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Precisamos admitir que Renato Gaúcho vem fazendo muito mais do que “melhorar o vestiário” do Flamengo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação de Gabigol, Bruno Henrique e companhia na vitória tranquila sobre o Corinthians

Por Luiz Ferreira em 02/08/2021 10:37 - Atualizado há 3 anos

Alexandre Vidal / Flamengo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação de Gabigol, Bruno Henrique e companhia na vitória tranquila sobre o Corinthians

Este colunista confessa que não teria escolhido Renato Gaúcho para assumir o comando técnico do Flamengo após a saída conturbada de Rogério Ceni. O desgaste à frente do Grêmio nos últimos meses apontavam para uma certa pobreza de ideias em jogos de maior exigência tática (como aconteceu nos jogos contra o Santos pela Libertadores de 2020 e na decisão da Copa do Brasil contra o Palmeiras). É por isso que este que escreve aproveita o espaço aqui no TORCEDORES.COM para dar a mão à palmatória. Tirando a partida de estreia (contra o Defensa y Justicia), esses primeiros dias de Renato Gaúcho nos apresentaram um Flamengo leve, envolvente e altamente eficiente na pressão pós-perda que deixa os adversários completamente desconfortáveis dentro de campo. Tudo isso foi visto no primeiro tempo da vitória sobre o Corinthians neste domingo (1). O domínio do escrete rubro-negro foi claríssimo.

Isso porque há uma ideia muito clara de jogo sendo colocada em prática nas últimas partidas. O desenho tático básico é o 4-2-3-1, mas o quarteto ofensivo tem liberdade de movimentação, joga com as linhas de marcação bem avançadas e uma pressão pós-perda que não deixa nenhum oponente respirar. Em alguns momentos, Gabigol aparece do lado direito, Everton Ribeiro vem mais por dentro, Arrascaeta abre o campo pela esquerda e Bruno Henrique assume o papel de referência da equipe do Flamengo. Tudo para bagunçar as defesas adversárias e abrir espaços com muita profundidade e amplitude. Mas o primeiro gol da partida (marcado logo aos seis minutos do primeiro tempo) nasceu dessa dinâmica imposta pelo escrete rubro-negro. Os atacantes encurtavam o espaço e fechavam as linhas de passe do Corinthians. Willian Arão roubou a bola no meio-campo e Everton Ribeiro acertou belo chute de fora da área.

Gabigol, Arrascaeta, Diego, Isla (fora da imagem) e Everton Ribeiro fecham as linhas de passe na saída de bola do Corinthians. O lance do gol de ER7 nasce dessa pressão pós-perda e do ótimo posicionamento dos jogadores do Flamengo na saída de bola do seu adversário. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É verdade que o Corinthians também facilitou demais a vida do Flamengo ao adotar uma postura extremamente cautelosa e baixar demais a sua marcação no jogo disputado dentro da sua própria casa. O 4-1-4-1 de Sylvinho nem fechava espaços na frente da área e nem pressionava os zagueiros Gustavo Henrique e Léo Pereira (dois jogadores que ganharam muita confiança depois da chegada de Renato Gaúcho) na saída de bola. Com isso, a vida do quarteto (às vezes quinteto) ofensivo rubro-negro ficava muito mais fácil. Sem permitir que o Timão respirasse, o Flamengo ocupava bem esses espaços adotando uma movimentação constante e muita intensidade nas transições. Fábio Santos não conseguia acompanhar Isla pela esquerda, Arrascaeta tinha muita liberdade para organizar o jogo, Gabigol arrastava a zaga corintiana e Bruno Henrique assumia definitivamente o papel de referência móvel no time de Renato Gaúcho.

O Flamengo colocava muita intensidade e velocidade em cada jogada de ataque. Além disso, o Corinthians também colaborava demais com o escrete de Renato Gaúcho ao não compactar suas linhas e permitir que os jogadores rubro-negros trocassem passes sem serem incomodados. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Gustavo Henrique (aos 39 minutos) e Bruno Henrique (aos 43) praticamente acabaram com as chances de reação do Corinthians no primeiro tempo. O camisa 27 ainda desperdiçaria chance incrível de fazer o quarto logo no início da segunda etapa ao furar de maneira bisonha belo cruzamento vindo da direita. Sinal de que a equipe do Flamengo havia diminuído o ritmo e começava a guardar forças para os próximos compromissos na rodada. Nem mesmo o gol de Vitinho (jogador do Corinthians) e a bola na trave de Mateus Vital apagaram o amplo domínio do Flamengo na partida. Após as substituições, Renato Gaúcho baixou um pouco as linhas da sua equipe e apostou em Michael como válvula de escape para a aproveitar os contra-ataques. Do outro lado, Sylvinho ficava com a certeza de que poderia ter criado mais problemas para seu adversário se tivesse adotado um postura menos pragmática no primeiro tempo.

Com a ampla vantagem no placar, o Flamengo diminuiu um pouco o ritmo e baixou as suas linhas de marcação depois das substituições promovidas por Renato Gaúcho. O Corinthians só conseguiu levar perigo quando aproveitou esse espaço e se posicionou melhor em campo. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Os números de Renato Gaúcho à frente do Flamengo são excelentes. É preciso reconhecer que o treinador vem fazendo muito mais do que simplesmente melhorar o clima no elenco e resgatar jogadores contestados perseguidos pela torcida rubro-negra. Há um trabalho tático, uma ideia clara de jogo que une alguns elementos da organização ofensiva deixada por Rogério Ceni e a conhecida pressão pós-perda dos tempos de Jorge Jesus. Claro que tudo é feito com seu toque pessoal. Filipe Luís ainda é o “lateral-armador” da equipe, Willian Arão fez o time crescer muito voltando à sua posição original e Diego simplesmente tomou conta do meio-campo. Mas a grande sacada está na movimentação do quarteto ofensivo. O lance do terceiro gol é emblemático. Gabigol abrindo o campo pela esquerda e servindo Bruno Henrique que saía da direita para dentro é o resumo perfeito de um time que voltou a encantar.

No entanto, mesmo admitindo que Renato Gaúcho tem muitos méritos táticos na remontagem desse Flamengo avassalador, ainda chama a atenção para o fato de que a equipe ainda precisa de testes contra equipes mais fortes. O Corinthians de Sylvinho fez uma partida muito pobre em vários aspectos e pouco ameaçou a meta de Diego Alves. A tendência é que o nível de exigência suba nas próximas fases da Copa do Brasil e da Libertadores. E é por isso que a equipe rubro-negra precisa manter o foco e o bom trabalho realizado até aqui.

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