Muita marcação e pouca criatividade: Argentina e Chile empatam em partida sem grandes emoções
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação dos times comandados por Lionel Scaloni e Martín Lasarte no jogo desta quinta-feira (2)
Este que escreve esperava muito mais de Argentina e Chile na partida desta quinta-feira (3). Primeiro por conta da situação das duas seleções nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Enquanto a equipe comandada por Lionel Scaloni ocupa a segunda posição na tabela, o escrete de Martín Lasarte está na sétima posição com apenas cinco pontos em cinco rodadas disputadas. E depois, por conta dos vários talentos em atividade no Estádio Único de Santiago del Estero. De um lado tínhamos Messi, Di María, Paredes, Martínez Quarta, Lautaro Martínez, dentre outros. Do outro, “La Roja” contava com Alexis Sánchez, Eduardo Vargas, Aránguiz, Gary Medel e o rubro-negro Isla. Na prática, o que se viu foi um jogo muito amarrado no meio-campo, equipes que sofriam com a falta de entrosamento e poucos lances de qualidade com a Argentina tendo um desempenho substancialmente melhor do que o Chile.
Um dos pontos mais positivos do trabalho de Lionel Scaloni na Argentina é o fato do treinador adotar a simplicidade na montagem da estratégia para sua equipe. A Albiceleste entrou em campo armada num 4-4-2 que trazia Messi circulando por todo o campo (e explorando o espaço entre as linhas do seu adversário), Lautaro Martínez no comando de ataque e o lateral Foyth guardando mais sua posição na direita para liberar Tagliafico pelo outro lado. Já Martín Lasarte iniciou a partida jogando num 4-4-2 que variava para um 4-3-3 conforme a movimentação de Jean Meneses pela esquerda. O grande problema de “La Roja”, no entanto, estava justamente na falta de compactação e nos espaços que o camisa 9 deixava às suas costas. Não foi por acaso que a Argentina encontrou tanta facilidade para criar suas jogadas com Messi puxando a marcação e abrindo espaços para as subidas de Di María e Lautaro Martínez por ali.
Lionel Scaloni apostou num 4-4-2 que dava liberdade para Messi circular por todo o terço final e Lautaro Martínez no comando de ataque. A Argentina teve facilidade para chegar com perigo no gol de Bravo por conta da falta de compactação do Chile. Foto: Reprodução / SPORTV
O frame acima mostra bem como a Argentina começou melhor a partida, jogando com aproximação entre os jogadores e ocupando bem os espaços. O gol de Messi aos 23 minutos do primeiro tempo (em penalidade confirmada pelo VAR) deu a impressão de que a Albiceleste fosse (finalmente) impor seu ritmo e aumentar a vantagem no placar. Só que o escrete portenho não conseguia colocar a intensidade necessária para aproveitar toda essa falta de compactação defensiva do Chile. Não era difícil perceber a equipe comandada por Martín Lasarte sofria com sérios problemas defensivos. Principalmente nos lados do campo, onde Jean Meneses e Pablo Galdames pouco auxiliavam Isla e Mena na marcação. O gol de Alexis Sánchez (marcado aos 35 minutos da primeira etapa ajudou a disfarçar um pouco essa superioridade da Albiceleste. Mesmo assim, o Chile seguia devendo um futebol mais consistente.
Jean Meneses e Pablo Galdames pouco auxiliavam na defesa e sobrecarregavam todo o sistema defensivo do Chile. A Argentina, por sua vez, não aproveitava as chances que criava e acabou sofrendo o empate em vacilo coletivo após cruzamento de Aránguiz. Foto: Reprodução / SPORTV
A entrada de Pinares no lugar de Palacios melhorou a consistência defensiva de um Chile que até se lançou ao ataque mais vezes no segundo tempo, mas sofreu com a falta de pontaria de Vargas e Alexis Sánchez. Mas o domínio continuou do lado da Argentina. A essa altura, o técnico Lionel Scaloni já havia mandado Julián Álvarez e Ángel Correa para o jogo com o claro objetivo de explorar a marcação frouxa do seu adversário pelos lados do campo. Foi aí que Martín Lasares travou “La Roja” com as entradas de Carlos Palacios e Alarcón nos lugares de Vargas e Aránguiz. O Chile passou a se organizar num 5-4-1 (conforme a movimentação do camisa 21 pelo lado do campo mais próximo de Isla) e linhas mais fechadas. Como resultado dessa alteração tática, a Albiceleste só conseguiu levar perigo em dois chutes de média distância de Messi que foram muito bem defendidos por Claudio Bravo.
Martín Lasares fechou o Chile numa espécie de 5-4-1 para garantir o pontinho conquistado fora de casa e corrigir o posicionamento da sua equipe. Messi foi buscar o espaço vazio pela direita na inversão para o 2-3-5 do time de Lionel Scaloni. Foto: Reprodução / SPORTV
O empate desta quinta-feira (3) acabou marcado pela falta de criatividade e por um jogo mais “pegado” no meio-campo. Aliás, essa deve ser a tônica das Eliminatórias da Copa do Mundo na América do Sul nessa retomada das partidas. Sabemos que Argentina e Chile possuem material humano para entregar muito mais qualidade do que entregaram no belíssimo Estádio Único de Santiago del Estero. Só que este que escreve entende que é complicado exigir grandes performances de Messi, Lautaro Martínez, Alexis Sánchez, Eduardo Vargas e companhia na atual situação do nosso continente. O contexto imposto pela pandemia de COVID-19 ainda se faz bastante presente aqui por essas bandas apesar dos negacionistas de plantão e influencia diretamente na atuação das equipes dentro de campo. A tendência é uma só: jogos mais amarrados, equipes mais fechadas e reativas. Tudo por conta do receio de se perder o controle das ações em campo.
Por mais que se cobre desempenho desta ou daquela equipe, a grande verdade é que as Eliminatórias da Copa do Mundo devem seguir essa tendência de jogos mais estudados e estilo mais reativo. Tudo por conta do contexto em que vivemos. Argentina e Chile, mesmo com o belíssimo material humano que Lionel Scaloni e Martín Lasares têm à disposição, mostraram isso numa partida sem grandes emoções. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.
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