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Demissão de Tiago Nunes era inevitável, mas não resolve os problemas de um Grêmio apático e sem rumo

Luiz Ferreira analisa a derrota do Tricolor Gaúcho para o Atlético-GO e as consequências da partida deste domingo (4) na coluna PAPO TÁTICO

Por Luiz Ferreira em 05/07/2021 02:09 - Atualizado há 3 anos

Reprodução / YouTube / Grêmio FBPA

Luiz Ferreira analisa a derrota do Tricolor Gaúcho para o Atlético-GO e as consequências da partida deste domingo (4) na coluna PAPO TÁTICO

A maneira como a demissão de Tiago Nunes foi conduzida ajuda a explicar bem como andam as coisas no Grêmio nesses últimos meses. A declaração do presidente Romildo Bolzan era clara. A permanência do treinador estava condicionada ao resultado da partida contra o Atlético-GO. É aí que começam as perguntas. O que aconteceria se o Tricolor Gaúcho tivesse vencido a partida na sua arena? Ele permaneceria? A direção do Grêmio mudaria de ideia e manteria de Tiago Nunes no cargo? Chega a ser leviano pensar que a avaliação sobre o trabalho do treinador mudaria mesmo se sua equipe conquistasse uma virada impensável contra o organizado escrete de Eduardo Barroca. Ao mesmo tempo, demitir um treinador depois de MÍSEROS VINTE JOGOS À FRENTE DE UM CLUBE é insano (para não dizer outra coisa). O problema todo está na narrativa utilizada pela diretoria do Grêmio e na maneira como as coisas foram conduzidas.

Está claro que o Grêmio é um time cheio de problemas. Há jogadores em péssima fase, jovens que não conseguiram se firmar na equipe titular e nomes que já não conseguem jogar com a mesma intensidade de outros tempos. É preciso lembrar que esse mesmo Tricolor Gaúcho jogou por muito tempo de maneira reativa, esperando o adversário no seu campo acionar para Diego Souza no comando de ataque ou os pontas Ferreira, Alisson, Douglas Costa (e vários outros jogadores mais velozes) entrando em diagonal. Com Tiago Nunes as coisas mudaram um pouco. A postura mais propositiva e de mais valorização da posse de bola encontrou certa resistência e coincidiu com lesões, afastamentos por contaminação da COVID-19 e mais uma série de problemas. Embora tenha conquistado o Campeonato Gaúcho e feito boa campanha na Copa Sul-Americana, o Grêmio vinha descendo ladeira abaixo nas últimas partidas.

Sobre o jogo deste domingo (4), é preciso dizer que o Grêmio apresentou os mesmos problemas das últimas partidas e que foram (de certa forma) maquiados com a conquista do campeonato estadual. Muita lentidão nas transições, falta de objetividade na criação das jogadas e (com a exceção de Douglas Costa) uma apatia enorme. Do outro lado, o Atlético-GO de Eduardo Barroca se fechava bem no seu campo, executava bem os movimentos do 4-1-4-1 e tinha os seus setores bem próximos. Embora o Grêmio tenha finalizado 21 vezes a gol e terminado a partida com 62% de posse de bola, o que se viu em Porto Alegre foi uma equipe displicente e muito pouco organizada apesar de ter feito um primeiro tempo minimamente razoável. Mesmo assim, Douglas Costa era o único atleta gremista que tentava fazer algo diferente e pensar fora da caixinha, mas acabou sucumbindo com todo o time no segundo tempo.

Embora tenha feito um primeiro tempo razoável, o Grêmio já apresentava problemas sérios em todos os seus setores diante de um Atlético-GO mais organizado e compactado. A última partida de Tiago Nunes à frente do Tricolor Gaúcho foi marcada pela apatia e pela falta de criatividade.

Como sempre colocamos aqui na coluna PAPO TÁTICO, toda análise precisa levar em consideração o contexto no qual cada partida está inserida. Difícil não lembrar do surto de COVID-19 dentro do elenco, das dificuldades na assimilação dos conceitos de Tiago Nunes e na expectativa criada após o título no Gauchão. Todo o lance do gol de Lucão é simplesmente emblemático. Diogo Barbosa foi facilmente batido por Dudu e Kannemann abre o espaço que Lucão atacou antes de escorar o cruzamento do camisa 2 para as redes de Brenno. E no início da jogada é possível ver todo o meio-campo do Grêmio apenas observando Baralhas fazer o lançamento na intermediária. Repetimos: o Atlético-GO fez uma grande partida e mereceu levar os três pontos para Goiânia. Mas também precisamos reconhecer que o Tricolor Gaúcho cedeu demais. E a nova derrota no Brasileirão foi a gota d’água para a diretoria gremista.

O Atlético-GO faz a inversão para o 2-3-5/3-2-5 e encontra extrema facilidade para ocupar espaços e acionar os jogadores de frente com lançamentos mais longos. Kannemann, Diogo Barbosa e todo o meio-campo gremista facilitaram demais a vida do Dragão. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Este que escreve continua achando extremamente bizarro demitir um treinador depois de apenas 20 partidas à frente do clube. Por outro lado, fica difícil entender o discurso da diretoria que fala em continuidade e deixa escancarada a ameaça de demissão em caso de novo revés. Se Tiago Nunes já não gozava da confiança dentro do clube, por que mantê-lo por mais uma partida? A vitória em si não mudaria praticamente nada. Se vencesse nesse domingo (4) e perdesse na rodada seguinte, fatalmente ele seria demitido do mesmo jeito. Não é difícil concluir que, ou a diretoria gremista não faz nenhuma ideia do que está fazendo ou que utilizou a saída de Tiago Nunes como escudo para as suas escolhas ruins nesse início de temporada. O título do Campeonato Gaúcho também serviu para passar a ilusão de que estava tudo bem internamente. Mas o que ninguém entende são essas decisões tomadas de acordo com o resultado.

Não será uma tarefa simples escolher o novo treinador. E mais complicado ainda será fazer a renovação mais do que necessária num elenco repleto de jogadores mais velhos e de quedas bruscas no seu desempenho. Esse talvez tenha sido o grande equívoco de Tiago Nunes. Não aproveitar os jovens talentos da base nas vagas deixadas pelos veteranos que já não entregam tanto dentro de campo. A demissão era inevitável. Mas engana-se aquele que pensa que todos os problemas serão resolvidos. O buraco é bem mais embaixo.

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