Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a lista de convocados por André Jardine para os últimos testes antes dos Jogos Olímpicos
Para uma boa parte da imprensa esportiva, o futebol brasileiro não revela mais talentos individuais como há vinte ou trinta anos atrás e vê países como Uruguai, Colômbia e Argentina se colocarem à frente da Seleção Brasileira nesse quesito. Fala-se na escassez de atacantes goleadores e de meio-campistas criativos com a bola no pé, como se o velho e rude esporte bretão ainda fosse jogado e pensado da mesma forma que nos anos 1980 e 1990. É exatamente por isso que o anúncio da lista de jogadores convocados para a Seleção Olímpica alimentou as esperanças de tanta gente. Nomes como Gerson, Pedro, Claudinho, Gabriel Menino, Guilherme Arana e Rodrygo acumularam bastante experiência nos últimos anos e provaram seu valor mais de uma vez nessas últimas temporadas. O técnico André Jardine tem em mãos um elenco capaz de fazer grandes coisas e repleto de atletas de altíssimo nível.
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É bom que se diga que, assim como aconteceu na convocação realizada por Tite, a escolha dos jogadores para a Seleção Olímpica obedece a um critério baseado no modelo de jogo escolhido por seu treinador. Ainda que a campanha da equipe no torneio Pré-Olímpico da Colômbia tenha sido marcada pela irregularidade (o Brasil terminou a competição no segundo lugar e correu riscos reais de não se classificar para Tóquio), ficou claro que o treinador tem predileção por equipes que propõem o jogo e que chegam no ataque com bastante intensidade. Embora a defesa tenha dado alguns sustos e tenha sido o setor que mais sofreu alterações durante a competição, estava claro que André Jardine havia escolhido uma postura mais ofensiva e que gerava alguns problemas. Observando-se novamente a lista divulgada nesta sexta-feira (14), fica bem claro que a Seleção Olímpica deve seguir pelo mesmo caminho.
Na campanha do Pré-Olímpico da Colômbia, André Jardine apostou numa Seleção Brasileira mais leve, envolvente e muito intensa nas transições. Era bastante comum ver o escrete canarinho abrindo o campo com o avanço dos laterais e ganhando profundidade com a dupla de ataque. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol
No Pré-Olímpico da Colômbia, André Jardine apostou suas fichas num time ofensivo e variou o esquema tático entre o 4-2-3-1 das primeiras partidas, o 4-3-3 (ou o 4-1-4-1) e o 4-4-2 com muito volume de jogo e muita presença ofensiva. Matheus Henrique e Bruno Guimarães foram os volantes que qualificavam o passe no meio-campo e que faziam a bola chegar em Paulinho, Matheus Cunha, Pedrinho e Antony (depois Reinier) no terço final. Por mais que a Seleção Olímpica tenha mostrado alguma superioridade (apesar de oscilar bastante na competição e sofrer com alguns “apagões” em jogos mais tranquilos) contra seus rivais da América do Sul, o nível de exigência física, tática e técnica nos Jogos de Tóquio deve ser muito maior. Ainda mais quando o sorteio dos grupos do futebol masculino coloca o Brasil no Grupo D junto com a Alemanha (medalha de prata na Rio 2016), Costa do Marfim e Arábia Saudita.
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A saída para André Jardine aumentar o desempenho da sua equipe é apostar na tal geração “sem talentos” como alguns costumam afirmar. Numa única lista, o treinador da Seleção Olímpica apostou em nomes como o Gerson, Pedro (ambos do Flamengo), Rodrygo (do Real Madrid), Claudinho (do Red Bull Bragantino e nome que já merecia uma chance até mesmo na equipe principal), Gabriel Menino (do Palmeiras) e Guilherme Arana (do Atlético-MG). É possível pensar no mesmo 4-2-3-1/4-4-2 utilizado no Pré-Olímpico da Colômbia acomodando os talentos dos jogadores numa equipe que ataca em bloco e que joga com as suas linhas bem adiantadas. Ao mesmo tempo, Gerson pode se juntar a Bruno Guimarães (do Lyon) e aparecer na frente exatamente como fez e faz no time comandado por Rogério Ceni. E ainda temos o ótimo goleiro Brenno (do Grêmio) e o sempre decisivo Pedro no comando de ataque para dar profundidade ao setor ofensivo.
André Jardine pode encaixar os talentos da sua lista de convocados numa equipe até mais ofensiva e muito mais consistente. Gerson se junta a Bruno Guimarães no meio-campo e Claudinho se junta a Pedro no ataque. Guilherme Arana e Gabriel Menino ajudariam na criação e fariam boas duplas com Antony e Rodrygo.
E ainda existem as opções de Gabriel Magalhães e Gabriel Martinelli (ambos jogadores do Arsenal), Liziero (do São Paulo), Nino (do Fluminense), Emerson (do Betis), Malcom (bicampeão russo pelo Zenit) e o ótimo Evanílson (revelado pelo Fluminense e atuamente no Porto). Todos esses e muitos outros fazem parte de uma geração que é extremamente promissora e que tem todas as condições de fazer coisas incríveis se for bem cuidada e bem observada. Não somente os que foram conovocados. Ainda há Pedrinho, Matheus Cunha, Caio Henrique, Paulinho, Guga, Pepê, João Gomes, Hugo Moura, Gabriel Pec, Danilo, Patrick de Paula, Renan, Luan (do São Paulo) e muitos outros atletas que podem ser úteis no futuro. O que é certo é que os Jogos Olímpicos estão chegando e André Jardine precisa definir os dezoito jogadores que estarão em solo japonês para tentar a conquista da medalha de ouro pela segunda vez.
A convocação da Seleção Olímpica prova que o futebol brasileiro ainda é um celeiro de grandes talentos. Agora, se estes talentos vão se transformar em craques, só o tempo e a maneira como cada um vai gerenciar suas carreiras vai dizer. O caminho é duro e cheio de alternativas e variáveis. Mas não foi por acaso que muita gente ficou extremamente empolgada com os nomes chamados para defender o escrete canarinho às vésperas dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Incluindo este que escreve.
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