita compactação. As únicas chances do escrete comandado por Ricardo Gareca saíram de chutes de média e longa distância. Foto: Reprodução / TV Globo / GE
Além de Everton Ribeiro, outros jogadores se destacaram na vitória sobre o Peru. Lucas Paquetá parece cada vez mais adaptado aos conceitos de Tite e foi muito bem jogando no lado esquerdo do meio-campo marcando e criando com a mesma desenvoltura e consistência. E se falamos do sistema defensivo, também precisamos falar de Éder Militão e Lucas Veríssimo. O zagueiro do Real Madrid manteve o nível (altíssimo) das suas atuações mudando de lado e vencendo quase todos os duelos por baixo e pelo alto. Já o defensor do Benfica de Jorge Jesus mostrou que tem condições de brigar por uma vaga no grupo que estará na Copa do Mundo daqui a pouco mais de um ano. Ótimo posicionamento, boa visão de jogo nos passes por baixo e muita atenção nas bolas aéreas. Gerson foi outro que recebeu chance valiosa na Seleção Brasileira, mas esteve abaixo do que já produziu com a camisa do Flamengo. Mesmo assim, cumpriu função tática importante e distribuiu bem o jogo no meio-campo.
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Nada, no entanto, que diminua o bom desempenho da Seleção Brasileira contra um adversário que pouco incomodou a equipe nos noventa e poucos minutos de partida na Arena Pernambuco. O volume de jogo segue muito alto, a consistência defensiva segue como principal característica do escrete canarinho e Everton Ribeiro surge como ótima opção para dar mais criatividade no meio-campo. Ainda que o calendário e o contexto impeçam amistosos contra seleções do primeiro escalão mundial, ponto que seria fundamental para se tera percepção mais precisa do trabalho de Tite, é preciso dizer que seus comandados parecem ter comprado seus conceitos integralmente. Ao mesmo tempo, também é possível afirmar que o grupo está praticamente fechado para a disputa da Copa do Mundo com poucas vagas sobrando no elenco. Lucas Veríssimo, Everton Ribeiro, Gerson e vários outros podem ter ganhado pontos com o treinador da Seleção Brasileira, mas fato é que muita coisa ainda pode acontecer até o ano que vem.
Este que escreve só gostaria de ver Neymar jogando mais para o time do que para ele mesmo. Por mais que o camisa 10 ainda seja o principal jogador e a grande referência técnica da Seleção Brasileira, não é de hoje que ele vem errando demais nas tomadas de decisão e pecando pelo individualismo nos jogos da equipe comandada por Tite. Se a postura mudar, podem ter a certeza de que o escrete canarinho vai dar um salto de qualidade como nunca visto nesses últimos anos. Mas Neymar precisa QUERER fazer parte do time e não ser o dono dele.
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