Ferroviária volta a jogar no fio da navalha e expõe os problemas coletivos do São Paulo
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Fereira analisa o empate sem gols entre as equipes de Lindsay Camila e Lucas Piccinato
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Fereira analisa o empate sem gols entre as equipes de Lindsay Camila e Lucas Piccinato
Não é exagero nenhum afirmar que a Ferroviária só não saiu da Arena Fonte Luminosa com os três pontos por causa da anulação de um gol legítimo de Lurdinha no segundo tempo. Mesmo sofrendo com o volume de jogo de um São Paulo intenso, mas pouco organizado e compactado. O escrete comandado por Lindsay Camila jogou no fio da navalha e explorou bem alguns dos (muitos) problemas defensivos e coletivos do São Paulo de Lucas Piccinato. Por mais que o empate sem gols deste domingo (16) tenha sido um resultado justo (diante do que foi apresentado em Araraquara), a impressão que ficou foi a de que o Tricolor Paulista só conseguiu ser efetivo quando a bola chegava aos pés da atacante Gláucia. Enquanto teve fôlego, a camisa 9 foi a grande responsável pela qualidade das jogadas de ataque. A equipe de Lucas Piccinato vem entregando muito pouco para a qualidade individual que as jogadoras têm.
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A escalação inicial já indicava que São Paulo e Ferroviária entrariam em campo no 4-4-2 costumeiro dos dois treinadores. Não que a formação tenha interferido na atuação do Tricolor Paulista e das Guerreiras Grenás, mas ajuda a entender um pouco o que aconteceu nesse domingo (16) na Fonte Luminosa. Já era de se esperar que o escrete comandado por Lucas Piccinato fosse tomar a iniciativa da partida. O problema é que o time como um todo depende demais da movimentação de Gláucia no terço final. Em alguns momentos, a camisa 9 se comporta como uma espécie de segunda atacante (numa variação para o 4-2-3-1) logo atrás de Jaqueline. Faltava mais presença de Maressa e Yaya na frente e as entradas em diagonal de Micaelly e Carol às costas das laterais da Ferroviária. O que se viu no primeiro tempo foi um São Paulo que sofreu demais com o volume de jogo das Guerreiras Grenás e não soube fechar espaços.
Gláucia (no canto direito da foto) sempre se movimentava no ataque e abria espaços para as chegadas de Carol, Micaelly e Jaqueline. Não é difícil concluir que a camisa 9 acabou sobrecarregada na armação das jogadas. Yaya e Maressa estiveram sumidas da partida. Foto: Reprodução / BAND
É preciso deixar claro que a Ferroviária sempre igualou as ações no campo quando jogou no seu limite. Quase no fio da navalha. Mas explorando muito bem os problemas coletivos do São Paulo de Lucas Piccinato. Principalmente no sistema defensivo. Lindsay Camila posicionou Sochor um pouco mais por dentro com o objetivo de atrair a marcação do adversário e abrir espaços para as chegadas de Aline Milene, Lurdinha e Ludmila sempre em diagonal e se lançando às costas das suas marcadoras. Difícil não perceber que o sistema defensivo do São Paulo estava sofria com os erros crônicos nos botes na frente da área e abria verdadeiras crateras entre as zagueiras e laterais. Principalmente no lado esquerdo, onde Gislaine e Natane definitivamente não se entendiam na marcação. Se a Ferroviária tivesse um pouco mais de capricho nas conclusões a gol, a história poderia ter sido bem diferente na Fonte Luminosa.
Sochor vem pelo meio, puxa a marcação do São Paulo e abre o espaço para o qual Lurdinha se projeta. O lado esquerdo do Tricolor Paulista foi o mais problemático e o que mais precisa de ajustes. Fora isso, faltava compactação entre as linhas e mais atenção nas perseguições curtas. Foto: Reprodução / BAND
Lucas Piccinato conseguiu melhorar um pouco o posicionamento do meio-campo nos momentos de ataque do São Paulo. Jaqueline teve três boas chances de abrir o placar, mas esbarrou em mais uma atuação segura da goleira Luciana (precisa nas defesas e nas bolas aéreas). O grande problema do Tricolor Paulista passou a ser a recomposição. Com as linhas do seu 4-4-2 mais adiantadas, a defesa sofreu com os contra-ataques velozes da Ferroviária. Quase sempre puxados por Sochor. A camisa 7 (que jogava como a “10” de fato) das Guerreiras Grenás foi muito bem jogando mais por dentro e explorando bem a velocidade de Aline Milene, Lurdinha e Ludmila no terço final. E quase tudo pelo lado direito de ataque, onde Gislaine e Natane sofreram demais com as investidas das adversárias. Acabou que o escrete de Lucas Piccinato foi salvo pela auxiliar Amanda Pinto, que anulou gol legítimo da Ferroviária já no segundo tempo.
O São Paulo até melhorou no segundo tempo e criou chances, mas a defesa não parou de sofrer com os contra-ataques da Ferroviária. Faltava compactação, coordenação na marcação e concentração para “ler” os movimentos do ataque das Guerreiras Grenás no final da partida. Foto: Reprodução / BAND
Apenas quatro pontos separam o São Paulo (terceiro colocado) da Ferroviária (sétima colocada) na tabela do Brasileirão Feminino Série A1. No entanto, a partida deixou boas impressões sobre o crescimento de produção da equipe de Lindsay Camila e alguns questionamentos sobre o rendimento do time de Lucas Piccinato. O elenco tricolor é qualificado demais para ter que depender tanto da movimentação de Gláucia e as investidas de Jaqueline. Fora isso, o 4-4-2 se assemelha demais com um 4-2-4 espaçado e sem compactação entre as suas linhas. E com Micaelly e Carol sobrecarregadas no apoio ao ataque, a marcação nas laterais perde consistência. Isso explica (em parte) os motivos pelos quais Gislaine e Natane não se acertaram na perseguição a Aline Milene e Sochor. Faltava mais auxílio do quarteto ofensivo e mais concentração para fazer o bote certo nas perseguições curtas na intermediária.
Seja como for, a posição do São Paulo aponta para uma classificação sem muitos sustos. No entanto, a maneira como o time se comporta dentro de campo deixa muitas dúvidas sobre os chamados “jogos grandes”. O escrete de Lucas Piccinato teve problemas contra a Ferroviária de Lindsay Camila, contra o Santos (na segunda rodada) e contra o São José (na terceira rodada). Ou o treinador acha a formação ideal, ou o Tricolor Paulista deve sentir o peso da realidade contra equipes mais fortes.
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