Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Renato Gaúcho na partida desta quarta-feira (22) pelas semifinais da Libertadores
Renato Gaúcho comandou o Flamengo em 18 partidas. São 15 vitórias, um empate e apenas duas derrotas (85,2% de aproveitamento), 52 gols marcados e 12 sofridos. Números excelentes quando se leva em consideração que esse recorte ainda pode ser considerado pequeno para uma análise mais profunda do seu trabalho à frente da equipe rubro-negra. Mas um ponto tem chamado a atenção deste que escreve e de boa parte dos torcedores. O jogo do Fla é muito mais baseado na qualidade individual de nomes como Everton Ribeiro, Willian Arão, Gabigol, Bruno Henrique e vários outros do que propriamente numa organização tática mais trabalhada e num estilo mais coletivo. Isso tudo ficou bem claro na vitória (importantíssima) sobre o Barcelona de Guayaquil por 2 a 0 nesta quarta-feira (22), no Maracanã. É lógico que Renato Gaúcho tem seus méritos e implementou conceitos bem visíveis no Flamengo. Mas ver como seus jogadores se comportam em campo ajuda a explicar algumas das escolhas do treinador rubro-negro.
Renato Gaúcho no @Flamengo:
⚔️ 18 jogos
✅ 15 vitórias (13 por +1 de gol de diferença)
📊 85.2% aproveitamento
⚽️ 52 gols pró
🚫 12 gols sofridos
🛠 68 grandes chances
🔓 20 grandes chances cedidas🔎 Virou o técnico com mais vitórias (49) na história da @LibertadoresBR! 👏👏 pic.twitter.com/yNr9ffJu9t
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) September 23, 2021
A falta de um jogo mais coletivo e de uma maior organização tática é uma das críticas que vem se tornando cada vez mais comum no meio da torcida. Mas vale lembrar que Renato Gaúcho jamais se vendeu como um estrategista. Sempre deixou claro que seu forte era a gestão do grupo. E esse elemento também é importantíssimo na tomada de decisões dentro de uma equipe de futebol. Ver o Flamengo recuando no segundo tempo para chamar seus adversários e jogar no contra-ataque é uma decisão de ordem mais tática que visa potencializar o talento de jogadores como Vitinho, Bruno Henrique, Michael e Gabigol que são muito bons quando têm espaço para jogar. Tudo faz parte da estratégia adotada pelo treinador. Para efeito de comparação, Rogério Ceni preferia ter uma estrutura mais fixa e sem tanta liberdade para que os atletas tomassem suas decisões dentro de campo. Não é melhor ou pior. É apenas diferente. E o fato é que existe uma forte ligação entre a gestão do grupo e a organização tática.
🆚| #FLAxBSC 2-0
⚽️| Bruno Henrique 2x
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📊 Estatísticas:📈 Posse: 66% – 34%
👟 Finalizações: 17 – 13
✅ Finalizações no gol: 6 – 5
🛠 Grandes chances: 6 – 0
☑️ Passes certos: 432 – 175💯 Notas SofaScore 👇 pic.twitter.com/LpbWymXF7n
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) September 23, 2021
Além disso, é importante perceber que o Barcelona de Guayaquil trouxe “problemas novos” para o Flamengo. O técnico Fabián Bustos armou sua equipe de modo a atacar o espaço às costas de Willian Arão e Andreas Pereira colocando até quatro jogadores para bater de frente com a linha defensiva rubro-negra. Era assim que a equipe equatoriana chegava com força ao ataque e levava certo perigo. Tanto que Diego Alves fez pelo menos três grandes defesas no início da partida. Mas o Flamengo também acelerava. Isla se lançava pelo lado direito, Renê ficava um pouco mais por dentro, David Luiz (o estreante da noite) se juntava a Willian Arão e Rodrigo Caio na saída de bola e Andreas Pereira mostrava muita qualidade no passe e na distribuição do jogo do meio-campo. Mais à frente, Everton Ribeiro ajudava a descomplicar as coisas no meio da defesa do Barcelona e acionava Vitinho, Gabigol e Bruno Henrique com passes açucarados em altíssima velocidade. Tudo dentro do 4-2-3-1 preferido e costumeiro de Renato Gaúcho.
Andreas Pereira distribuía bem o jogo no meio-campo e fazia a bola chegar no ataque dentro do 4-2-3-1 preferido de Renato Gaúcho. Mas o Flamengo teve problemas no início da partida com um Barcelona de Guayaquil organizado e bem treinado que forçava o jogo em cima da última linha do escrete rubro-negro.
