Vitória sobre o Egito nos mostra uma Seleção Olímpica mais madura e consistente; confira a análise
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação coletiva do time de André Jardine e os perigos do próximo adversário do Brasil nos Jogos Olímpicos
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação coletiva do time de André Jardine e os perigos do próximo adversário do Brasil nos Jogos Olímpicos
Não é exagero nenhum afirmar que a Seleção Olímpica poderia ter vencido o Egito por uma margem muito maior de gols. No entanto, a atuação da equipe comandada por André Jardine na partida deste sábado (31) deixou boas impressões. Primeiro pelo já conhecido volume de jogo e pela organização ofensiva do 4-4-2 do treinador brasileiro. E depois pela grande Olimpíada que Richarlison, Douglas Luiz e Bruno Guimarães estão fazendo. Grande destaque para o atacante do Everton se transformou no principal nome da Seleção Olímpica e vem chamando a responsabilidade com muita movimentação no campo de ataque e cinco gols marcados em quatro partidas. A boa apresentação diante do escrete egípcio também nos mostrou uma Seleção Olímpica mais consistente na marcação e na transição defensiva, pontos esses que serão fundamentais na partida contra o México, pelas semifinais dos Jogos Olímpicos.
O retorno de Douglas Luiz (depois de cumprir suspensão contra a Arábia Saudita)fez com que a Seleção Olímpica ganhou muito mais consistência no meio-campo. Ele e Bruno Guimarães (outro que está jogando o fino em Tóquio ajudavam a desafogar o escrete comandado por André Jardine da pressão inicial do Egito e ajudaram a qualificar ainda mais o passe. Na frente, a inversão do 4-4-2 para o 3-2-5 não foi tão percebida como em outros jogos, já que El Eraki (o ala pela direita do 5-4-1 de Shawky Gharib) jogava muito espetado e exigia mais atenção de Guilherme Arana. Só que isso também abria espaços para a Seleção Olímpica. Aos 36 minutos do primeiro tempo, Claudinho recebeu na intermediária, passou para Richarlison e avançou (arrastando os zagueiros Hegazy e El Wench). O “Pombo” foi esperou o momento certo para passar para Matheus Cunha que atacava o espaço aberto pelo camisa 20.
Claudinho recebeu na intermediária e passou para Richarlison (que se projetava pela esquerda). A movimentação do camisa 20 abriu o espaço que Matheus Cunha atacou para marcar o único gol da Seleção Olímpica na partida. A equipe soube se adaptar muito bem às circunstâncias do jogo contra o Egito. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
O golaço de Matheus Cunha nasceu de todo o trabalho tático realizado por André Jardine nos treinamentos da sua equipe. Amplitude para abrir as linhas adversárias, profundidade para abrir espaços e muita intensidade nos movimentos para aproveitar cada pedaço de campo. Mais atrás, Daniel Alves se juntava a Nino e Diego Carlos na saída de bola e os volantes Douglas Luiz e Bruno Guimarães marcavam e saíam para o jogo com muita qualidade. A adaptação ao estilo de jogo do Egito foi tão rápida que a equipe brasileira não teve dificuldades para “ler” o posicionamento de El Eraki no segundo tempo. Muito mais meia (num 4-4-2 mais nítido) do que ala pela direita. Foi a senha para que Richarlison, Matheus Cunha, Claudinho e Antony (que teve sua melhor atuação nos Jogos Olímpicos) repetirem o mesmo processo descrito anteriormente. Abrir o campo, arrastar os zagueiros e atacar o espaço que surgiu dessa movimentação.
El Eraki virou mais meia do que ala no segundo tempo, mas a Seleção Olímpica soube se adaptar ao novo contexto da partida com facilidade. Os volantes Douglas Luiz e Bruno Guimarães exploraram muito bem a movimentação do quarteto ofensivo com passes certeiros e muita visão de jogo no meio-campo. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
A Seleção Olímpica manteve o ritmo intenso mesmo com as substituições realizadas por André Jardine no segundo tempo. Isso porque Paulinho, Reinier e Malcom também se adaptaram muito bem ao esquema que une elementos do “jogo de posição” e bom posicionamento dentro de campo. Nesse aspecto, é possível dizer que o sistema defensivo do escrete canarinho (um dos pontos mais fracos da equipe e bastante criticado por este colunista) não comprometeu e teve atuação até certo ponto segura diante de um Egito mais embalado do que organizado ofensivamente falando. Nino e Diego Carlos foram bem nos duelos pelo chão, muito mais seguros nas bolas aéreas e atentos na saída de bola. Mas também é preciso reconhecer que o Egito pouco ameaçou o gol de Santos e que a recomposição estava mais organizada do que nas primeiras partidas da equipe de André Jardine nos Jogos Olímpicos. Mesmo assim, é uma evolução.
A dupla de zaga formada por Nino e Diego Carlos teve uma atuação muito mais segura do nas outras partidas da Seleção Olímpica. Isso porque a equipe de André Jardine conseguiu fazer as transições defensiva de maneira mais organizada e deu poucas chances ao não mais do que esforçado time do Egito. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
Além de melhorar a recomposição defensiva, a Seleção Olímpica também aprimorou a pressão pós-perda, ponto que facilitava demais o trabalho dos volantes e zagueiros. Ao invés da variação para o 3-2-5 (com o avanço de Guilherme Arana pelo lado esquerdo), André Jardine foi mais “conservador” e posicionou o lateral do Atlético-MG um pouco mais por dentro num 3-3-4 em transição ofensiva. Toda essa dinâmica cresceu demais com as grandes atuações de Richarlison, Antony, Claudinho e Matheus Cunha. Aliás, a lesão do camisa 9 do escrete canarinho preocupa. Por mais que Paulinho e Reinier tenham apresentado bom futebol quando acionados, o atacante do Hertha Berlim é um dos jogadores mais completos dessa geração. Bom nos duelos aéreos, eficiente na ruptura da última linha e, além de tudo isso, possui um apuradíssimo faro de gol. A Seleção Olímpica perde demais com a sua ausência.
Mas é preciso dizer que a equipe comandada por André Jardine chega com muita força e confiança nas semifinais dos Jogos Olímpicos. O próximo adversário será o México, algoz em Londres 2012 e que vem com um time renovado, extremamente veloz nos contra-ataques e bem consistente na pressão pós-perda. Destaque aqui para o ótimo meia Sebastián Córdova, para o rápido Henry Martín e para a experiência do goleiro Guillermo Ochoa. Será um teste completamente novo para a equipe brasileira e talvez o mais complicado dessa caminhada rumo ao bicampeonato olímpico. Será preciso atenção redobrada do sistema defensivo brasileiro para conter as investidas do escrete comandado por Jaime Lozano e um aproveitamento muito melhor das chances de gol. O nível de exigência e de eficiência será muito mais nessa reta final dos Jogos de Tóquio. E isso não é novidade para André Jardine.
Certo é que a confiança e a segurança da Seleção Olímpica foi aumentando no decorrer das partidas, ponto que demonstra que a equipe foi assimilando mais e mais os conceitos do seu treinador. O Brasil tem qualidade em todos os setores e todas as condições de se garantir na sua terceira final seguida. Mas também não deixa de ser talvez o jogo da vida de muitos ali no elenco. Pelo menos até a decisão da medalha de ouro.
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