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Palmeiras resgata formação padrão dos anos 1990 em boa vitória sobre o Santos; confira a análise

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Abel Ferreira montou sua equipe para o clássico deste sábado (10) no Allianz Parque

Por Luiz Ferreira em 10/07/2021 21:57 - Atualizado há 3 anos

César Greco / SE Palmeiras

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Abel Ferreira montou sua equipe para o clássico deste sábado (10) no Allianz Parque

Embora não goze de muito prestígio junto à imprensa, Abel Ferreira é um treinador de vasto repertório tático. Já vimos o Palmeiras jogar no 4-2-3-1, no 3-5-2, no 5-3-2 e no 4-1-4-1. Tudo se adaptando ao contexto que cada partida exigia e às características dos atletas que tinha à disposição. Dentro de campo, a postura era a mesma. Certo pragmatismo em determinados momentos, mas aliando jogo vertical e agressivo quando sua equipe tinha a posse da bola com a boa ocupação dos espaços no campo adversário. O repertório é tão grande que o técnico português resgatou o velho e conhecidíssimo 4-2-2-2 dos anos 1990 na boa vitória sobre o Santos neste sábado (10), em jogo disputado no Allianz Parque e válido pela 11ª rodada do Brasileirão. Destaque aqui para mais uma grande atuação de Gustavo Scarpa jogando como “winger” na formação escolhida por Abel Ferreira para o Palmeiras contra o Peixe.

É lógico que a formação clássica dos anos 1990 (dois volantes, dois meias de criação e dois atacantes) acaba com a profundidade e a amplitude de qualquer equipe e sobrecarrega ao extremo os laterais (que precisam apoiar o ataque e ter fôlego para fechar a linha defensiva várias e várias vezes durante um jogo) quando executada nos nossos dias do mesma maneira que há 25 ou 30 anos. Abel Ferreira fez uma adaptação simples com os meias Gustavo Scarpa e Raphael Veiga. Quando um centralizava (e abria o corredor para a subida de um dos laterais), o outro abria o campo e puxava a marcação adversária. O Santos, por sua vez, demorou a entender essa dinâmica do Palmeiras e, embora estivesse com mais posse de bola, esbarrava nas duas linhas bem organizadas à frente da área de Jailson. O gol de Gustavo Gómez (na fortíssima jogada de bola parada de Abel Ferreira) abriu os caminhos para o Verdão.

Gustavo Scarpa e Raphael Veiga se revezavam entre o centro e o lado do campo no 4-2-2-2/4-4-2 de Abel Ferreira num Palmeiras envolvente e muito agressivo no ataque. O Santos de Fernando Diniz demorou para entender a movimentação do seu adversário no Allianz Parque. Foto: Reprodução / YouTube / GE

É interessante notar que o quarteto ofensivo não ficava estático. Era comum ver Deyverson jogando pelo lado, Breno Lopes atacando o espaço, Raphael Veiga surgindo como uma espécie de “enganche” enquanto Gustavo Scarpa permanecia um pouco mais recuado (quase alinhado aos volantes Zé Rafael e Danilo no meio-campo). O Santos concentrava demais as suas jogadas pelo lado esquerdo com Gabriel Pirani, Jean Mota e Lucas Braga. A consequência disso era o isolamento de Marinho pelo lado direito, lentidão nas trocas de passe e um enorme buraco no meio-campo. O Palmeiras, por sua vez, protegia a zaga formada por Felipe Melo e Gustavo Gómez e fechava os lados do campo com Breno Lopes e Raphael Veiga num 4-4-2 mais ortodoxo. Gustavo Scarpa permanecia um pouco mais à frente para aproveitar a sobra e acionar Deyverson no comando de ataque. Posse retomada e alta velocidade nas transições.

O Palmeiras se fechava com duas linhas de quatro à frente de Jailson quando o Santos estava com a bola. Raphael Veiga e Breno Lopes voltavam e fechavam os lados do campo e Gustavo Scarpa se posicionava um pouco mais à frente para puxar os contra-ataques. Foto: Reprodução / YouTube / GE

O Santos melhorou seu desempenho depois que Fernando Diniz sacou Danilo Boza e Jean Mota e mandou Alison e Carlos Sánchez para o jogo. Mesmo assim, a impressão que ficava da atuação do Peixe era a de que os jogadores precisavam de mais calma e mais capricho nas finalizações das jogadas. Antes mesmo do camisa 7 diminuir o placar aos 23 minutos do segundo tempo, o auxiliar João Martins ja seguia o plano de Abel Ferreira ao reforçar o meio-campo com a entrada de Patrick de Paula no lugar de Gustavo Scarpa e o retorno ao 4-3-3/4-1-4-1 utilizado várias e várias vezes ao longo dos últimos meses. Mas sem perder a velocidade nos contra-ataques e abrindo completamente a já exposta defesa santista com Wesley e Willian Bigode entrando em diagonal e abrindo o corredor para as descidas de Marcos Rocha e Viña. E isso sem falar em Danilo, o volante que marca, cria e pisa na área com frequência.

Com Wesley, Willian Bigode e Patrick de Paula em campo, o Palmeiras se arrumou num 4-3-3/4-1-4-1 que manteve a estratégia inicial. Marcos Rocha e Viña abriam o campo e Danilo chegava com frequência no campo ofensivo. A defesa do Santos não conseguiu se achar. Foto: Reprodução / YouTube / GE

O Santos ainda diminuiu o placar com mais um pênalti tolo cometido pela defesa do Palmeiras, mas não teve forças (e nem nervos) para buscar o empate. Por mais que Fernando Diniz tenha boas ideias e aposte numa equipe leve, os comandados de Abel Ferreira levaram vantagem também pelo jogo mais físico no meio-campo. E dentro disso, entra todo o repertório tático do treinador português. O resgate e a adaptação do 4-2-2-2 típico dos anos 1990 é apenas mais uma das formações que podem ser utilizadas no Palmeiras dependendo do seu adversário e do contexto que cada partida vai apresentar ao Verdão nessa sequência de temporada. Ao mesmo tempo, Danilo, Felipe Melo, Zé Rafael, Willian Bigode, Deyverson, Raphael Veiga e (principalmente) Gustavo Scarpa vêm mostrando que assimilaram muito bem as ideias de Abel Ferreira. Não é por acaso que a equipe assumiu a liderança do Brasileirão depois dessa vitória.

A temporada ainda é longa e a tendência é que Abel Ferreira siga se adaptando às circunstâncias que vão aparecer pela frente. O treinador português sabe que vai precisar dos seus jogadores nas melhores condições para atingir seus objetivos. E um dos trunfos do Palmeiras é a versatilidade e o repertório tático do seu comandante. A vitória sobre o Santos de Fernando Diniz (embora a defesa tenha vacilado em alguns lances) dá confiança e respalda esse processo.

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