Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as dificuldades de Mauricio Pochettino em encontrar o equilíbrio e a melhor formação para o PSG
Corria o ano de 1985 quando Vicente Matheus (então presidente do Corinthians) usou o dinheiro da venda de Sócrates para a Fiorentina para contratar uma série de reforços. Zenon, Dunga, Casagrande, Carlos, Édson Boaro, João Paulo, Hugo de León, Serginho Chulapa e vários outros formaram aquela que ficaria conhecida como a “Seleção de Papel”, um time que prometia demais na teoria, mas que entregou pouco dentro de campo. Equipes “galácticas” que não funcionaram conforme o esperado existem aos montes. E esse parece ser o grande receio do Paris Saint-Germain com a chegada tantos reforços estrelados. Parece óbvio, mas encaixar tantos talentos onde só cabem onze jogadores, administrar os egos inflados dos atletas e ainda dar equilíbrio ao time não é uma tarefa das mais fáceis. É nesse ponto que residem as grandes dificuldades de Mauricio Pochettino na montagem desse novo PSG. Achar lugar para Messi, Mbappé, Neymar, Di María sem que ela perca o equilíbrio é muito mais complicado do que parece.
Virada sobre o Lyon não esconde atuação ruim do Paris Saint-Germain e nem as escolhas ruins de Mauricio Pochettino – https://t.co/GKuZCKQqoE pic.twitter.com/luO0Sk71Tv
— Torcedores.com (@Torcedorescom) September 20, 2021
A partida contra o Lyon (cuja análise pode ser lida no tweet acima) nos mostrou um Paris Saint-Germain ainda bastante desorganizado e que não aproveitava da melhor maneira os talentos que possui. Tanto que este que escreve chamou a atenção para os erros de Mauricio Pochettino na distribuição do seu “quarteto mágico” em campo. A virada no último minuto e a lesão de Messi ajudaram o treinador argentino a ganhar tempo diante das críticas que vinham de todo o mundo (sim, a corneta é geral e irrestrita). A partida contra o Metz já nos mostrou um Paris Saint-Germain diferente daquele que venceu o Lyon. Ao invés de um 4-2-3-1/4-2-4, algo bem próximo de um 4-3-1-2 bem típico do futebol argentino dos anos 1990. É daí que vemos a primeira grande dificuldade de Mauricio Pochettino. Neymar e Messi ocupam mais ou menos a mesma faixa do campo e um deles precisa participar do balanço defensivo ou pelo menos se alternar na função. E ainda existe Mbappé, jogador que precisa de espaço para atacar.
Sobre “mesma faixa do campo” entendam o espaço na frente da área, entre a última linha e os volantes adversários. Ainda que os dois partam de lados diferentes para dentro, Messi e Neymar mais se anularam do que se complementaram nesse início de temporada pelo Paris Saint-Germain. Isso porque o brasileiro (diferente do que Mauricio Pochettino fez na partida contra o Lyon) jogou mais aberto pela esquerda com o argentino vindo por dentro num 4-2-3-1 que mais desguarnecia a defesa do que pressionava seu adversário. E o grande problema estava na recomposição defensiva. O chamado “Trio MNM” pouco ajudava na perseguição aos adversários o que fazia com que o PSG passasse a impressão de jogar como uma equipe dos anos 1990 com três jogadores mais estáticos lá na frente. Com isso, apenas Di María voltava para fechar o meio-campo junto com os volantes. Isso pode ser suficiente para encarar a maioria dos adversários no Campeonato Francês. Mas não uma Liga dos Campeões da UEFA.
