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Experiência, entrosamento e futebol ofensivo: o que esperar da Seleção Olímpica nos Jogos de Tóquio

Luiz Ferreira analisa a lista final de convocados para o torneio de futebol masculino e o planejamento de André Jardine na coluna PAPO TÁTICO

Por Luiz Ferreira em 17/06/2021 17:30 - Atualizado há 10 meses

Thais Magalhães / CBF

Luiz Ferreira analisa a lista final de convocados para o torneio de futebol masculino e o planejamento de André Jardine na coluna PAPO TÁTICO

Os dezoito nomes escolhidos por André Jardine para a disputa do bicampeonato olímpico em Tóquio foram escolhidos levando-se em consideração dois pontos básicos. O primeiro deles foi, sem dúvida, o entrosamento e o conhecimento prévio das ideias do treinador da Seleção Olímpica durante todo o período de preparação. E o segundo (e talvez até mais importante) é a necessidade de se agregar experiência a um grupo que já apresentou oscilações grandes nas partidas da equipe nesses últimos meses. Está claro que André Jardine vai manter seu estilo quase inegociável com as linhas altas de marcação, a inversão para o 3-2-5, o jogo posicional e a alta intensidade nas transições. Ao mesmo tempo, as apostas em Santos, Daniel Alves e Diego Carlos também aponta para o preenchimento das vagas que (com toda a certeza) seriam de Neymar, Marquinhos e Weverton em mais um ciclo olímpico.

É possível questionar este ou aquele nome da lista final de convocados por André Jardine, mas o que não se pode negar é a qualidade dos dezoito chamados para os Jogos Olímpicos. E como apenas dezoito jogadores podem ser chamados, o técnico do escrete canarinho optou (como esperado) por quem pode cumprir mais de uma função tática em campo. Se Gabriel Menino foi bem atuando como lateral-armador nos amistosos contra Cabo Verde e Sérvia, Daniel Alves tem plenas condições de elevar o patamar da função a níveis estratosféricos. E André Jardine sabe muito bem que a experiência dos seus 38 anos e das prateleiras lotadas de troféus com certeza serão incrivelmente úteis nos jogos contra Alemanha, Costa do Marfim e Arábia Saudita. Ao mesmo tempo, a Seleção Olímpica ganha muito com seus passes decisivos, sua visão de jogo e sua polivalência com e sem a bola.

Vale lembrar que o sistema defensivo é um dos grandes problemas da equipe comandada por André Jardine. O ímpeto ofensivo e a necessidade de se jogar com as linhas bem altas acabam deixando a defesa desguarnecida em determinados momentos. É exatamente por isso que o nome de Diego Carlos foi lembrado. O zagueiro do Sevilla mostrou boa desenvoltura jogando sob o comando de Julen Lopetegui num esquema tático semelhante ao adotado por André Jardine na Seleção Olímpica. Por conta das boas atuações nas duas últimas temporadas (onde até fez gol de título de Liga Europa em 2019/20), foi lembrado por muita gente nas convocações de Tite para a Seleção Principal, mas acabou ficando de fora das últimas listas. Diego Carlos pode ser o nome que faltava para dar mais consistência ao sistema defensivo da Seleção Olímpica e agregar mais força e bom posicionamento ao setor.

E chegamos na posição que é a mais delicada de qualquer time de futebol do mundo. Por mais que André Jardine tenha e chamado nomes como Ivan (da Ponte Preta) e Cleiton (do Bragantino), o treinador da Seleção Olímpica vai apostar as suas fichas em Santos, goleiro do Athletico Paranaense. Difícil não imaginar que a escolha tenha se dado por conta da recusa do Palmeiras em liberar Weverton (um dos heróis da conquista da medalha de ouro na Rio 2016) e pela falta de rodagem de Brenno (goleiro do Grêmio) e dos nomes já citados anteriormente. Santos tem passagens pela equipe principal da Seleção Brasileira e pode ser muito útil numa equipe que precisa de experiência e segurança, ainda que não se sabia se ele será realmente o titular da Seleção Olímpica. Mesmo assim, a sua escolha foi, de certa forma, coerente e segue a linha do que André Jardine quer para sua equipe em Tóquio.

Por outro lado, é muito complicado se pensar num “time titular” diante de algumas incertezas. Douglas Luiz (do Aston Villa) está com Tite na disputa da Copa América e só deve se juntar ao escrete olímpico depois de todo o grupo. Ainda existe toda a polêmica envolvendo o nome de Pedro. De acordo com o que vem sendo publicado na imprensa, o camisa 21 do Flamengo já sabe que não será liberado pela diretoria apesar do seu nome constar na lista final de convocados para a Seleção Olímpica. É como se a CBF estivesse jogando com os clubes e vice-versa. Caso o Brasil falhe na missão em Tóquio e não traga a medalha de ouro, a culpa cairá sobre os ombros dos clubes que não liberaram os atletas. Se Flamengo, São Paulo, Fluminense ou qualquer outra equipe for mal na Copa do Brasil e/ou na Libertadores, vão responsabilizar a CBF por ter desfalcado o elenco em competições importantes.

O que é certo (pelo menos para este que escreve) é que todos estão certos nas suas reivindicações. Pedro tem todo o direito de ficar chateado por não ser liberado para a Seleção Olímpica, o Flamengo pode (e deve) brigar para ter desfalques em competições importantes e André Jardine deve sim pensar no melhor para sua equipe. O que se vê (e dificulta as análises mais profundas de como o treinador pode pensar o time para a disputa da medalha de ouro) é o jogo de interesses de clubes e CBF. Ainda mais com a tal “liga independente” surgindo no horizonte. Difícil não imaginar que os bastidores estejam influenciando na montagem do elenco para os Jogos de Tóquio. Pedro é um baita centroavante, de ótima movimentação e que se encaixa como uma luva no esquema tático de André Jardine. Mas o que está na mesa não é uma medalha olímpica. É o mais puro jogo de poder.

É possível imaginar um meio-campo com Bruno Guimarães, Douglas Luiz e Claudinho (ou Gerson) servindo Malcom, Antony e Pedro no ataque. E uma defesa com Santos, Daniel Alves, Diego Carlos, Gabriel Magalhães e Guilherme Arana. Tudo no 4-3-3/3-2-5 bem conhecido de André Jardine. Ótimo time com ótimas peças de reposição. Resta saber qual será o elenco que o treinador da Seleção Olímpica terá à sua disposição em Tóquio.

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