Homofobia cada vez mais combatida nas arquibancadas e por atletas
Movimentos organizados, clubes e jogadores levantam a bandeira contra o preconceito cada vez mais
Movimentos organizados, clubes e jogadores levantam a bandeira contra o preconceito cada vez mais
A homofobia tem sido pautada pelos mais diversos segmentos da sociedade. E no ambiente esportivo não é diferente. Afinal, quem já não ouviu falar que o “futebol é o retrato da sociedade”?
Foi por estar tão presente na atualidade que uma discussão entre conselheiros do Sport Club do Recife sobre o ex-participante do BBB, Gilberto Nogueira, torcedor do clube, ganhou repercussão nacional ao escancarar um caso real de preconceito.
Gil do Vigor foi convidado pela diretoria do Sport para visitar o estádio da Ilha do Retiro, casa do Sport, e na ocasião fez uma performance que lhe é peculiar e espontânea. Na troca de mensagens por voz em um grupo de Whatsapp após a divulgação dessa ação de marketing, um membro do conselho disparou:
“Isso é uma desmoralização! Isso é ausência de vergonha na cara. (…) Não tem mais respeito por pai e filho (…) 1,2 milhões de pessoas achando que o Sport só tem ‘viado’, só tem bicha. Vai vender é camisa. A viadagem todinha vai comprar (…) Se ele tivesse feito a dancinha na casa dele ou no bordel, eu não estava nem aí. Foi dentro da Ilha do Retiro”, opinou o conselheiro.
A repercussão do caso de Gil do Vigor é o exemplo recente de que cada vez mais os clubes, atletas e as arquibancadas estão por dentro e engajados nos assuntos de grande discussão pública. Apesar que o ambiente futebolístico é ainda bastante resistente.
“Esse foi o primeiro ataque homofóbico que me deparo após o BBB e posso garantir, ainda machuca muito”, conta Gil que nunca havia ido à Ilha do Retiro por medo.
Movimentos LGTBQI+ presentes nas torcidas
Se até cerca de dez anos atrás assumir a sexualidade “diferente” era um tabu inimaginavelmente a ser quebrado, hoje em dia é comum a presença dos movimentos por direitos e orgulho LGBTQI+ no futebol e combate ao preconceito.
Com suas faixas, identidades visuais, membros e membras que amam o clube e têm orgulho de assumir suas orientações sexuais, as torcidas “prides” têm o objetivo de desconstruir o preconceito enraizado no mundo futebolístico.
Em Pernambuco, estado onde vive Gil do Vigor, o movimento Coral Pride representa a luta contra o machismo e a anti-Lgbtfóbica na torcida do Santa Cruz, rival do Sport.
Apesar da rivalidade entre os clubes, a solidariedade contra o preconceito gritou mais alto.
“Não iremos tolerar a homofobia e nenhum preconceito. Esperamos que as medidas sejam tomadas referente ao episódio para que possa servir de exemplo aos três grandes times da capital pernambucana. Infelizmente nosso futebol está na mão de pessoas atrasadas, e com discursos homofóbicos e excludente”, relatou a Coral Pride em nota recente nas redes sociais.
A torcida LGBTricolor do Bahia é a maior em seguidores que lutam contra a homofobia, com 3.748, seguida da Fiel LGBT, do Corinthians, com 2.999.
A Palmeiras Livre tem 2.307 seguidores e seguidoras. De volta ao Nordeste, a Vozão Pride, do Ceará tem 2.002.
Mas apesar da visibilidade ser muito maior nos dias de hoje, alguns movimentos de arquibancada contra a homofobia tiveram seu auge em outras épocas.
A Coligay do Grêmio foi fundada em 1977 em meio à ditadura militar no Brasil. Foi a primeira torcida organizada LGBTQI+ que se tem registro. Em 1979 o movimento Fla Gay estreou em clássico entre Flamengo e Fluminense no Maracanã.
Clubes e atletas contra o preconceito
Os clubes têm abraçado às causas sociais e incentivado seus jogadores no mesmo ritmo que os debates se aquecem na sociedade.
O Paris Saint-Germain (França) entrou em campo no último domingo homenageando o Dia Internacional de Combate à Homofobia, celebrado nessa segunda-feira (17).
Os números das camisas foram nas cores do arco íris. O clube parisiense goleou por 4 a 0, com direito a gol do brasileiro Neymar.
Para Richarlison, atacante brasileiro do Everton (Inglaterra) o futebol deve ser receptivo com atletas que se revelarem homossexuais.
“Não podemos ser uma bolha em relação ao mundo. Todos precisam ser tratados com respeito e igualdade. Eu li uma carta enviada à imprensa por um jogador gay da Premier League dizendo que a situação dele afeta sua saúde mental e que ele tem medo de dizer aos companheiros, por medo de que fique pior. Não deveria ser assim”, comenta Richarlison.
Existem menos tabus no futebol feminino?
No futebol feminino a luta contra a homofobia em defesa do público LGBTQI é muito mais presente. Duas das maiores jogadores da nossa seleção não escondem sua sexualidade e se tornam referência. A rainha Marta e a atacante Cristiane têm suas relações normalmente mostradas ao mundo.
Cris Rozeira e a esposa, Ana Paula Garcia, entraram recentemente na fase da maternidade, após o nascimento do filho Bento.
“O Santos deu total respaldo. Se quisesse ficar parada os mesmos 120 dias da licença da Ana, eu ficaria. Mas não tem como, eu trabalho com o meu corpo e não não posso parar. Nos cinco dias em que fiquei afastada após o parto, perdi dois jogos e já estava sem ritmo de jogo quando voltei”, relata a jogadora sobre o apoio que teve do clube em que joga, mas que decidiu se manter trabalhando.
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