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Jogo coletivo foi o grande trunfo da Seleção Feminina na vitória sem sustos sobre a Rússia

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe de Pia Sundhage no penúltimo amistoso antes da disputa dos Jogos Olímpicos.

Por Luiz Ferreira em 12/06/2021 01:55 - Atualizado há 10 meses

Richard Callis / SPP / CBF

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe de Pia Sundhage no penúltimo amistoso antes da disputa dos Jogos Olímpicos.

Está certo que a Rússia quase não causou problemas para a Seleção Feminina. A postura da equipe foi bastante conservadora e reativa e os pontos fracos do escrete canarinho não foram testados. Mesmo assim, o grande ponto positivo na partida desta sexta-feira (11) foi a maneira como a equipe comandada por Pia Sundhage se comportou durante os noventa minutos. Linhas adiantadas, muita movimentação no terço final, trocas de posição, ultrapassagens das laterais e uma eficiente pressão pós-perda no campo adversário. Por mais que o escrete russo não tenha oferecido lá muito perigo para a meta defendida por Bárbara, o escrete canarinho deixou muito boa impressão no penúltimo teste antes da convocação final para a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ainda que a atuação contra as russas precise ser relativizada, a Seleção Feminina soube bem como encontrar o caminho para o gol.

A equipe comandada por Pia Sundhage se deparou com uma Rússia que marcava em bloco baixo num 4-1-4-1 compactado e que buscava as bolas longas para as atacantes Yakupova, Sheina e Pantyukhina às costas última linha brasileira. Só que a Seleção Feminina marcava muito bem a saída de bola adversária para recuperar a posse e reiniciar as jogadas de ataque. Embora Letícia Santos tenha guardado mais sua posição nos primeiros minutos, o 4-4-2 inicial do escrete canarinho se desdobrava num 4-2-2-2 extremamente móvel e intenso nas transições com Bia Zaneratto vindo buscar o jogo entre as linhas adversárias e com muitas ultrapassagens pelos lados do campo. A formação escolhida por Pia Sundhage não conseguia criar tanto por dentro e precisava da força do apoio das suas laterais para chegar na área russa. As jogadas fluíam bem e a Seleção Feminina chegava no setor ofensivo com muito volume de jogo.

A Rússia tentou se fechar na frente da sua área num 4-1-4-1, mas a Seleção Feminina conseguia achar os caminhos para a área adversária com muito toque de bola e velocidade nas transições. Destaque para as atuações seguras de Letícia Santos e Tamires nas laterais. Foto: Reprodução / YouTube / Desimpedidos

A movimentação de Marta e Debinha vindo buscar o jogo por dentro no 4-2-2-2 de Pia Sundhage permitia que Letícia Santos e (principalmente) Tamires subissem muito ao ataque para buscar a linha de fundo ou a tabela com Ludmila e Bia Zaneratto no terço final. Na defesa, a Seleção Feminina se fechava num 4-4-2 (com duas linhas na frente da área defendida pela experiente Bárbara) e buscava retomar a bola o mais rápido possível. Na prática, uma equipe muito mais móvel e que adaptava com muito mais eficiência as características de cada jogadora em campo do que em outros tempos. Fora a força nas bolas levantadas na área, ponto que teve a atenção de Pia Sundhage nos treinamentos com a equipe. Bruna Benites abriu o placar aos 41 minutos da primeira etapa após cobrança de escanteio de Andressinha no lado esquerdo. A vantagem fazia justiça à atuação do escrete canarinho em Cartagena.

Pia Sundhage apostou num 4-4-2/4-2-2-2 para encaixar os talentos de Marta, Debinha, Formiga, Bia Zaneratto e outras jogadoras sem que a Seleção Feminina perdesse o equilíbrio. A Rússia pouco ameaçou, mas o time se comportou bem durante os noventa e poucos minutos. Foto: Reprodução / YouTube / Desimpedidos

A sueca Pia Sundhage mexeu na Seleção Feminina após o intervalo da partida e deu minutos para Poliana, Júlia Bianchi, Adriana, Jucinara, Andressa Alves e Giovana. O 4-4-2/4-2-2-2 não foi modificado e a equipe brasileira seguia com muito mais força pelos lados do campo e com a marcação mais frouxa por dentro. Só que a Rússia pouco apareceu no campo de ataque com as mexidas do Yuri Krasnozhan (que trocou o 4-1-4-1 pelo 4-4-2 no segundo tempo) e ainda concedia muitos espaços na sua defesa. Bruna Benites faria o segundo (aos 18 minutos da segunda etapa) em nova cobrança de escanteio realizada por Andressa Alves do lado direito. A camisa 7 ainda faria o terceiro (aos 35 minutos) em jogada iniciada da direita e que terminou com a brasileira escorando para o gol vazio. Apesar da equipe mais “paradona” nos 45 minutos finais, a Seleção Feminina manteve o volume de jogo e a forte marcação no meio-campo.

A Seleção Feminina manteve a postura mais agressiva na marcação no segundo tempo ainda que Andressa Alves tenha vindo jogar um pouco mais por dentro em determinados momentos. A Rússia, por sua vez, pouco conseguia fazer diante de tanto volume de jogo em Cartagena. Foto: Reprodução / YouTube / Desimpedidos

É verdade que a boa atuação contra a Rússia ainda deixou muitas perguntas sem respostas na Seleção Feminina. A começar pela defesa. Bárbara foi pouco testada na partida, assim como a linha defensiva formada por Letícia Santos, Bruna Benites, Rafaelle e Tamires. Andressinha e Formiga tinham muito espaço para iniciar a saída de bola no meio-campo sem que fossem incomodadas pelas russas. Tanto que o volume de jogo da Seleção Feminina aumentou consideravelmente depois das entradas de Júlia Bianchi e Adriana, muito mais móveis e intensas do que as mais veteranas. É compreensível que o torcedor tenha ficado empolgado com a ótima atuação coletiva da Seleção Feminina e com a maneira como Pia Sundhage se conectou ao grupo nesses últimos meses. E é exatamente por isso que é preciso ter calma e não criar expectativas falsas. Ainda mais quando a sua última lista esteve cercada de polêmicas.

Mas a grande virtude de uma líder é saber ouvir seu grupo. E Pia Sundhage o fez. Não é exagero nenhum afirmar que essa Seleção Feminina foi cirúrgica nas mensagens passadas antes, durante e depois da partida contra a Rússia. Discutiu-se muito mais o fato dos jogadores da equipe masculina não quererem jogar a Copa América do que a acusação de assédio sexual envolvendo Rogério Caboclo. A manifestação correta e sem concessões foi forte e precisa. Como sempre.

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