Paralimpíadas: conheça Robson Sampaio de Almeida, pioneiro do esporte adaptado no Brasil
Ele fundou o primeiro clube para pessoas com deficiência e ganhou a primeira medalha paralímpica do país, em 1972
Ele fundou o primeiro clube para pessoas com deficiência e ganhou a primeira medalha paralímpica do país, em 1972
O Brasil é hoje uma das potências do esporte paralímpico. Terminou as duas últimas edições das Paralimpíadas entre os dez primeiros do quadro de medalhas e tem um dos maiores astros da atualidade, o nadador Daniel Dias, que sonha em alcançar o top 10 de medalhistas de ouro na história da competição.
Mas o movimento do esporte adaptado no Brasil é anterior até mesmo ao surgimento dos Jogos Paralímpicos, que tiveram sua primeira disputa oficial em 1960, em Roma. Essa história começa em 1957, e seu personagem principal se chama Robson Sampaio de Almeida.
Alagoano, ele tinha viajado para estudar nos Estados Unidos. E, durante sua estada, sofreu um acidente enquanto trabalhava numa fábrica de papel. Ele carregava grandes rolos com uma empilhadeira; um desses rolos se soltou, atingindo suas pernas e sua espinha. Depois de socorrido, o veredito: Robson ficara paraplégico.
Terapia e descoberta
Durante o processo de fisioterapia, Robson conheceu algumas ações de prática esportiva oferecidas a pessoas que haviam perdido o movimento das pernas. Entre elas, o basquete praticado em cadeiras de rodas.
Quando retornou ao Brasil, em 1957, decidiu trazer consigo também o esporte. E, no ano seguinte, vivendo no Rio de Janeiro, fundou lá o Clube de Otimismo, considerado hoje como o primeiro movimento organizado de prática esportiva por pessoas com deficiência. Aldo Miccolis foi o primeiro técnico.
Apenas um mês depois, em São Paulo, Sérgio Seraphim del Grande fundou o Clube do Paraplégico de São Paulo. Ele também havia perdido o movimento das pernas por causa de um acidente: fraturou a coluna vertebral durante um jogo de futebol. Em tratamento nos Estados Unidos, também conheceu os esportes para cadeirantes.
O primeiro amistoso
Os dois logo fizeram contato e, em 1959, o ginásio do Maracanãzinho recebeu um amistoso entre os dois. Os paulistas venceram por 22 a 16, naquele que é considerado o primeiro jogo interestadual de basquete em cadeiras de rodas no país.
O esporte já havia sido apresentado ao país em 1957, durante uma excursão dos Pan Am Jets. Era um time de funcionários da empresa aérea Pan Am, todos cadeirantes, que espalhavam ao mundo a ideia da inclusão de deficientes por meio do esporte.
O cenário evoluiu em marcha lenta no Brasil. O país não teve representantes nas primeiras três edições dos Jogos Paralímpicos, em 1960, 1964 e 1968.
A estreia e a primeira medalha
O Brasil só estreou nas Paralimpíadas em 1972, em Heindelberg, na então Alemanha Ocidental. Enviou um time de baquete que terminou em quarto lugar na Divisão II, disputada por países de menor tradição. Também mandou atletas para provas de atletismo, natação e tiro com arco. Robson disputou tanto o basquete quanto o atletismo, na prova de arremesso de dardo de precisão.
A primeira medalha viria na edição seguinte, 1976, em Toronto, no Canadá. E veio justamente com Robson Sampaio de Almeida. Ao lado de Luiz Carlos Costa, ele foi prata no lawn bowls, uma espécie de bocha que era praticamente em campos de grama. Robson também disputou o tiro naquela edição, ficando em 15º numa prova de carabina.
Os primeiros ouros
Em 1984, numa edição dividida entre Nova York (EUA) e Stoke-Mandeville, local na Inglaterra onde nasceram as Paralimpíadas, o Brasil ganhou suas primeiras medalhas de ouro. Foram sete, com cinco atletas diferentes:
- Márcia Malsar (200m rasos, classe C6);
- Amintas Piedade (arremesso de peso e lançamento de dardo, classe 1C),
- Luiz Cláudio Pereira (arremesso de peso e lançamento de dardo, classe 1C),
- Miracema Ferraz (arremesso de peso, classe 1A),
- Maria Jussara Mattos (4x50m medley, classe 6).
A morte antes da consolidação
Robson Sampaio de Almeida morreu em 11 de janeiro de 1987, no Rio. O amigo Aldo Miccolis seguiu com o trabalho de apoio aos atletas com deficiência até sua morte, em 2009.
Em 1988, Seul se tornou a primeira sede olímpica a receber também as Paralimpíadas desde Tóquio-1964. A partir dali, todas as cidades passaram a organizar as duas competições, acordo selado definitivamente em 2001. O Comitê Paralímpico Internacional nasce em 1989. Já o Comitê Paralímpico Brasileiro é criado em 1995.
Neste século, especialmente depois dos aportes de dinheiro das loterias, estabelecido pela Lei Piva, o Brasil começa a se desenhar como potência esportiva no esporte adaptado até chegar ao cenário atual, pronto a brigar por um lugar de honra no quadro de medalhas. Uma história que talvez fosse diferente, não fosse a perseverança de Robson.
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