Home Futebol Muita marcação e pouquíssima criatividade: algumas impressões sobre o gélido empate entre Corinthians e São Paulo

Muita marcação e pouquíssima criatividade: algumas impressões sobre o gélido empate entre Corinthians e São Paulo

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como as equipes comandadas por Sylvinho e Hernán Crespo se comportaram no jogo desta quarta-feira (30)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como as equipes comandadas por Sylvinho e Hernán Crespo se comportaram no jogo desta quarta-feira (30)

Difícil não começar essa humilde análise afirmando em alto e bom som que o primeiro Majestoso do Brasileirão 2021 foi um jogo feio e difícil de ser assistido. Corinthians e São Paulo criaram poucas chances claras de gol num duelo em que os sistemas defensivos foram os destaques da gélida noite na capital paulista. Intensidade apenas na marcação e nos duelos individuais no meio-campo. Em termos ofensivos, o clássico desta quarta-feira (30) foi extremamente pobre de alternativas, criatividade, variações táticas e (principalmente) de ideias dos técnicos Sylvinho e Hernán Crespo (afastado por conta da COVID-19 e substituído à beira do gramado pelo auxiliar Juan Branda). Não foi por acaso que os destaques das duas equipes foram os zagueiros. João Victor (do lado corintiano) e Léo (do lado tricolor) foram os melhores de um empate sem gols gélido, em graça e bem pouco atrativo.

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A rigor, a única chance clara de todo o primeiro tempo nasceu de cabeçada de Gil na trave (após cruzamento de Fagner) e de boa defesa de Tiago Volpi logo na sequência em chute cruzado de Mateus Vital. Nada além disso. Se o São Paulo se organizava no seu 3-5-2 mais tradicional (com Daniel Alves no meio-campo e Benítez de volta ao time e jogando um pouco mais solto do que o costume), o Corinthians se fechava muito bem no seu campo e executava bem os movimentos defensivos do 4-1-4-1/4-4-2 de Sylvinho (num claro resgate das ideias de Fábio Carille, Tite e Mano Menezes). Não demorou muito para que o camisa 8 tricolor ficasse “encaixotado” na defesa corintiana e perdesse quase todas para Cantillo, Vitinho e Gabriel. Da mesma forma, Gustavo Mosquito foi facilmente vencido pelo zagueiro Léo, sempre muito seguro na cobertura de Reinaldo e bastante eficiente na saída de bola por baixo.

Corinthians vs Sao Paulo - Football tactics and formations

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Sylvinho apostou no resgate de ideias de antigos treinadores do Corinthians para dar mais solidez ao seu sistema defensivo diante de um São Paulo forte na marcação e que explorava os movimentos do seu já tradicional 3-5-2. No entanto, a primeira etapa teve pouquíssimas emoções.

Mas o jogo seguia amarrado e bastante truncado no meio-campo. Se o Corinthians se mantinha fiel à sua “identidade” com as ideias de Sylvinho, o São Paulo sofria com a falta de agressividade no ataque. Mesmo com os retornos de Luan (praticamente impecável na proteção da zaga tricolor), Daniel Alves, Benítez e Miranda, o time seguia sem criatividade e sem a movimentação necessária para vencer a bem postada defesa corintiana na Neo Química Arena. Reinaldo e Igor Vinícius não conseguiam chegar no ataque e sofriam com as descidas de Fagner, Mateus Vital e Gustavo Mosquito às suas costas. Daniel Alves foi mais um a ficar “encaixotado” no meio-campo, Liziero pouco ajudava na armação das jogadas e Éder foi pouco acionado na frente. Toda essa baixa efetividade do São Paulo em termos ofensivos se reflete na tabela do Brasileirão. Nenhuma campanha ruim acontece por acaso.

O Corinthians cresceu (um pouco) no segundo tempo depois que Juan Branda sacou Benítez para a entrada de Rigoni (mexida que causou a ira de muitos tricolores nas redes sociais) e levou perigo com novo chute de Fagner que Tiago Volpi defendeu de maneira segura. Na prática, no entanto, nada que alterasse o panorama do Majestoso. Sylvinho também trocava peças e mandou Marquinhos para o jogo no lugar de Gustavo Mosquito, mas o estreante foi mais um a parar na boa atuação do zagueiro Léo. Do outro lado, o São Paulo conseguiu melhorar seu desempenho depois que Rodrigo Nestor e Vítor Bueno substituíram Liziero e Éder, mas (novamente) sem a efetividade e contundência necessária para superar a defesa corintiana. Cássio chegou a fazer duas defesas em sequência aos 28 minutos num dos únicos momentos de emoção e futebol razoavelmente bom na segunda etapa. O empate sem gols foi o resultado mais justo na Neo Química Arena.

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Sao Paulo vs Corinthians - Football tactics and formations

As mexidas dos dois treinadores não mudaram o panorama do Majestoso no segundo tempo. Se o Corinthians não aproveitou o espaço que teve após a saída de Benítez, o São Paulo praticamente só recuperou um pouco da sua consistência depois da entrada de Rodrigo Nestor no lugar de Liziero.

A impressão que ficou do Majestoso desta quarta-feira (30) foi a de que Sylvinho parece estar conquistando a confiança de jogadores e diretoria num Corinthians que tem futuro incerto nessa temporada. Vale destacar aqui a boa atuação de João Victor na zaga e de Cantillo e Gabriel no meio-campo. Ao mesmo tempo, Jô foi bem ao fazer o trabalho de referência na área apesar de sofrer com a falta de contundência da sua equipe. O São Paulo, por sua vez, segue em busca da sua primeira vitória no Brasileirão ao mesmo tempo em que Hernan Crespo tenta combater a COVID-19 e a inércia do seu sistema ofensivo. É verdade que o elenco ficou desgastado por conta do “sprint final” no Campeonato Paulista e que as lesões de jogadores importantes influenciaram nos últimos resultados. O problema é que o tempo passou e o contexto mudou. O Tricolor do Morumbi pode (e deve) jogar mais do que vem jogando.

O Majestoso gélido e sem graça da Neo Química Arena terminou com uma equipe pisando no freio e a outra puxando o freio de mão. E num ambiente em que apenas o resultado importa, cada pontinho conquistado vale ouro. Mesmo que seja na base de atuações burocráticas e sem muito brilho como a que eu e você vimos nessa quarta-feira (30). Não foi por acaso que Corinthians e São Paulo pouco arriscaram no final da partida. E isso diz muita coisa sobre o momento das suas equipes.

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