Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida e explica como a Espanha complicou (e muito) a vida dos comandados de Roberto Mancini
É preciso dizer que o confronto entre Itália e Espanha realizado nesta terça-feira (6) foi um dos maiores e mais disputados duelos táticos e estratégicos dos últimos tempos. Praticamente uma partida de xadrez jogada com bola, traves, redes e pelo menos 34 peças. Ou jogadores. Após o empate em 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, a Squadra Azzurra de Roberto Mancini conquistou a vaga na decisão da Eurocopa após superar a valente equipe de Luís Enrique nas penalidades com o ítalo-brasileiro Jorginho convertendo a última cobrança. Difícil não enxergar no confronto contra “La Furia” o maior teste da envolvente e muito bem organizada Itália desde que a sequência de impressionantes 33 partidas sem derrotas. É a afirmação definitiva de uma seleção que se propôs a jogar um futebol vistoso, ofensivo, envolvente e muito, mas muito intenso. Palmas para a Squadra Azzurra. E para a Espanha também.
FT | Italy win!
There wasn't much action in extra time, except a couple of attempts from Spain, but it went to penalties where Jorginho scored the deciding penalty for Italy after Donnarumma saved Morata's attempt.#ITA reach their 4th-ever EURO final! 👏👏#EURO2020 #ITAESP pic.twitter.com/k0Xp7NAff5
— Sofascore (@SofascoreINT) July 6, 2021
Não se conhece uma grande seleção apenas pelos seus resultados, mas pela maneira como ela consegue se adaptar a cada situação. E a partida contra a Espanha colocou muitas dúvidas na Itália e em Roberto Mancini. Isso porque Luís Enrique optou pela escalação de Olmo como referência móvel do seu 4-3-3 básico. Tudo para ter mais mobilidade às costas de Jorginho, Verratti e Barella. Além disso, Busquets e Pedri conseguiam fugir da pressão com muita facilidade e sempre apareciam livres no meio-campo para acionar os atacantes espanhóis. Diante desse cenário, a Squadra Azzurra baixou um pouco as suas linhas para aproveitar o espaço que se criou atrás da última linha de “La Furia”. Transição em alta velocidade com bolas mais longas para Chiesa e Barella à direita e Insigne e Emerson Palmieri (outro brasileiro naturalizado italiano) à esquerda. Ao invés de agressividade, uma certa dose de pragmatismo.
Luís Enrique apostou em Olmo no comando de ataque para confundir a última linha da Itália e criar volume de jogo no terço final. A equipe de Roberto Mancini baixou a marcação, deu espaço para a Espanha criar e acelerou muito cada transição com bolas longas para seu trio ofensivo.
Apesar das escapadas da Itália, a Espanha se mantinha firme na sua proposta de jogo. Não foi por acaso que terminou os 120 minutos de bola rolando em Wembley com incríveis 70% de posse e 16 finalizações contra sete da Squadra Azzurra (de acordo com os números do SofaScore). O belo gol de Chiesa (marcado em jogada que começou com a reposição de Donnarumma ainda na área italiana) aos 14 minutos do segundo tempo deixou a impressão de que “La Furia” se desmancharia emocionalmente em campo. No entanto, Luís Enrique conseguiu melhorar bastante o desempenho da sua equipe com as entradas de Rodri, Moreno e Morata. O 4-3-3 inicial foi mantido, mas ganhou muito mais consistência e solidez nas transições para o ataque. Do outro lado, Roberto Mancini também trocava peças e reforçava seu sistema defensivo com a entradas de Pessina e Rafael Tolói nos lugares de Verratti e Emerson Palmieri.
