Se não tiver drama, não é a Itália: algumas impressões sobre o jogaço contra a Áustria
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o duelo de estratégias travado por Roberto Mancini Franco Foda nas oitavas de final da Eurocopa
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o duelo de estratégias travado por Roberto Mancini Franco Foda nas oitavas de final da Eurocopa
A partida contra a bem organizada Áustria de Franco Foda não deixava de ser uma espécie de batismo de fogo para a ótima Itália de Roberto Mancini. Ainda mais depois da campanha perfeita na primeira fase da Eurocopa (obtida com ótimo desempenho dentro de campo) e das marcas ostentadas pela Squadra Azzurra ao longo dos últimos meses. A expectativa era alta e talvez esse tenha sido a grande razão da Itália ter sentido um pouco o peso emocional do jogo único das oitavas de final. Mas a classificação veio. Com as já conhecidas doses cavalares de drama de uma seleção que vai do inferno ao céu e vice-versa em questão de minutos, é verdade. Mas mantendo o padrão de jogo e contando com as mexidas precisas de Roberto Mancini na vitória emocionante sobre a Áustria por 2 a 1 neste sábado (26), em Wembley. Afinal de contas, se não tiver drama, não é a Itália que a gente conhece.
FT | Italy win!
Extra time was the most exciting period of the match, as #ITA took a 2:0 lead, only for #AUT to get one back 6 minutes from time to make things interesting right until the very end!
Italy reach the quarterfinals for the 4th straight Euros!#EURO2020 #ITAAUT pic.twitter.com/hNpOV7JbZT
— Sofascore (@SofascoreINT) June 26, 2021
Mas a equipe comandada por Franco Foda criou vários e vários problemas para a Squadra Azzurra. Primeiro por conta da boa marcação na frente da área do goleiro Bachmann com Konrad Laimer voltando para auxiliar Stefan Lainer no lado direito de defesa, setor onde Spinazzola (a principal válvula de escape da Itália) aparecia com frequência. E depois pelo nervosismo evidente dos atletas italianos no início de partidas. Com Verratti mais próximo de Jorginho, Barella se aproximando de Immobile, Insigne e Berardi, o 4-3-3 de Roberto Mancini se desdobrava num 3-2-5 que tentava se impor na base do volume de jogo, mas que sempre pecava pelo refinamento nas conclusões a gol ou no último passe. Apesar da posse de bola e do acerto nos passes, a melhor chance da Squadra Azzurra no primeiro tempo nasceu de um chute de longa distância de Immobile que acertou a trave direita de Bachmann.
Válcula de escape da Itália de Roberto Mancini, Spinazzola era bem vigiado por Stefan Lainer e Konrad Laimer no lado direito da defesa austríaca. A equipe de Franco Foda não abriu mão do ataque embora tenha sentido um pouco o volume de jogo da Squadra Azzurra no final do primeiro tempo.
O volume de jogo e o ritmo intenso da Itália no “perde-pressiona” quase perfeito de Roberto Mancini cobrou seu preço na segunda etapa. A queda física da Squadra Azzurra era nítida e a Áustria começava a levar certo perigo com ligações diretas e bolas para Baumgartner, Arnautovic e Sabitzer. Já sem o vigor dos primeiros 45 minutos, a equipe italiana passou por alguns sustos e via seu adversário equilibrar as ações na base da força e da entrega de seus jogadores. Ao mesmo tempo, Franco Foda adiantava as linhas da sua equipe para tirar o espaço de Jorginho e Verratti no meio-campo e criar algumas chances com bolas levantadas na área a partir da movimentação de Arnautovic e das chegadas de David Alaba ao ataque como uma espécie de “lateral-armador”. O camisa 7 chegou a balançar as redes italianas aos 19 minutos, mas o VAR viu impedimento do atacante no lance.
