Guilherme Paraense integrou a primeira delegação brasileira a participar de uma edição de Jogos Olímpicos e faturou o ouro e bronze na Antuérpia, em 1920
Atleta da modalidade do tiro esportivo, Guilherme Paraense foi o primeiro brasileiro a tornar-se campeão olímpico. A façanha ocorreu logo em sua primeira e única participação. Juntamente de mais 20 atletas, ele integrou a primeira delegação do país a participar dos Jogos Olímpicos. Essa estreia data de 1920, em edição realizada na Antuérpia, Bélgica.
Paraense fez carreira militar
Nascido em Belém, no Pará, Guilherme Paraense mudou-se para o Rio de Janeiro aos cinco anos de idade e logo foi inscrito em uma Escola Militar de Realengo. Posteriormente, seguiu carreira pela Escola Militar da Praia Vermelha.
Em 1914, fundou o Revolver Clube na capital carioca ao lado de outros atiradores.
Paraense possuía títulos relevantes a nível nacional. Tornou-se campeão brasileiro em 1913, 1914, 1915, 1918, 1922 e 1927 e faturou também o Sul-Americano de 1922. Devido aos expressivos resultados, o atleta, que representou o Fluminense e o São Cristóvão, foi convidado para compor a primeira equipe brasileira de tiro.
Viagem de ida teve condições precárias e reservou adversidades
Durante a longa viagem de 28 dias até Antuérpia, o atirador encarou as precariedades da embarcação cedida pelo governo federal, o navio Curvello. Dividindo os espaços com os outros integrantes da delegação, dormiu no chão perto de um bar e em camarotes sem janelas para ventilação.
Avisados que não chegariam a tempo da disputa do evento, os atletas tiveram de parar em Lisboa e de lá seguir o caminho para Bélgica por meio ferroviário. E novamente enfrentaram condições ruins, pois o trem era descoberto. Ou seja, a última parte da viagem foi a esmo das adversidades climáticas, ora sob chuva e frio, ora sob sol.
Como se não bastasse todos estes percalços, a equipe brasileira de tiro ainda teve seus equipamentos furtados em Bruxelas, capital belga.
Afrânio da Costa, porém, conseguiu minimizar o prejuízo e resolver esta situação quando a comitiva desembarcou na Antuérpia. Dirigiu-se até o acampamento da delegação dos Estados Unidos e avistou atletas jogando xadrez. Afrânio cantou jogadas e ajudou o chefe da delegação a vencer a partida.
Surpreso com a inteligência das movimentações no jogo de tabuleiro, o norte-americano quis saber mais sobre o desconhecido. Durante o bate-papo, Afrânio relatou sobre o furto. Sensibilizado pelo acontecimento, o senhor conversou com os atletas compatriotas e estes concordaram em emprestar 2.000 cartuchos e duas pistolas Colt. Naquela época as munições eram reais. Atualmente são feitas com ar comprimido de 4,5mm.
Dos percalços ao triunfo
O dia 3 de agosto de 1920 entrou definitivamente para a história do esporte brasileiro.
Apesar de todas as dificuldades logísticas, de acomodações, furto e condições mínimas para o treinamento, Paraense teve um ótimo desempenho. Em sua última tentativa, acertou um tiro perfeito no centro do alvo e contabilizou 274 pontos em 300 possíveis. Assim, venceu a prova da modalidade pistola rápida 25 metros e conquistou a primeira medalha de ouro do Brasil em Jogos Olímpicos.
O atleta ainda levou o bronze na modalidade pistola livre por equipes. Neste resultado teve a companhia de Dario Barbosa, Fernando Soledade, Sebastião Wolf e Afrânio da Costa (que além de conseguir o empréstimo dos equipamentos com os estadunidenses, faturou a medalha de prata na modalidade individual pistola rápida 50 metros).
As provas do tiro esportivo foram disputadas em um campo aberto do exército belga vizinho a cidade de Waterloo, local conhecido por abrigar a batalha entre o exército do Primeiro Império Francês comandado por Napoleão Bonaparte contra a Sétima Coligação, exército que incluía as forças britânicas, russas, austríacas e prussianas.
Waterloo marcou o fim do conflito de “Cem Dias” com a derrota do imperador Napoleão.
Recepção de ouro no retorno
Ao desembarcar no Brasil após o término dos Jogos Olímpicos da Antuérpia, o campeão foi recebido com honras. Epitácio Pessoa, o então presidente do Brasil, o homenageou com uma placa comemorativa de ouro como forma de parabeniza-lo pela conquista da medalha do mesmo tom.
Homenagens póstumas
Após aposentar-se das competições, em 1927, Paraense participou da Revolução de 1930 e foi promovido a Tenente-Coronel em 1941. Logo em seguida, transferiu-se para a reserva e fixou residência no Rio de Janeiro.
O ex-atleta e militar morreu em 18 de abril de 1968 aos 83 anos, vítima de infarto. Em uma homenagem póstuma, no dia 05 de maio de 1989, o Exército brasileiro batizou o conjunto de estandes de tiro da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende (RJ) de Polígono de Tiro Tenente Guilherme Paraense.
Em 1992, foram feitos selos com sua imagem para celebrar os Jogos Olímpicos de Barcelona.
Belém, sua cidade natal, inaugurou uma das arenas mais modernas do país em sua referência no dia 21 de outubro de 2016. A Arena Guilherme Paraense, conhecida pela população como “Mangueirinho”, tem capacidade para mais de 11 mil espectadores. Multiuso, abriga de esportes a shows e eventos diversos.
LEIA MAIS:
Tóquio é logo ali: há 30 dias dos Jogos Olímpicos, confira as 30 medalhas de ouro do Brasil
Na contagem regressiva de 36 dias para Tóquio, veja as 36 medalhas olímpicas de prata do Brasil
Olimpíadas: Há 63 dias do evento, confira todas as 63 medalhas de bronze conquistadas pelo Brasil