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Abel Ferreira coloca o Palmeiras em mais uma final de Libertadores e prova que os “vizinhos chatos” somos nós

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o treinador português travou o Atlético-MG de Cuca em pleno Mineirão sem abrir mão de suas convicções

Por Luiz Ferreira em 29/09/2021 11:30 - Atualizado há 3 anos

César Greco / SE Palmeiras

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o treinador português travou o Atlético-MG de Cuca em pleno Mineirão sem abrir mão de suas convicções

Desde que chegou ao Palmeiras dez meses atrás, Abel Ferreira sempre mostrou preferência pelo estudo e identificação dos pontos fortes de qualquer adversário. É uma escolha que pode produzir um futebol menos atrativo e mais “feio”. Justo. O ponto aqui é que essa estratégia pode se tornar extremamente eficaz quando bem executada. É por isso que o recado ao “vizinho chato” após a partida desta terça-feira (28) foi bastante claro e direto. Não foi nenhuma obra do acaso que fez com que o Palmeiras segurasse o Atlético-MG em pleno Mineirão. Havia uma ideia clara de jogo, todo um planejamento que visava travar os pontos fortes do ótimo time comandado por Cuca durante todos os 180 minutos das semifinais da Copa Libertadores da América. Muita concentração para fechar as linhas de passe na frente da área, muita aplicação tática para executar os movimentos do 5-3-2 de Abel Ferreira e muita força mental para manter o plano de jogo depois do gol de Vargas. A verdade é que os “vizinhos chatos” somos nós.

Assim como aconteceu nas partidas contra River Plate, Santos (na edição de 2020 da Libertadores) e São Paulo (na atual temporada), Abel Ferreira mudou o Palmeiras em momentos decisivos. Cada jogador tinha uma função específica e foi isso que fez a diferença contra a equipe comandada por Cuca. Onde muita gente preferiu ver “apenas” uma retranca, havia um propósito. Toda a estratégia do treinador português estava baseada nos pontos fortes do Atlético-MG e em como explorar as deficiências da equipe de Belo Horizonte. É por isso que Rony e Dudu ficavam mais avançados de modo a aproveitar o espaço às costas de Guilherme Arana e Mariano. É por isso que Danilo jogou mais avançado do que o normal, já que sua função exigia que ele diminuísse o campo de ação de Jair pelo lado esquerdo da defesa do Palmeiras. E é por isso que Felipe Melo foi escalado na frente da zaga alviverde de olho em Nacho Fernández e Zaracho. Tudo tinha um objetivo muito claro na partida desta terça-feira (28).

O 5-3-2 de Abel Ferreira prendia os atacantes do Atlético-MG e explorava o espaço entre o meio-campo e a defesa com bolas longas para Piquerez, Rony e Dudu. Além deles, Danilo também jogou mais adiantado do que o costume para fechar as linhas de passe ainda aparecer como opção ofensiva quando Palmeiras saía. Foto: Reprodução / SBT

O Atlético-MG criou pouco, mas levou perigo ao gol de Weverton em pelo menos quatro chances que nasceram da desconcentração do Palmeiras na defesa. Uma em passe errado de Luan na intermediária, uma em bote errado de Felipe Melo na frente da área, o gol de Vargas e a oportunidade incrível desperdiçada pelo camisa 10 quando o Galo já vencia a partida. O time de Abel Ferreira, por sua vez, teve mais chances do que o jogo no Allianz Parque, mas finalizou pouco (e mal). Vale lembrar que o gol de Dudu nasceu de jogada individual de Gabriel Verón em cima de Nathan Silva pelo lado esquerdo de ataque. Mesmo assim, precisamos reconhecer que o escrete alviverde foi muito bem com a posse da bola e obrigou o Atlético-MG a parar o jogo com faltas. Foram onze apenas no primeiro tempo. Mais uma prova de que o jogo vertical do Palmeiras causava preocupações em Cuca e nos seus jogadores e que a aplicação tática de todos os jogadores em campo (apesar das chances concedidas) tinha a sua eficiência.