A queda física da Itália foi bem aproveitada pela Áustria no segundo tempo. Franco Foda adiantou as linhas da sua equipe e viu seus jogadores levarem vantagem nos duelos físicos e explorarem bem os espaços que apareceram na defesa da Squadra Azzurra. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
Diante do crescimento de produção da Áustria no segundo tempo, Roberto Mancini agiu rápido e trocou Barella e Verratti por Pessina e Locatelli. Ao invés de um jogo mais cadenciado no meio-campo, o treinador italiano apostava em mais presença de área e mais chegada no terço final. As entradas de Belotti nos lugares de Immobile e Berardi ajudaram a Squadra Azzurra na produção ofensiva pelo lado direito e nos duelos físicos contra os volantes austríacos. Mesmo assim, a Itália mais parou o ímpeto do seu adversário do que conseguiu criar reais chances de gol nos minutos finais do segundo tempo. A rigor, apenas o voleio furado de Berardi depois de belíssimo cruzamento da esquerda efetuado por Spinazzola. Do outro lado, Franco Foda preferiu segurar as substituições para a prorrogação apesar de ter equilibrado o duelo no mítico estádio de Wembley e ter criado problemas para Donnarumma.
A Áustria melhorou seu desempenho ofensivo no segundo tempo a partir da queda física da Itália com linhas mais adiantadas e ligações diretas. A Squadra Azzurra, por sua vez, retomou o controle da partida em Wembley depois das substituições feitas por Roberto Mancini.
Vale destacar que o grande mérito da Itália foi não perder a concentração e seguir executando o modelo de jogo proposto por Roberto Mancini. Saída pelo chão, infiltrações, velocidade nas trocas de passe no ataque posicional da Squadra Azzurra e muita intensidade nas transições. O (belo) gol de Chiesa (marcado aos quatro minutos do primeiro tempo da prorrogação) nasceu justamente da tão treinada inversão de jogo vista em vários momentos dessa Eurocopa. Spinazzola recebe de Jorginho, vê Chiesa aparecendo às costas de Alaba e faz o passe longo. A mobilidade do ataque italiano também foi vista no gol de Pessina após jogada muito bem trabalhada a partir do campo de defesa da equipe de Roberto Mancini. A Squadra Azzurra ia passando pelo seu maior e mais tenso teste nessa sequência invicta de jogos. Mas com todos os contornos dramáticos bem conhecidos das partidas da Itália ao longo da história.
Jorginho recebe no meio-campo e faz o passe em profundidade para Spinazzola. O camisa 4 da Itália acha Chiesa às costas de Alaba no lance do primeiro gol de uma Itália que não perdeu a concentração e se manteve focada no seu modelo de jogo. Foto: Reprodução / SPORTV / GE
Franco Foda mandou a sua Áustria para o ataque no segundo tempo da prorrogação e conseguiu encerrar o recorde de 1159 minutos sem sofrer gols (superando a marca da Itália de Dino Zoff nos anos 1970) com a cabeçada de Klajdzic. Mesmo assim, o abafa, as ligações diretas e as bolas levantadas na área só aumentou ainda mais o nível dramático de um dos melhores jogos dessa Eurocopa até o momento. É bem verdade que a equipe comandada por Roberto Mancini não tem um jogador que desequilibre as partidas contra seleções mais fortes e mais “cascudas”. Aliás, esse é o grande temor da imprensa italiana com relação à equipe. A falta de experiência dessa que já pode ser considerada como uma das melhores gerações de jogadores dos últimos anos em jogos grandes. Não foi por acaso que Roberto Mancini recorreu ao banco de reservas para manter o nível de intensidade alto e a consistência do seu modelo de jogo.
A classificação para as quartas de final da Eurocopa premiou o desempenho de Spinazzola, Jorginho, Chiesa, Barella e companhia diante de uma Áustria forte e bem organizada. Mas a vaga entre as oito melhores seleções do Velho Continente veio com aquelas conhecidas doses cavalares de dramaticidade bem conhecidas da Squadra Azzurra. Não é pouca coisa. E a atuação da Itália de Roberto Mancini contra a Áustria comprova que esse grupo amadureceu e está pronto para desafios maiores.
Good night, everyone! 💙#VivoAzzurro #ITAAUT #EURO2020 #ITA pic.twitter.com/JmsEZG7ur1
— Italy ⭐️⭐️⭐️⭐️ (@Azzurri_En) June 26, 2021
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