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Falta de concentração e displicência ajudam a explicar essa incrível bipolaridade do Flamengo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do time de Rogério Ceni na vitória sobre o Cuiabá nesta quinta-feira (1)

Por Luiz Ferreira em 02/07/2021 01:53 - Atualizado há 9 meses

Alexandre Vidal / Flamengo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do time de Rogério Ceni na vitória sobre o Cuiabá nesta quinta-feira (1)

Quem não viu o jogo e só tomou conhecimento do placar final pode pensar que o Flamengo não teve muitos problemas para superar o Cuiabá na Arena Pantanal. Fato é que o time de Rogério Ceni mostrou que é sim muito superior ao simpático Dourado e que poderia até ter vencido por uma vantagem maior. O grande problema, no entanto, é que o escrete rubro-negro sofre horrores com uma espécie de bipolaridade impressionante até mesmo para esse contexto totalmente especial imposto pela pandemia de COVID-19. Não é exagero nenhum afirmar que o time vai do céu ao inferno e volta pelo menos umas três vezes durante cada partida. E contra os comandados de Luiz Fernando Iubel não foi diferente. Os pontos positivos do Flamengo (além da vitória em cima do Cuiabá, é claro) foram as atuações de Rodrigo Muniz, João Gomes, Diego (enquanto esteve em campo) e a recuperação cada vez mais clara de Thiago Maia.

É preciso dizer que a equipe comandada por Rogério Ceni fez uma grande primeira etapa na Arena Pantanal. Tirando uma saída errada de Willian Arão (que resultou num voleio meio sem jeito de Elton dentro da área), o Flamengo mandou no jogo e empurrou o Cuiabá para dentro da sua área a partir da variação do 4-4-2 para o 3-2-5 com Filipe Luís se juntando aos zagueiros e aparecendo no corredor aberto por Michael, Matheuzinho se lançando ao ataque e Bruno Henrique jogando mais próximo de Pedro. O gol do camisa 21 nasceu de pressão na saída de bola do Cuiabá e de bela jogada de João Gomes, jovem promessa rubro-negra que tem muito potencial, mas que ainda precisa encontrar os caminhos mais curtos para fugir da marcação adversária. Quem destoava de toda a equipe rubro-negra era Bruno Henrique. Mal demais nas conclusões a gol e perdido na movimentação ofensiva em determinados momentos.

O ótimo primeiro tempo do Flamengo teve intensidade nas transições, velocidade nas trocas de passe e muitas chances perdidas. A variação do 4-4-2 para o 3-2-5 (uma das marcas de Rogério Ceni) ajudava a empurrar a equipe do Cuiabá para dentro de sua área. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

É muito difícil não ligar a já mencionada bipolaridade do Flamengo ao grande número de chances perdidas durante o jogo. Por mais que o time de Rogério Ceni tenha volume de jogo e muita qualidade com a bola no pé, as oportunidades desperdiçadas podem estar causando um “efeito placebo” nos jogadores rubro-negros, uma sensação de que as partidas serão resolvidas quando e como quiserem. Mas o Cuiabá também teve seus méritos. Luiz Fernando Iubel percebeu bem a queda no ritmo da partida e a lentidão nas recomposições defensivas do seu aversário e fez as mexidas que ajudaram a equilibrar (um pouco) as ações dentro de campo. Danilo Gomes perdeu um gol incrível cara a cara com Gabriel Batista logo no início da segunda etapa em lance que mostrava bem essa falta de concentração do Flamengo nos movimentos defensivos. Bastou acelerar um pouco para que os espaços aparecessem.

O posicionamento do sistema defensivo do Flamengo evidenciava bem a falta de concentração do time no segundo tempo. Danilo Gomes desperdiçou boa chance ao explorar o espaço às costas de Rodrigo Caio e a movimentação de Elton que fez Willian Arão errar o bote. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Aos 13 minutos do segundo tempo, Pedro recebeu de Bruno Henrique na intermediária e não viu a passagem de Vitinho pelo lado direito com total liberdade. Com a falta de concentração aparece a displicência para resolver lances simples e a consequente falta de compreensão nas mudanças promovidas pelo adversário. Toda a boa atuação do primeiro tempo caía por terra na etapa final por conta dessa bipolaridade. E também por conta de algumas mexidas questionáveis de Rogério Ceni. O time demorou a se acertar depois da saída de João Gomes e acabou levando um abafa de um Cuiabá mais veloz, mais insinuante e que chegou a igualar a posse de bola com o Flamengo. Já mais para o final do jogo na Arena Pantanal, o escrete rubro-negro finalmente conseguiu resolver a marcação e a compactação das suas linhas e fechou a vitória com gol de Thiago Maia depois de belo contra-ataque puxado por Rodrigo Muniz.

O Flamengo recuperou o controle da partida apenas nos minutos finais com a entrada de vários garotos da base e com todo o time mais ligado no posicionamento e nos contra-ataques. Rodrigo Muniz iniciou a jogada e Thiago Mais concluiu com grande categoria. Foto: Reprodução / SPORTV / GE

Toda essa bipolaridade, essa oscilação extrema dentro de um mesmo jogo são os principais motivos pelos quais o Flamengo ainda não conseguiu convencer muita gente nessa temporada. Por mais que Rogério Ceni tenha melhorado o desempenho da sua equipe em vários aspectos, por mais que ele tenha aprimorado e organizado melhor a movimentação no ataque e fortalecido o sistema defensivo, o que se vê é um time que desperdiça chances a esmo, se desliga e complica jogos controlados. Sem tirar qualquer mérito do Cuiabá, mas a maneira como o Flamengo voltou do intervalo passa uma certa displicência, um certo ar de superioridade completamente desnecessário, como se os jogadores acreditassem que a vitória aconteceria facilmente. Se Danilo Gomes não tivesse desperdiçado a ótima chance que teve, a história da partida na Arena Pantanal poderia ter terminado de maneira completamente diferente.

É evidente que Everton Ribeiro, Gabigol, Arrascaeta e até mesmo Isla fazem falta. E também é verdade que uma das principais missões de Rogério Ceni consiste na busca pelo substituto de Gerson (negociado com o Olympique de Marselha) na sua equipe. Mesmo assim, a maneira como o Flamengo se desliga de jogos importantes é algo muito mais preocupante do que qualquer coisa. A falta de concentração e a queda de rendimento estão diretamente conectadas. E precisam ser corrigidas.

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