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Talvez a grande cena da partida desta terça-feira (28) tenha sido o gesto de Abel Ferreira logo depois que sua equipe foi vazada logo aos seis minutos do segundo tempo. Note que o lance nasceu do único vacilo de Danilo na marcação e obrigou Gustavo Gómez a sair no encalço do camisa 8 do Atlético-MG, fato esse que deixou a defesa em igualdade numérica. Bastou que Vargas desse alguns poucos passos para o lado para subir com liberdade. Mas Abel Ferreira permaneceu impassível e pediu que seus jogadores mantivessem a concentração e seguissem com aquilo que foi planejado. Há quem veja aí uma certa arrogância ou teimosia. E não era pra menos: o Palmeiras estava perdendo e sendo eliminado da Libertadores! Mas aquele gesto simples captado pelas câmeras de televisão não mostrava apenas um treinador extremamente seguro das suas convicções (gostemos delas ou não). Mostrava que as coisas poderiam se descomplicar sem muitas dificuldades. E foi exatamente isso que aconteceu no Mineirão.

Não houve nenhuma mudança no esquema tático e nem na maneira do Palmeiras jogar. E a primeira mudança promovida por Abel Ferreira na partida foi aquela que costumamos chamar de “trocar seis por meia dúzia”. Rony (completamente exausto) saiu para a entrada de Gabriel Verón quando todos pediam a saída de um zagueiro. Mas o treinador português seguiu com seu planejamento sem se abalar com as críticas dos milhares de “vizinhos chatos” que apareceram. E vale destacar aqui que o camisa 27 tinha um objetivo muito claro: explorar o lado direito da defesa do Atlético-MG, onde Mariano avançava bastante para o ataque (em alguns momentos até mais do que Guilherme Arana) e Nathan Silva não fazia boa partida. A jogada do gol da classificação para a final da Libertadores saiu de lançamento de Piquerez às costas do zagueiro atleticano e encontrou Dudu dentro da pequena área. E tudo isso partindo do mesmo 5-3-2 tão contestado pelos “vizinhos chatos” de Abel Ferreira durante toda a partida.

Piquerez faz o lançamento que acha Gabriel Verón pelo lado esquerdo. O camisa 27 se livra de Nathan Silva e acha Dudu dentro da pequena área. Toda a construção do lance do gol do Palmeiras foi marcada pela boa execução do plano de jogo de Abel Ferreira. Da manutenção do 5-3-2 até o estilo mais vertical e pragmático. Foto: Reprodução / SBT

Ao mesmo tempo, é preciso dizer que os 180 minutos do Atlético-MG foram muito pobres. As grandes chances da equipe comandada por Cuca nas duas partidas das semifinais da Libertadores só nasceram a partir do “abafa” bem conhecido do seu treinador. Ao mesmo tempo, Hulk não esteve bem, Nathan Silva mostrou um nervosismo muito grande e as escolhas iniciais para a partida desta terça-feira (28) não foram as mais acertadas, visto que Vargas não é muito mais um definidor (apesar de ter desperdiçado chance cristalina na frente de Weverton) do que alguém que consegue vencer duelos no terço final. Tudo isso foi muito bem explorado por Abel Ferreira. Desde o seu 5-3-2 que tirou os espaços do ataque atleticano, a concentração dos jogadores após o gol de empate e a maneira como o Palmeiras neutralizou os pontos fortes de um Atlético-MG que não conseguiu ter sucesso na sua proposta de jogo. Nesse aspecto, a força mental e a aplicação tática do escrete alviverde foram fundamentais na classificação.

Avaliar todo um trabalho de APENAS DEZ MESES com base no gosto pessoal é assumir o papel de “vizinho chato” que só vê o que quer e não entende (ou não quer entender) o contexto. Em pouco mais de dez meses, o treinador português colocou sua equipe na sua segunda final de Libertadores seguida além de ter conquistado o título em 2020 e levado uma Copa do Brasil para a extensa sala de troféus do clube. Gostando ou não, o trabalho de Abel Ferreira merece sim reconhecimento e aplausos.

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