Seleção italiana conta com cinco ex-atletas da Samp nos anos 90, além do técnico, Roberto Mancini, maior jogador da história do clube genovês, em sua comissão técnica
No final dos anos 1980 e no começo dos 1990, a reunião de um grupo unido e competente ao redor de um craque fez acontecer um dos grandes fenômenos do futebol europeu da época. Hoje, essa mesma reunião ajuda a explicar outro fenômeno: o sucesso da Itália na Eurocopa 2020.
A Azzura, afinal, saiu do pior momento de sua história para a final do maior torneio do seu continente, que será disputada neste domingo (11), as 16h, contra a Inglaterra. Desde o título da Copa do Mundo, em 2006, a equipe colecionava fracassos nas grandes competições, como as duas eliminações em sequência na fase de grupos dos Mundiais de 2010 e 2014 e, claro, a ausência da Copa da Rússia, em 2018.
De todas as derrotas, a última certamente foi a pior, quebrando uma sequência de 14 participações consecutivas na maior competição do futebol mundial. Foi também a que provocou a maior transformação. Meses depois, Roberto Mancini assumiu o comando técnico da seleção e começou a desenhar o fenômeno.
Mancini, a Sampdoria e a Itália
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Roberto Mancini chegou bem quisto à seleção italiana, como um bom nome para a necessária reconstrução da equipe. O treinador, afinal, tinha um bom currículo na profissão, com Inter de Milão e Manchester City entre as principais experiências profissionais, e títulos nacionais na Inglaterra e na “Bota” como destaques.
Mas sua imagem perante ao público italiano ia além de sua carreira no banco de reservas. Mancini foi um cracaço de bola enquanto jogador, um meia atacante inteligente, habilidoso e artilheiro. E que liderou uma das mais impressionantes equipes da história do futebol da Itália, a Sampdoria dos anos 90.
O ex-jogador, na verdade, começou a jogar no clube — e a conquistar títulos, os primeiros da história da Doria — nos meados dos anos 1980. Mas foi em 1990 que capitaneou o time em seu maior feito, a conquista do Campeonato Italiano de 1991.
A Sampdoria, para quem não sabe, foi fundada só em 1946 e nunca esteve perto de igualar o número de torcedores ou de investimentos dos gigantes Milan, Inter e Juventus, ou mesmo o Napoli, que naquela altura tinha “só” Diego Maradona trajando sua camisa 10.
Conquistar, portanto, um scudetto com tamanha “desvantagem”, ainda mais no período conhecido como uma espécie de “era dourada” do Calcio, foi um feito e tanto da Samp. Só foi possível, é bom dizer, porque Mancini se rodeou de colegas unidos e competentes, aquele mesmo grupo que falamos lá no começo — e que se reuniu de novo, décadas depois, na seleção italiana.
A comissão técnica italiana
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Roberto Mancini, Alberico Evani, Attilio Lombardo, Giulio Nuciari, Fausto Salsano, Gianluca Vialli. Todos estes nomes fizeram parte, em algum momento, do “esquadrão imortal” que conquistou todos os títulos de elite da história da Sampdoria, e também fazem parte, atualmente, da comissão técnica da Itália.
Evani e Lombardo, antigos meia esquerda e meia direita, respectivamente, são os atuais assistentes técnicos de Roberto Mancini — as mãos esquerda e direita do treinador, para ficar poético. Nuciari, ex-goleiro, é um auxiliar que atua mais na preparação e acompanhamento dos treinos, função que divide com Salsano, antigo ponta direita da Samp.
Todos estes chegaram, se não juntos, meses antes ou depois de Roberto Mancini na Itália, e todos tiveram papéis importantes na Sampdoria dos anos 90 — que também tinha ninguém menos que Toninho Cerezo entre os destaques, é importante pontuar.
Curiosamente, quem chegou por último na seleção italiana foi justamente o mais importante para a Samp. Gianluca Vialli, o centroavante, que fez uma dupla primorosa com Mancini. Esta era chamada carinhosamente de “gêmeos do gol”, tamanha era a quantidade e a qualidade de jogadas que os dois armavam entre si em campo.
Vialli se juntou à trupe no final de 2019, mas na direção. Foi contratado como coordenador técnico e chefe de delegação, fazendo a comunicação entre as categorias e usando e abusando de seu entrosamento com o atual treinador para melhorar a comunicação dentro da Azzura.
Vale dizer que houve um reforço de “última hora”, que não tem nada a ver com a Sampdoria, mas tudo com a Itália, Daniele De Rossi, volante ex-Roma que também se tornou auxiliar de Mancini.
A contribuição da Samp para a Seleção Italiana
O trabalho de Roberto Mancini e a sua comissão na Itália vai muito além da Sampdoria, como mostra o currículo do grupo. É bem fácil, porém, fazer paralelos entre a equipe dos anos 1990 e a finalista da Euro 2020.
A Samp de 1990-1991, afinal, era igualmente competente, técnica e competitiva, com um notável equilíbrio entre ataque e defesa. Naquela temporada, foram 34 jogos, 20 vitórias, 11 empates e 3 derrotas, com 54 gols marcados e 24 sofridos.
A seleção italiana de Mancini, por sua vez, tem a qualidades bastante similares, com um jogo apoiado, intenso e compacto, independentemente do momento da partida em que se encontra. Nos últimos 34 jogos, foram 27 vitórias, 4 empates e 3 derrotas, com 85 gols marcados e 11 sofridos. E o título, será que vem também?
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