Seleção Olímpica é vítima da afobação e das comparações sem sentido na derrota para Cabo Verde
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe comandada por André Jardine em amistoso disputado neste sábado (5), em Belgrado.
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação da equipe comandada por André Jardine em amistoso disputado neste sábado (5), em Belgrado.
Assim que André Jardine anunciou a sua lista de convocados para a Seleção Olímpica, este que escreve exaltou a grande qualidade individual dos nomes chamados para os amistosos de preparação para os Jogos Olímpicos de Tóquio. A nova geração tem MUITO talento e fez com que muita gente comparasse a equipe sub-23 com o escrete comandado por Tite ainda que cada um tenha seu contexto bem específico. Acabou que a equipe brasileira foi derrotada por Cabo Verde neste sábado (5) por 2 a 1 de virada (em Belgrado) e apresentou os mesmos problemas defensivos e coletivos dos tempos do Pré-Olímpico da Colômbia (em 2020). É verdade que a atuação da Seleção Olímpica deve ser relativizada por uma série de fatores importantes, mas é não é muito difícil concluir que o time de André Jardine se tornou vítima da própria afobação nos momentos decisivos e de comparações meio sem sentido.
Como já era de se esperar, a Seleção Olímpica começou a partida impondo seu estilo mais agressivo e ofensivo de jogo. O 4-4-2/4-2-3-1 de André Jardine fazia a variação para o 3-2-5 com Gabriel Menino um pouco mais por dentro (e próximo da dupla de zaga formada por Nino e Gabriel Magalhães), Gerson e Bruno Guimarães iniciando a saída de bola, Rodrygo e Antony (os pontas com os “pés invertidos) pelos lados do campo, Guilherme Arana apoiando bastante o ataque e Claudinho bem próximo de Pedro. A equipe brasileira circulava bem a bola, variava seu posicionamento, mas não conseguia furar o 5-4-1 bem compactado e organizado de Cabo Verde. Isso porque a Seleção Olímpica pouco se movimentava no sentido de criar profundidade e quebrar as linhas do seu adversário. A equipe valorizava a posse da bola, mas sem conseguir transformar esse domínio territorial numa superioridade mais clara.
A Seleção Olímpica tinha a posse da bola e era bastante móvel no terço final, mas não conseguia quebrar as linhas do 5-4-1 de Cabo Verde. A variação para o 3-2-5 proposta por André Jardine não conseguia gerar a profundidade necessária para abrir espaços na frente da área. Foto: Reprodução / SPORTV
O gol marcado por Pedro aos 38 minutos da primeira etapa (após penalidade discutível marcada pela arbitragem) dava a (falsa) impressão de que a Seleção Olímpica iria deslanchar na partida. Só que a equipe de André Jardine acabou relaxando na partida e baixando o nível de concentração. Logo numa das primeiras subidas de Cabo Verde ao ataque, Lisandro Semedo apareceu dentro da área brasileira e empatou a partida aos 45 minutos. Aliás, o início do lance merece a nossa atenção. Gerson (no destaque) vê o camisa 18 recebendo o passe na intermediária e acionando Stopira pela esquerda (às costas de Gabriel Menino). O que acontece daí até a conclusão do lance é um belo resumo dos problemas defensivos da equipe de André Jardine. Além da falta de concentração deste ou daquele jogador, a Seleção Olímpica ainda peca demais na recomposição defensiva. E isso ficou evidente nesse sábado (5).
O comportamento de Gerson em todo o lance que originou o primeiro gol de Cabo Verde ajuda a explicar os problemas defensivos da Seleção Olímpica. A falta de intensidade na recomposição ainda é um dos grandes problemas da equipe de André Jardine. Foto: Reprodução / SPORTV
A afobação de Pedro, Antony, Claudinho, Malcom e Gabriel Martinelli era nítida nos poucos momentos em que a Seleção Olímpica conseguia vencer o forte bloqueio defensivo da equipe de Cabo Verde. A equipe comandada por Pedro Bubista, por sua vez, viu que o “bicho não era tão feio assim” e começou a avançar as suas linhas para pressionar a saída de bola do escrete canarinho. Aos 38 minutos da segunda etapa, Gabriel Magalhães e Matheus Henrique não conseguiram fugir da pressão e perderam a bola dentro da área para Willy Semedo, que conduziu até o meio da área e acertou o ângulo de Cleiton. Os nervos, que já estavam à flor da pele por conta das falhas no ataque, ficaram em frangalhos depois da virada (justa) de Cabo Verde. O que se viu ate o apito final foi uma Seleção Olímpica que sofria para encontrar espaços e abusou das bolas levantadas na área em busca de Evanílson.
Matheus Henrique, Gabriel Magalhães e todo o sistema defensivo falhou bisonhamente na origem do lance do segundo gol de Cabo Verde. A Seleção Olímpica não conseguiu fugir da pressão e girar a bola com velocidade suficiente para sair da zona de perigo. Foto: Reprodução / SPORTV
A derrota para a aplicada e organizada equipe de Cabo Verde foi um balde d’água fria em todos aqueles que insistiam em fazer comparações entre as equipes de André Jardine e Tite nesses últimos dias. São jogadores diferentes, comissões técnicas diferentes, estilos de jogo diferentes e contextos completamente diferentes. Ainda mais quando se sabe que a Seleção Brasileira passa por uma crise sem precedentes causada por Rogério Caboclo, seus desmandos na CBF e suas acusações de abuso sexual. Comparar uma equipe com outra é trazer toda essa confusão para a Seleção Olímpica que, até onde se sabe, tem se mostrado alheia a tudo isso (até por estar concentrada em Belgrado) e tentar apagar o incêndio do time principal com gasolina. Muitos desses jogadores têm todas as condições de disputar uma Copa daqui a algum tempo. Mas é preciso respeitar todos os processos.
Mesmo assim, este que escreve deixa um recado para aqueles que ainda insistem em comparar os trabalhos e as escolhas de Tite e André Jardine. Já se sabe que um dos problemas mais crônicos da Seleção Olímpica reside na falta de consistência do seu sistema defensivo que, por sua vez, é um dos pontos mais fortes da equipe principal. Ou se leva em consideração cada contexto, ou vamos ficar correndo atrás do próprio rabo em mais um ciclo olímpico.
🔎| Curiosidade:
A Seleção Brasileira Olímpica vem de 2 derrotas seguidas, ambas de virada e pelo mesmo placar: em 17/11/2020 perdeu para Egito por 2-1 e hoje perdeu para Cabo Verde também por 2-1.
Além disso, a equipe de André Jardine sofreu gols em 8 das últimas 9 partidas. pic.twitter.com/Me7TEWwCSK
— Sofascore Brazil (@SofascoreBR) June 5, 2021
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