Caras conhecidas, futebol ofensivo e pressão por vitórias: o que esperar da Seleção Masculina nos Jogos Olímpicos
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as chances da equipe de André Jardine na busca pelo bicampeonato olímpico em Tóquio
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as chances da equipe de André Jardine na busca pelo bicampeonato olímpico em Tóquio
Não é por acaso que existe muita gente colocando a Seleção Olímpica um patamar acima da Seleção Brasileira comandada por Tite. Os nomes escolhidos por André Jardine possuem muita qualidade, são destaques nos seus clubes (seja no Brasil ou no exterior) e já são apontados como presença certa nas próximas edições da Copa do Mundo. E é exatamente por conta desses e de outros fatores que essa pressão por bons resultados (disfarçada de expectativa alta) pode ser o principal adversário do escrete canarinho na briga pelo bicampeonato olímpico. Sim, pressão. Por mais que a Seleção Olímpica se proponha a jogar um futebol ofensivo e tenha recebido o reforço de Richarlison, Santos, Diego Carlos, Daniel Alves e Douglas Luiz (todos experientes e com bagagem para encarar os Jogos Olímpicos), a grande verdade é que não será tolerado outro resultado que não seja a conquista da medalha de ouro em Tóquio.
As últimas partidas amistosas da Seleção Olímpica deixaram a impressão de que a equipe comandada por André Jardine ainda precisa de mais consistência no seu sistema defensivo. Por marcar com as linhas bem altas e pressionar muito a saída de bola do adversário, é comum que a zaga fique mais desprotegida em determinados momentos. Esse panorama foi facilmente notado na derrota para Cabo Verde e nas vitórias sobre a Sérvia e sobre os Emirados Árabes, os últimos testes antes da disputa dos Jogos Olímpicos. É nesse sentido que a presença de Douglas Luiz no meio-campo ao lado de Bruno Guimarães e Claudinho será muito importante para fazer o balanço defensivo e dar mais consistência ao setor sem que perder qualidade e o ímpeto ofensivo. Mesmo assim, a maneira como alguns jogadores se comportavam quando o adversário roubava a bola e acelerava os contra-ataques ainda é muito preocupante.
Por pressionar bastante o portador da bola e posicionar as linhas no campo adversário, a Seleção Olímpica ainda sofre com problemas defensivos. O posicionamento dos jogadores de meio-campo e espaço concedido pelos zagueiros é outro fator que preocupa André Jardine e sua comissão técnica. Foto: Reprodução / TV Globo
Mas é bom que se diga que, apesar da irregularidade e da falta de concentração em algumas partidas, o trabalho de André Jardine tem sim coerência e consistência. É sabido de todos que o treinador da Seleção Olímpica quer uma equipe ofensiva, envolvente na criação das jogadas e com movimentação constante e de alta intensidade na frente. A variação do 4-3-3 para um 3-2-5 com o avanço de Guilherme Arana (ou Abner) pela esquerda como um ponta à moda antiga e Claudinho mais por dentro é o grande planejamento do treinador do escrete canarinho. E isso sem mencionar as boas atuações de Gabriel Martinelli, Malcom, Reinier e Matheus Henrique nos amistosos de preparação para os Jogos Olímpicos. Ainda falta mais objetividade no passe “quebra-linhas” e mais profundidade no terço final. Nesse último ponto, Richarlison pode dar o toque de força física e intensidade que faltava ao escrete canarinho.
André Jardine usa bastante a variação do 4-3-3 para o 3-2-5 com muita amplitude e pouca profundidade no terço final. Guilherme Arana (ou Abner) avança como “ponta” pelo lado esquerdo e Claudinho (ou Reinier) se junta ao quinteto ofensivo para ocupar todos os espaços no campo adversário. Foto: Reprodução / TV Globo
Difícil não concluir que a presença de Douglas Luiz e Richarlison dentro desse “jogo de posição” implementado por André Jardine será extremamente valiosa para a Seleção Olímpica. Ainda mais nesse contexto de pressão pela conquista da medalha de ouro em Tóquio. O volante do Aston Villa tem condições de melhorar o passe e reforçar a marcação à frente da zaga sem que a equipe perca força nas transições ofensivas (fora todo o senso de posicionamento do jogador). E o atacante do Everton é um daqueles atletas raros. Além da habilidade com a bola no pé, o “Pombo” sabe muito bem como furar as linhas adversárias colocando a dose certa de força e velocidade. Com Daniel Alves jogando como “lateral-armador” à direita, Guilherme Arana mais espetado pelo outro lado, Claudinho próximo do trio ofensivo, a Seleção Olímpica tem condições de fazer uma ótima campanha na capital japonesa.
Com Richarlison, Douglas Luiz e Daniel Alves, André Jardine definiu o time que vai estrear nos Jogos Olímpicos contra a Alemanha. A tendência é que a Seleção mantenha a variação do 4-3-3 para o 3-2-5 com muita força ofensiva e volume de jogo. A saber como a defesa vai se comportar contra equipes mais fortes.
A Seleção Olímpica tem caras conhecidas, joga um futebol que agrada bastante o torcedor, mas vai sofrer com a cobrança por resultados nos Jogos Olímpicos. Por mais que toda essa pressão esteja “disfarçada” de expectativa alta pelos jovens valores dessa nova (e altamente qualificada) geração de atletas, não será tolerado outro resultado que não seja o bicampeonato olímpico em terras nipônicas. É verdade que Alemanha, França, México, Espanha e Argentina são equipes que sempre causaram problemas e vão brigar por medalhas junto com o Brasil no futebol masculino a menos que algo fora do comum aconteça durante as competições. E fato é que todos aqueles que colocam a equipe olímpica acima da equipe principal pensam mais ou menos dessa maneira. E se o resultado final não for o esperado, toda a culpa cairá sobre os ombros de André Jardine e Daniel Alves, o mais experiente da Seleção Brasileira.
Este que escreve gostaria que essa ótima equipe (que conta com um bom treinador diga-se de passagem) chegasse nos Jogos Olímpicos com um pouco menos de pressão e de expectativa. Difícil não ver no discurso que coloca a Seleção Olímpica um patamar acima da equipe comandada por Tite um certo desdém com o técnico da Seleção Principal. E essa alta expectativa deve ser o principal adcersário do escrete comandado por André Jardine na disputa pelo bicampeonato olímpico. O controle dos nervos será fundamental.
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