Empate sem gols com a Espanha expõe ainda mais a falta de criatividade da Seleção de Portugal; confira a análise
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação das equipes comandadas por Fernando Santos e Luís Enrique no amistoso desta sexta-feira (4)
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a atuação das equipes comandadas por Fernando Santos e Luís Enrique no amistoso desta sexta-feira (4)
É bem possível que alguns enxerguem no título desta humilde análise uma crítica exagerada e descabida dirigida ao técnico Fernando Santos. Mas é preciso admitir que o empate sem gols com a Espanha nos apresentou uma Seleção Portuguesa jogando muito abaixo daquilo que já jogou em outros tempos menos complicados. Por mais que o contexto imposto pela pandemia de COVID-19 deva ser levado em consideração, fato é que Cristiano Ronaldo, Diogo Jota, Renato Sanches e companhia não mostraram muitas alternativas táticas no amistoso dessa sexta-feira, no Estádio Metropolitano de Madrid, em amistoso de preparação para a Eurocopa 2021. Muito por conta da boa organização defensiva da Espanha de Luís Enrique e da sua escolha por um time mais leve e móvel no ataque. Diante disso, não é difícil concluir que Portugal pode entregar muito mais em campo. Ainda mais com essa quantidade de bons jogadores.
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Fernando Santos apostou num 4-1-4-1 de postura mais pragmática e reativa para encarar uma Espanha que demonstrava grande apreço pela troca de passes rápidos e pela construção das jogadas desde o campo defensivo. De acordo com os números do SofaScore, a “Roja” teve um total de 64% de posse de bola contra apenas 36% de Portugal. Luís Enrique apostava num 4-3-3 mais nítido com muita compactação entre as linhas e muita movimentação no meio-campo coo Busquets distribuindo passes, Fábian Ruiz e Thiago Alcântara próximos do trio ofensivo formado por Ferrán Torres, Morata e Pablo Saraiva. A equipe lusitana até que conseguia chegar no campo adversário quando Cristiano Ronaldo se movimentava um pouco mais. No entanto, João Félix e Diogo Jota não conseguiam se achar na marcação espanhola. Renato Sanchez ainda tentou aparecer mais no ataque, mas o time de Fernando Santos pouco ameaçou.
Portugal encontrou muitas dificuldades para superar o eficiente bloqueio defensivo da Espanha. Cristiano Ronaldo, Diogo Jota e João Félix ficaram encaixotados na marcação e pouco acrescentaram no setor ofensivo do escrete de Fernando Santos. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports
A postura mais conservadora de Portugal também aproveitava muito pouco os talentos de Sérgio Conceição e Renato Sanchez no meio-campo e a velocidade dos laterais Semedo e Raphael Guerreiro no apoio ao ataque. Na prática, a equipe comandada por Fernando Santos pouco ameaçou o gol de Unai Simón e parecia estar visivelmente se poupando de uma entrada mais forte. Não é difícil concluir que a cabeça de todos já está na Eurocopa. Isso é fato. Ainda mais quando os únicos lances de perigo por parte do escrete lusitano na primeira etapa nasceram de uma bola mal rebatida pelo goleiro espanhol em cima de Cristiano Ronaldo e de um gol (bem) anulado de José Fonte. Ao mesmo tempo, a Espanha pecava pela falta de objetividade e de capricho no último passe e nas conclusões a gol. Não foram poucas as vezes em que o time comandado por Luís Enrique apareceu no campo ofensivo em boas condições de abrir o placar.
Fernando Santos ainda tentou dar sangue novo ao escrete português com as entradas de Bruno Fernandes, William Carvalho e Pedro Gonçalves, mas o panorama pouco mudou, já que a Espanha mantinha a posse da bola e gerava amplitude e profundidade com a inversão para um 3-2-5 com Sarabia e Ferrán Torres bem abertos e Morata empurrando a defesa lusitana para trás. O 4-1-4-1 inicial de Portugal foi mantido, mas a equipe ainda deixava muito a desejar em termos coletivos. A única chance real de perigo no segundo tempo foi uma cabeçada de Diogo Jota que passou muito perto do travessão. E só. Do outro lado, a Espanha mantinha seu plano de jogo, mas ainda sem a objetividade necessária para transformar essa superioridade nos gols tão desejados. Acabou que o placar zerado no Estádio Metropolitano de Madrid foi o resultado mais justo diante de tudo o que foi visto dentro de campo.
A Espanha de Luís Enrique fazia muito bem a inversão para o 3-2-5, mas ainda sem a objetividade e o acabamento necessário em cada jogada. Portugal, por sua vez, seguia concedendo muitos espaços no meio-campo e sendo pouco efetivo no ataque. Foto: Reprodução / YouTube / TNT Sports
É obvio que as coisas podem ser muito diferentes na disputa da Eurocopa. O nível de exigência será muito maior do que o do amistoso dessa sexta-feira (4) e o contexto será completamente diferente. Por outro lado, é bem fácil concluir que a equipe que terá vida bastante complicada no torneio continental será Portugal. Não somente por fazer parte do chamado “grupo da morte” (junto com Alemanha, França e Hungria), mas por ser a única seleção que mostrou pouca evolução nos últimos meses. A impressão que fica é a de que Fernando Santos anda bastante preocupado com seu sistema defensivo e sua dupla de zaga formada por Pepe (38 anos) e José Fonte (37 anos). Por mais que tenham qualidade, existe a necessidade de se reforçar o meio-campo para que os dois não fiquem completamente expostos. A questão, no entanto, é que isso deixa o escrete lusitano sem muita força criativa. E isso é preocupante.
É nítido que Fernando Santos precisa equilibrar mais seus setores e encontrar um meio de dar mais consistência ao time como um todo sem que Cristiano Ronaldo, João Félix, Diogo Jota e outros fiquem isolados na frente esperando passes longos. Portugal tem peças e condições de jogar mais do que vem jogando. O problema é que as últimas atuações da equipe não passaram muita confiança no torcedor e também neste que escreve.
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