🔎 | FOCUS
Federico Chiesa vs Spain:
⏱️ 107' played
👌 23 touches
⚽️ 1 goal
🥅 2 shots/2 on target
🎯 1 big chance created
👟 10/13 acc. passes
🏔️ 1/1 aerial duels won
📈 7.6 SofaScore ratingHe was once again the star man for Italy this summer! 💫#EURO2020 #ITAESP pic.twitter.com/GhREVltq2E
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A Espanha manteve seu estilo e conseguiu chegar ao gol de empate em belíssima jogada de Morata e Olmo e que teve a conclusão precisa do camisa 7 na saída de Donnarumma. Vale lembrar aos que defendem APENAS o futebol de contra-ataques contra o estilo de valorização da posse de bola que a equipe de Luís Enrique conseguiu o empate se mantendo fiel ao seu estilo e acelerando ataque por dentro com belíssimos passes verticais. Apesar dos problemas para manter o controle da partida percebidos em todas as suas partidas nessa Eurocopa (e mencionada mais de uma vez por este colunista), a Espanha equilibrava o jogo e criava muitas dificuldades para uma Itália que se viu obrigada a abrir mão de sua estratégia para se adaptar ao contexto da partida. A marcação permaneceu em bloco mais baixo e Roberto Mancini mandou Belotti e Locatelli para o jogo para tentar manter a bola por mais tempo no ataque.
Com a vantagem no placar, Roberto Mancini reforçou o sistema defensivo da Itália com Pessina e Rafael Tolói, mas a Espanha conseguiu o empate mantendo seu estilo e buscando as jogadas verticais com Morata, Olmo e Moreno. Duelo tático do mais alto nível técnico e tático em Wembley.
A prorrogação não teve tantas emoções como no tempo normal muito por desgaste físico e mental de espanhóis e italianos. Tanto que Roberto Mancini e Luís Enrique mantiveram suas estratégias e as formações táticas básicas nas suas equipes. As entradas de Pau Torres, Thiago Alcântara e Bernardeschi no primeiro tempo extra da semifinal ocorreram muito mais pela vontade dos dois treinadores de ter jogadores descansados para as penalidades. E acabou que a Squadra Azzurra riu por último na decisão na marca fatal. Primeiro veio o sofrimento (como aconteceu com a Itália mais de uma vez nessa Eurocopa) com Locatelli parando em Unai Simón. E depois veio a recuperação com Dani Olmo (que cobrou sua penalidade por cima) e Morata (que parou em Donnarumma). E caberia ao ítalo-brasileiro Jorginho (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve) garantir a Itália na decisão depois de deslocar o goleiro espanhol.
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— Italy ⭐️⭐️⭐️⭐️ (@Azzurri_En) July 6, 2021
Aliás, se Pedri e Busquets desafogavam o jogo para a Espanha com ótima colocação e muita inteligência para vencer a marcação, o camisa 8 da Squadra Azzurra se transformou no símbolo de uma equipe que desceu ao inferno depois da ausência na Copa do Mundo da Rússia e ressurgiu como uma das mais fortes do planeta. E a classificação para a final da Eurocopa é a afirmação desse belíssimo trabalho de Roberto Mancini e de jogadores que incorporaram esse estilo ofensivo e intenso, como Chiesa, Barella, Spinazzola, Di Lorenzo, Barella, Insigne, Immobile e o já citado Jorginho. Mesmo sem ir tão bem nesta terça-feira (6) e ter encontrado muitas dificuldades de uma Espanha valente e muito bem organizada por Luís Enrique. O tal jogo de xadrez citado no início dessa humilde análise tática foi resolvido na base do coração. E a Itália conseguiu ter mais controle dos nervos do que seu adversário.
Não deixa de ser também a prova de que a equipe comandada por Roberto Mancini se superou e mostrou ter concentração suficiente para superar adversidades. Foi assim contra a Áustria, contra Bélgica e agora contra a Espanha. A Squadra Azzurra não deve parar na Eurocopa. Se mantiver o alto nível do futebol apresentado na competição continental, não será nenhuma surpresa vermos uma das mais tradicionais seleções do planeta brigando por mais uma Copa do Mundo. Anotem aí.
💚🤍❤️
That. Winning. Feeling. #EURO2020 pic.twitter.com/5RmD0KB86v
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