Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca o retorno do craque português ao Manchester United e o reencontro com Ole Gunnar Solskjaer
É possível afirmar sem nenhum medo de errar ou de parecer exagerado que o retorno de Cristiano Ronaldo ao Manchester United foi o grande acontecimento dessa janela de transferências internacionais. É verdade que o acerto de Messi com o Paris Saint-Germain também foi histórico, mas era algo que se desenhava por conta de todos os problemas financeiros e institucionais do Barcelona nesses últimos meses. A volta do português aos Red Devils era sim especulada, mas pegou todos de surpresa e ofuscou (um pouco) a negociação do argentino com o clube francês. Seja como for, o Manchester United parece ser o melhor lugar para Cristiano Ronaldo nesse momento pelo (ótimo) elenco à disposição do técnico Ole Gunnar Solskjaer, pela identificação com o clube e pela incrível sede de títulos que o camisa 7 ainda tem. Ambos parecem feitos um para o outro. E os adversários que se virem para segurar CR7 e os Red Devils.
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Cristiano Ronaldo volta ao Manchester United depois de doze anos longe do clube onde alcançou destaque internacional e conquistou o prêmio de melhor jogador do mundo pela primeira vez. Era mais “winger” do que atacante no time que contava com Ferdinand, Van der Sar, Gary Neville, Scholes, Giggs, Tévez, Wayne Rooney… E um norueguês já em fim de carreira chamado Ole Gunnar Solskjaer. O lendário Alex Ferguson viu no então jovem do Sporting Lisboa um potencial imenso e acertou a sua contratação no ano de 2003. Cristiano Ronaldo ainda não tinha dez por cento da fama que tem hoje, mas já era visto como craque em potencial pela imprensa inglesa e se encaixou como uma luva no tradicional 4-4-2 costumeiro do treinador escocês. Foi se aproximando da área adversária aos poucos e se tornando cada vez mais decisivo conforme os anos iam passando. Até finalmente escrever seu nome na história do Manchester United.
𝐈𝐂𝐎𝐍𝐈𝐂 ✨
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— Manchester United (@ManUtd) September 2, 2021
Há como se resgatar uma série de formações históricas dos Red Devils da primeira passagem de Cristiano Ronaldo. Talvez a mais clássica tenha sido a que disputou a final da Liga dos Campeões da UEFA de 2007/08 contra o Chelsea. Hargreves (volante de muita habilidade) foi escalado pelo lado direito com o objetivo de guardar mais sua posição na linha do meio-campo para permitir que Cristiano Ronaldo se transformasse num terceiro atacante se juntando a Tévez e Rooney. Também era comum ver o coreano Park Ji-sung exercendo função parecida em algo mais próximo de um 4-2-3-1 na final do Mundial de Clubes da FIFA em 2008 diante da LDU de Quito. Nesse mesmo ano, receberia da FIFA a sua primeira Bola de Ouro como o melhor jogador do planeta na temporada, dando início a uma verdadeira dinastia junto com Messi no futebol mundial. Foram anos de domínio dos dois até que Luka Modric levou o prêmio em 2018, após a Copa do Mundo.
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Mas estamos em 2021 e muita coisa mudou no Velho e Rude Esporte Bretão nesses últimos anos. Cristiano Ronaldo deixou de ser o “winger” preferido de Alex Ferguson, José Mourinho e vários outros grandes treinadores e se transformou num dos atacantes mais decisivos de todo o mundo. Natural que Ole Gunnar Solskjaer queira mantê-lo perto da área adversária no seu 4-2-3-1 saindo da esquerda para o meio logo à frente de Sancho, Bruno Fernandes (seu companheiro na Seleção de Portugal) e Pogba. Mais atrás, McTominay seria mantido ao lado de Fred para garantir a consistência defensiva e um mínimo de equilíbrio nos Red Devils. Essa formação reúne o melhor das duas versões de CR7: o jogador veloz que parte em direção do gol adversário em diagonal e a inteligência tática para abrir espaços para a chegada dos companheiros de equipe. E a ótima fase de Paul Pogba tende a elevar ainda mais o nível de jogo desse Manchester United.
Cristiano Ronaldo pode ser a referência ofensiva do 4-2-3-1 tradicional de Ole Gunnar Solskjaer saindo do lado para dentro para a finalização a gol. Pogba, Sancho e Bruno Fernandes formariam o trio de meias com os volantes Fred e McTominay na proteção da defesa.
Mas é preciso lembrar que uma das influências mais fortes de Ole Gunnar Solskjaer como treinador é, sem qualquer sombra de dúvida, Alex Ferguson e seu 4-4-2/4-4-1-1 lendário e quase imutável. Há como se pensar num resgate dessa formação num time ainda mais ofensivo do que o colocado acima com algumas poucas adaptações. Fred e Pogba formariam a dupla de volantes com Bruno Fernandes e Sancho jogando mais pelos lados. Mais à frente, Cristiano Ronaldo ficaria mais solto e buscando a entrada em diagonal na área adversária e contaria com a companhia de Cavani no setor. Esse é o tipo que precisa de mais treino e mais concentração dos jogadores para que a equipe não fique desequilibrada e sobrecarregue o (sólido) sistema defensivo do Manchester United. Ainda que Solskjaer adote um perfil mais pragmático do que ofensivo, esse 4-4-2 com inspirações em Ferguson pode ser uma ótima alternativa situações específicas de jogo.
Cavani e Cristiano Ronaldo têm condições de formarem uma dupla de ataque de respeito num 4-4-2/4-4-1-1 possível. O trabalho de Alex Ferguson é uma das inspirações de Ole Gunnar Solskjaer e pode servir de base para montar um Manchester United forte na defesa e agressivo no ataque.
Certo é que Cristiano Ronaldo traz consigo um certo “toque de midas”, uma capacidade de elevar o nível coletivo das equipes que defendeu ao longo dessas duas últimas décadas. É bem verdade que as arrancadas e a velocidade da sua primeira passagem pelo Manchester United não sejam mais as mesmas. No entanto, não parece que CR7 esteja pensando em encerrar sua carreira. Pelo menos não agora. Seus últimos anos na Juventus (ainda que a equipe italiana não tenha mostrado competitividade suficiente para ir longe na Liga dos Campeões da UEFA) mostraram um jogador que ainda tem sede de títulos e que está disposto a se superar mais e mais. É por isso que o retorno ao Manchester United foi tão impactante. Existe muito mais do que apenas questões afetivas nessa transação. Existe sim a vontade de elevar o nível do já altamente qualificado elenco dos Red Devils a níveis estratosféricos. E isso não é nenhum exagero.
A expectativa em torno de Cristiano Ronaldo será sempre alta em qualquer time que ele jogue, seja na Inglaterra, na Espanha, na Itália ou em Portugal. Isso ninguém discute. O reencontro com Solskjaer pode ajudar muito na readaptação do português no Manchester United e na busca pela formação que melhor encaixe as suas características. O que este que escreve tem certeza é que esse novo capítulo da carreira de CR7 pode ser tão ou mais vitorioso do que os anteriores. E que os Red Devils terão muitos motivos para sorrir daqui a algum tempo.
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