Está mais do que claro que a maneira que o Flamengo joga é uma escolha do seu treinador. Como falado anteriormente, a gestão do grupo não está separada da organização tática. E se formos rever os gols do Flamengo, vamos perceber que há sim conceitos sendo trabalhados por Renato Gaúcho na sua equipe. A começar pela troca de posicionamento entre Gabigol e Vitinho e Andreas Pereira e Everton Ribeiro. Um vai buscar a bola e o outro avança. Tudo para desarrumar a defesa adversária e abrir os espaços tão procurados pelo treinador para potencializar o talento individual dos seus principais jogadores. No primeiro gol, por exemplo, Gabigol aparece pelo lado direito e vê Bruno Henrique atacando o espaço às costas do lateral Castillo. O camisa 27 se antecipa e cabeceia no canto esquerdo do goleiro Burrai. Ao mesmo tempo, o recuo do Flamengo antes do segundo gol era estratégico. Renato Gaúcho quer chamar o adversário para seu campo para explorar a velocidade dos seus atacantes. É simples.
Gabigol aparece pelo lado direito, Vitinho avança como referência no ataque e Bruno Henrique ataca o espaço às costas da defesa do Barcelona de Guayaquil. O primeiro gol do Flamengo traz alguns elementos táticos trabalhados por Renato Gaúcho. Imagens: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores
Com a expulsão do volante Molina no final do primeiro tempo, o Barcelona de Guayaquil trouxe outro elemento para a partida desta quarta-feira (22). Ao contrário do que a maioria da torcida esperava, o Flamengo não goleou seu adversário. Na verdade, a equipe de Renato Gaúcho encontrou algumas dificuldades para entrar na área adversária tocando a bola. A verdade é que já não havia tanto espaço, já que Fabián Bustos arrumou sua equipe numa espécie de 4-4-1 bastante compactado na intermediária. Ao mesmo tempo, o escrete rubro-negro diminuiu um pouco o ritmo e passou a tocar mais a bola no meio-campo e esperar o tempo passar. Ainda houve tempo para que o treinador rubro-negro testasse um 4-3-3 com as entradas de Thiago Maia e Matheuzinho nos lugares de Vitinho e Isla respectivamente e trazendo Andreas Pereira para jogar mais perto dos atacantes. A lamentar somente a tola expulsão de Léo Pereira nos minutos finais por conta de uma cotovelada no rosto de Léon num escanteio ofensivo.
Com um a menos, o Barcelona de Guayaquil se fechou numa espécie de 4-4-1 na frente da sua área e negou espaços ao Flamengo. O ímpeto ofensivo da equipe de Renato Gaúcho diminuiu um pouco e o time passou a tocar mais a bola no segundo tempo. Imagens: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores
Os números são os principais advogados de Renato Gaúcho no Flamengo. Mas a partida desta quarta-feira (22) deixou claro que seu jogo é quase todo baseado na qualidade individual dos seus jogadores. É óbvio que o encaixe das peças respeita uma lógica bem definida. David Luiz fez boa estreia e melhorou muito a saída de bola da equipe rubro-negra. Assim como Andreas Pereira mostrou que pode ser extremamente útil na ligação da defesa com o ataque. E isso sem falar no poder de decisão de Bruno Henrique e Diego Alves. O primeiro balançou as redes duas vezes e foi um tormento constante. O segundo evitou que o Flamengo fosse vazado e ainda orientou a defesa quando foi necessário. Há como evoluir coletivamente e potencializar ainda mais o talento individual dos seus jogadores, mas fato é que o escrete rubro-negro já trabalha elementos trazidos por Renato Gaúcho. Isso é bem claro para este que escreve. Ainda mais numa competição que exige tanto dos jogadores e comissões técnicas.
Mas é importante notar aqui que o que se vê em campo nada mais é do que fruto das decisões do treinador. E a gestão do grupo está diretamente ligada à organização tática e à maneira como uma equipe atua dentro de campo. Não há como separar uma coisa da outra. Renato Gaúcho tem qualidades e limitações como qualquer outro técnico do mundo e a maneira como ele pensa o futebol ficou bem clara nas últimas atuações do Flamengo. São escolhas. E elas trazem pontos positivos e negativos. É do jogo.
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