Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Jorge Jesus explorou os problemas da equipe de Ronald Koeman no jogo desta quarta-feira (29)
Quem acompanha o espaço aqui no TORCEDORES.COM já sabe que a fase tenebrosa do Barcelona não é surpresa para este que escreve. Individualmente, o elenco blaugrana tem sim bons nomes, mas ainda assim bem longe de qualquer disputa por títulos importantes (pelo menos em tese). A realidade é bastante diferente de dez anos atrás, quando o timaço comandado por Pep Guardiola (no banco de reservas) e Messi (dentro de campo) encantava o mundo. E a atuação do escrete catalão na derrota incontestável para o Benfica de Jorge Jesus comprova essa tese sem muito esforço argumentativo. Isso porque o ex-treinador do Flamengo soube muito bem como usar os problemas coletivos do Barcelona de Ronald Koeman a favor da sua equipe. Além dos três pontos conquistados (que colocaram os Encarnados na segunda posição do seu grupo na Liga dos Campeões), o resultado também representou a quebra de um longo jejum. Essa foi a primeira vitória do Benfica em cima do Barcelona em (incríveis) 60 anos.
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Mas a verdade é que a partida desta quarta-feira (29) não é simbólica apenas por conta do resultado final. Muita coisa foi escancarada a partir dos dois minutos de partida. Weigl roubou a bola no meio-campo e lançou Darwin Núñez pela esquerda. O uruguaio passou como quis por Eric García e chutou no canto direito de Ter Stegen. O primeiro gol do Benfica acabou condicionando o restante da partida, é verdade. Mas também deixou bem claro que o Barcelona sofre com o trabalho frágil de Ronald Koeman. Este que escreve entende muito bem a escolha pelo 3-5-2/5-3-2. Está claro que o técnico holandês tem preocupações defensivas e quer encaixar os veteranos Piqué e Busquets numa equipe repleta de jovens como Pedri, Dest, Ronald Araujo e outros. Mas bastou que Jorge Jesus fechasse o Benfica num 5-2-3/5-3-2 na frente da área do goleiro Odisseas Vlachodimos para que os problemas coletivos do Barcelona fossem escancarados. E olha que os Encarnados nem fizeram um primeiro tempo tão consistente assim.
Nesse ponto, precisamos exaltar a atuação do zagueiro Lucas Veríssimo. O brasileiro foi firme nos duelos por baixo e pelo alto e não deixou que Memphis Depay tivesse espaço para atacar a área do Benfica. Ao mesmo tempo, a formação do ataque dos Encarnados (Rafa Silva e Darwin Núñez com Yaremchuk atuando como referência móvel) ajudava a bagunçar o já fragilizado sistema defensivo do Barcelona. Aliás, tem sido cada vez mais difícil defender Ronald Koeman. Tudo por conta da maneira como sua equipe se defende e ataca. O trio de zagueiros (formado por Eric García, Piqué e Ronald Araújo) sofria demais para marcar as bolas longas de João Mário (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve) e Weigl buscando os atacantes do Benfica. E é interessante notar que, da mesma forma que o escrete blaugrana sofria para criar espaços no ataque, também encontrava dificuldades imensas para marcar seu adversário quando este acelerava os passes pelos lados do campo.
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Não foi por acaso que o Benfica voltou do intervalo com uma postura bem diferente daquela que eu e você vimos no primeiro tempo. Com os alas mais espetados e com Rafa Silva e Darwin Núñez se movimentando constantemente no terço final, o escrete comandado por Jorge Jesus foi construindo a vitória nos seus domínios com bom toque de bola, amplitude, profundidade e muita intensidade na troca de passes. E conforme mencionado anteriormente, o Barcelona sofria demais na marcação e nem mesmo a aposta de Ronald Koeman num 4-3-3/4-1-4-1 foi capaz de dar pelo menos um pouco de consistência defensiva ao escrete blaugrana. Rafa Silva marcou o segundo gol do Benfica aos 23 minutos (após rebote de Ter Stegen) e Darwin Núñez fez o terceiro convertendo penalidade assinalada após consulta ao VAR aos 33 minutos. E a falta de um padrão claro de jogo na equipe catalã fica ainda mais clara quando se nota a maneira como Eric García, Ronald Araújo e companhia concediam espaços dentro da área.
Enquanto o Benfica segue em ótima fase nesse início de temporada, a impressão que ficou em todos os que viram a partida desta quarta-feira (29) é a de que esse buraco onde o Barcelona se enfiou é muito mais fundo do que parece. Este que escreve não afirma isso pelos resultados nessas duas rodadas da Liga dos Campeões da UEFA, mas por todo o contexto. É difícil encontrar um caminho para um elenco limitado em termos de qualidade individual. Philippe Coutinho e Ansu Fati têm condições de elevar bastante o nível da equipe catalã, mas voltaram do Departamento Médico há pouco tempo e ainda precisam recuperar o condicionamento físico. No entanto, fica bem complicado pensar numa recuperação com o retorno dos lesionados quando Ronald Koeman segue preso a fórmulas que não funcionaram nem nos tempos de Messi. Mesmo com Jordi Alba, Dembelé e Agüero à disposição. Além disso, vale lembrar que a insistência do treinador em ignorar os nomes vindos de La Masia pode cobrar seu preço em breve.
Enquanto isso, o Benfica de Jorge Jesus vai recuperando a confiança com o bom início no Campeonato Português e com a primeira vitória em cima do Barcelona em 60 anos. Não é pouca coisa. Mesmo para um treinador de grandes ambições e de conceitos bem claros sobre futebol. E vale destacar aqui as grandes atuações de João Mário, Lucas Veríssimo e Darwin Núñez. O uruguaio (como bem definiu o amigo Rafael “Rafa Scouts” Marques no Twitter) é uma mistura de Cavani com Suárez. Explosão, bom chute e ótima movimentação.
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