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Encontrar o equilíbrio entre os setores é fundamental para que todos os talentos do Paris Saint-Germain possam jogar aquilo que sabem. Uma primeira opção pode ser o mesmo 4-2-3-1 da vitória sobre o Lyon, mas com uma distribuição diferente dos jogadores. Messi e Neymar se revezariam entre o comando de ataque e a chamada “Zona 14” do campo (assunto de reportagem especial que vai sair em breve aqui na coluna PAPO TÁTICO). Sempre circulando bastante entre as linhas e abrindo o corredor para as chegadas de Mbappé e Di María ao ataque (como os pontas com os pés invertidos) e o apoio dos laterais Nuno Mendes e Hakimi. Mais atrás, Paredes e Gueye fariam a marcação na frente da zaga, mas também participariam das jogadas de ataque pisando na área e empurrando as defesas adversárias para trás. Essa formação (que pode variar para um 4-2-4) exige muita compactação e marcação mais alta por parte do PSG e pode ser uma alternativa interessante para Mauricio Pochettino nesse primeiro momento.
Neymar e Messi se revezariam entre o comando do ataque e a “Zona 14” do campo enquanto Di María e Mbappé exploram o corredor aberto pela movimentação dos dois craques entrando em diagonal na direção do gol. Esse 4-2-3-1/4-2-4 exigiria muita compactação, pressão forte na saída de bola adversária e intensidade dos jogadores do PSG.
Verratti é outro jogador que pode somar muito nesse novo e cada vez mais estrelado Paris Saint-Germain. Assim como Sergio Ramos. Ao que tudo indica, o ex-zagueiro do Real Madrid está em fase final de recuperação e pode voltar aos gramados em breve. Tendo em vista a características desses e de outros jogadores já citados anteriormente, uma opção interessante para Mauricio Pochettino pode ser o esquema com três zagueiros. Di María seria um ala pela esquerda enquanto Kimpembe (ou Diallo) o papel de “falso lateral” logo atrás do argentino. Mais à frente, Mbappé seria a referência do ataque, mas jogando da maneira que se sente mais confortável, entrando em diagonal e aproveitando os passes em profundidade de Messi e Neymar (que teriam liberdade para circular por todo o campo). Essa formação permite que o Paris Saint-Germain se organize num 5-3-2 ou num 4-4-2 em fase defensiva apenas movimentando seus jogadores no campo. É algo que pode dar muito certo com treino e boa execução.
A formação com três zagueiros pode ser uma boa alternativa para Mauricio Pochettino encaixar seus principais jogadores num time mais coeso e equilibrado. E o balanço defensivo pode ser feito num 5-3-2 com o recuo de Di María para a última linha ou com Kimpembe (ou Diallo) fazendo papel de falso lateral pelo lado esquerdo.
Seja como for, é necessário deixar bem claro que Mauricio Pochettino tem nas mãos ótimos jogadores (alguns deles de qualidade absurda) para fazer do PSG um time que bata de frente com as principais potências do continente. A síndrome de “Seleção de Papel” do Corinthians dos anos 1980, o “pior ataque do mundo” do Flamengo em 1995 e os “galácticos” do Real Madrid nos anos 2000 comprovam que uma equipe não será competitiva apenas com bons nomes no elenco. É preciso treino, equilíbrio entre os setores e entendimento mútuo entre atletas e comissão técnica além (é claro) da famosa gestão dos egos inflados dos mais estrelados. E Mauricio Pochettino sofrerá críticas e resistência dentro do elenco por qualquer escolha que venha a fazer, seja pela formação ou pelos nomes que possa deixar no banco de reservas. Quem está fora quer entrar e quem está dentro não quer sair. E fazer com que os jogadores cumpram o planejado durante os jogos será o grande desafio do treinador argentino.
E é aí que saímos do terreno das setas e dos campinhos para o terreno da gestão e relacionamento do elenco. Mostrar a Messi, Neymar e companhia que esse caminho é melhor do que o outro será a grande missão de Mauricio Pochettino num Paris Saint-Germain que mais lembra uma bomba relógio. Há como se questionar várias das escolhas do treinador do PSG, mas o contexto também precisa ser levado em consideração em cada análise. E encaixar tantos talentos num time onde só cabem onze não é nada fácil.
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