Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe comandada por André Jardine nos 120 minutos de partida contra o México
É verdade que o jogo em Kashima foi muito mais amarrado e truncado do que o esperado. Isso porque o México fechou suas linhas na frente da área e contou com a experiência do goleiro Guillermo Ochoa para segurar as investidas da Seleção Olímpica no tempo normal e na prorrogação. Mas quem riu por último (e se vingou da final olímpica de 2012) foi o escrete comandado por André Jardine. O Brasil mostrou muita concentração, força mental e boas doses de sangue frio para manter seu estilo de jogo, segurar as investidas do time de Jaime Lozano, suportar o desgaste físico de mais de 120 minutos de futebol e converter todas as suas cobranças na decisão por pênaltis. Além disso, o goleiro Santos também foi fundamental na classificação da Seleção Olímpica para a decisão da medalha de ouro com defesas importantes e muita personalidade debaixo das traves. Ótima atuação do goleiro do Athletico Paranaense.
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Este colunista já havia alertado para as armas do México após a vitória sobre o Egito. Mas quem via o jogo dessa terça-feira (3) percebia uma Seleção Olímpica mais madura e que oscilou menos do que o costume. Sem Matheus Cunha, o técnico André Jardine apostou na entrada de Paulinho ao lado de Richarlison na dupla de ataque e manteve seu 4-4-2 com as variações costumeiras já analisadas aqui neste espaço. É interessante notar que os mexicanos (além de espelharem o desenho tático brasileiro) adotavam uma postura mais cuidadosa, fechando as entradas da área e tentando acionar os ótimos Antuna e Martín com passes longos. O Brasil tentava abrir espaços com muita movimentação no terço final mas sem a intensidade e o acerto no passe necessários para vencer o experiente Guillermo Ochoa. Nas duas chances que teve no primeiro tempo, Guilherme Arana, Antony e Daniel Alves pararam no goleirão mexicano.
A Seleção Olímpica entrou em campo com Paulinho no lugar de Matheus Cunha (lesionado), manteve sua organização ofensiva, mas encontrou um México bem fechado no seu campo. O escrete de Jaime Lozano se organizava em duas linhas e tentava chegar no ataque com bolas longas. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
É interessante notar que a Seleção Olímpica só concedeu chances ao seu adversário quando baixou a concentração e quando os mexicanos conseguiram vencer a primeira linha de pressão pós-perda do escrete canarinho. Aliás, essa cobertura tem sido o ponto mais fraco da equipe comandada por André Jardine. Sempre que o adversário se livra dessa pressão inicial, todo os jogadores brasileiros se encontram mais espalhados no campo e a transição defensiva não é feita da maneira mais correta. Exatamente como aconteceu na origem de belo contra-ataque encaixado pelo time de Jaime Lozano aos 41 minutos da primeira etapa. Vega conseguiu se livrar da marcação de Antony e Daniel Alves e viu Antuna se projetando pelo lado direito (às costas de Guilherme Arana). O gol do México só não saiu porque Santos fez bela defesa do chute de Romo após este receber passe rasteiro do camisa 15 do escrete de Jaime Lozano.
Vega vence a pressão inicial da Seleção Olímpica e encontra campo livre para lançar Antuna às costas de Guilherme Arana (ambos fora da imagem). O México sempre levava vantagem quando vencia a marcação na saída de bola brasileira ainda no campo de defesa. Ponto que merece atenção. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
O segundo tempo ficou marcado por um jogo muito mais estudado e truncado no meio-campo por parte das duas equipes. Mas é preciso destacar a maneira como a Seleção Olímpica se comportou diante de um fortíssimo adversário. Mesmo com toda a tensão da semifinal e da margem quase zero de erro, a equipe de André Jardine manteve seu plano de jogo, foi organizada e ainda criou boas chances (como a cabeçada de Richarlison na trave direita de Ochoa no final do tempo regulamentar em Kashima). Gabriel Martinelli, Reinier, Malcom e Matheus Henrique entraram no jogo e mantiveram o nível alto de concentração da Seleção Olímpica. E vale destacar que, se o 4-4-2 inicial de André Jardine era bem organizado ofensivamente, a formação também dava a consistência defensiva necessária para que Daniel Alves pudesse armar o jogo mais por dentro (como mais um meia de criação) e Guilherme Arana pudesse subir mais para o ataque.
Mesmo com toda a tensão da partida, a Seleção Olímpica e o escrete mexicano mantiveram suas propostas de jogo e erraram pouco no tempo normal e na prorrogação. Gabriel Martinelli, Reinier, Malcom e Matheus Henrique entraram e mantiveram o nível alto da atuação brasileira em Kashima. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
Acabou que a Seleção Olímpica foi muito mais feliz na decisão por penalidades. Daniel Alves, Gabriel Martinelli, Bruno Guimarães (um dos melhores da equipe brasileira nesses Jogos Olímpicos) e Reinier converteram suas cobranças. Santos (outro que subiu muito de produção no torneio) defendeu a penalidade cobrada por Eduardo Aguirre e viu o bom zagueiro Vásquez acertar a trave esquerda. Mesmo não jogando um futebol vistoso, sem mostrar tudo aquilo que sabe e passando por sufocos até desnecessários contra adversários (teoricamente) mais fracos, o escrete comandado por André Jardine se garante na decisão da medalha de ouro e confirma a expectativa de todos. A tão exaltada nova geração de atletas altamente promissores tem todas as condições de dar o passo final para sair do terreno da promessa e se transformar em realidade na terceira decisão olímpica seguida do Brasil em doze anos.
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O adversário da Seleção Olímpica na decisão do dia 7 de agosto (em Yokohama) será a fortíssima Espanha. Assim como o escrete comandado por André Jardine, “La Furia” ainda não mostrou todo o seu potencial nos Jogos e passou por mais problemas do que o normal na caminhada até a final. Mas cresceu de produção no momento certo e será um oponente que vai exigir o máximo de atenção de todo o sistema defensivo brasileiro. Unai Simón, Pau Torres, Pedri, Asensio, Olmo e Oyarzabal estiveram na disputa da última Eurocopa e já possuem experiência suficiente para assumir o protagonismo quando assim for necessário. Por outro lado, a defesa mais adiantada do time de Luis de La Fuente pode ser um convite interessante para a velocidade de Richarlison, Antony, Guilherme Arana e companhia. Se conseguir vencer a pressão e fazer a bola chegar limpa no ataque, as chances da Seleção Olímpica sobem consideravelmente.
Mas será preciso ter atenção em todos os movimentos e diminuir ainda mais a margem de erro. Corrigir a transição defensiva, não sobrecarregar Nino e Diego Carlos e ainda diminuir o espaço entre as linhas serão os deveres de casa da Seleção Olímpica. As equipes de Luis de la Fuente e André Jardine terão que jogar o que ainda não jogaram se quiserem voltar de Yokohama com a medalha de ouro no peito. Será um jogo cheio de alternativas para ambos os lados. E de muita tensão também.
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