Erros individuais, falta de confiança e outra derrota nos pênaltis: os pecados do Palmeiras na Recopa Sul-Americana
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota do time de Abel Ferreira para o Defensa y Justicia na Arena Mané Garrincha
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota do time de Abel Ferreira para o Defensa y Justicia na Arena Mané Garrincha
A derrota do Palmeiras para o Defensa y Justicia na Recopa Sul-Americana está repleta de detalhes para quem quiser fazer a sua análise. Podemos falar da arbitragem absurdamente confusa do uruguaio Leodan González. Podemos falar da catimba da equipe comandada por Sebastián Beccacece. E podemos falar também dos vacilos defensivos do escrete comandado por Abel Ferreira nos dois gols da equipe argentina no tempo normal. Na prática, o resultado desta quarta-feira (14) na Arena Mané Garrincha foi um somatório desses e de vários outros fatores. O que é certo, no entanto, é que o Verdão não mostrou o mesmo volume de jogo e a mesma consistência vistas na Supercopa do Brasil no último domingo (11), contra o Flamengo. Não se trata apenas de se analisar apenas o resultado, mas de perceber que o Palmeiras apresentou os mesmos problemas do jogo de ida e acabou pagando muito caro por eles.
É interessante notar que os comandados de Abel Ferreira iniciaram a partida adotando uma bem definida e algumas alterações na equipe que disputou a Supercopa do Brasil e o jogo de ida da Recopa Sul-Americana. Com Danilo e Patrick de Paula nos lugares de Felipe Melo e Zé Rafael, o Palmeiras ganhou mais força e mais qualidade no passe no meio-campo. Na frente, Viña se lançava como ponta pela esquerda e se juntava ao quarteto ofensivo formado por Wesley, Rony, Raphael Veiga e Breno Lopes na variação do 4-2-3-1 para o 3-2-5 já explicada aqui mesmo neste espaço numa outra ocasião. O objetivo de Abel Ferreira era explorar os espaços às costas da última linha do Defensa y Justicia e encaixar os contra-ataques com passes mais longos para Rony e Wesley. O camisa 7 sofreu a penalidade claríssima só confirmada com o auxílio do VAR e convertida por Raphael Veiga aos 22 minutos da primeira etapa em Brasília.
O lateral-esquerdo Viña se lançava ao ataque como ponta pela esquerda e se juntava ao quarteto ofensivo numa variação para o 3-2-5 treinada por Abel Ferreira. O Palmeiras começou a partida contra o Defensa y Justicia se impondo na base da velocidade e da marcação forte no meio-campo. Foto: Reprodução / Conmebol TV
Só que o Defensa y Justicia é uma equipe organizada e com movimentos ofensivos bem coordenados a partir do 4-4-2 de Sebastián Beccacece. Difícil não perceber como todo o trabalho feito por Hernán Crespo (hoje treinador do São Paulo) vem tendo sequência na equipe argentina. Ainda mais quando Matías Rodríguez encontrou Pizzini se lançando às costas de Gustavo Gómez. O camisa 29 entrou na área do Palmeiras e passou a bola para Braian Romero apenas escorar para o gol de Weverton. A movimentação do ataque do DyJ (que se desdobrava num 4-2-4 em ataque posicional) gerou superioridade numérica no terço final e ainda aproveitou bem os vacilos de Matías Viña e Gustavo Gómez no posicionamento. Fora toda a lentidão da equipe de Abel Ferreira na recomposição defensiva no lance do gol de empate do Defensa y Justicia. Destaque mais uma vez para as atuações de Bou e Rotondi no lado esquerdo.
Matías Rodríguez percebe Pizzini se lançando às costas de Gustavo Gómez e faz o passe que inicia a jogada do gol de empate do Defensa y Justicia. Sebastián Beccacece apostou novamente no 4-4-2 e viu sua equipe explorar bem os pontos fracos de um Palmeiras ainda em início de temporada. Foto: Reprodução / Conmebol TV
O gol de Braian Romero fez um abalo considerável na confiança de um Palmeiras que passou a insistir demais em bolas longas para o ataque. Ainda que Rony, Wesley e Raphael Veiga tentassem se movimentar um pouco mais no ataque, a partida ficou toda à feição do Defensa y Justicia. Principalmente quando Viña perdeu as estribeiras de vez e acertou pontapé nas costas de Meza depois de ser derrubado perto da área. Com um jogador a menos (e num momento em que Abel Ferreira já havia mandado Mayke e Gabriel Verón para o jogo), o Palmeiras passou a jogar numa espécie de 5-3-1 após as entradas de Gabriel Menino e Alan Emereur nos lugares de Raphael Veiga e Gabriel Verón (que se lesionou pouco tempo depois de entrar em campo). Sem forças para manter a posse de bola e sem confiança para atacar, o Palmeiras viu seu adversário empatar em belo chute de Benítez aos 47 minutos do segundo tempo.
A expulsão de Viña obrigou o técnico Abel Ferreira a recompor o sistema defensivo com o deslocamento de Mayke para o lado esquerdo de defesa. No entanto, o 5-3-1 proposto pelo técnico português deu campo de mais para um Defensa y Justicia que não desistiu do jogo em nenhum momento. Foto: Reprodução / Conmebol TV
O Palmeiras ainda teve grande chance de fazer o gol do título da Recopa Sul-Americana em penalidade sofrida por Rony e com toda a confusão que resultou na expulsão de Braian Romero. No entanto, Gustavo Gómez bateu muito mal e Unsain defendeu sem muitas dificuldades. Só que o mais interessante de tudo desses trinta minutos adicionais é que Abel Ferreira não desfez a linha de cinco na defesa. Mesmo com Luiz Adriano em campo. Enquanto o Defensa y Justicia apostava num 4-4-1 (que se desdobrava num 4-2-3 com o avanço de Isnaldo e Hachen para justo de Merentiel no comando de ataque), Mayke e Gabriel Menino seguiam como alas que pouco avançavam, Felipe Melo e Danilo protegiam a última linha e Luiz Adriano quase não se aproximou de um Rony que se desdobrou na frente. Difícil não concluir que Abel Ferreira poderia ter adotado uma postura um pouco mais ofensiva diante de tanto espaço para atacar.
Mayke e Gabriel Menino avançavam muito pouco, Luiz Adriano quase não encostou na bola e Rony seguiu muito sobrecarregado no comando de ataque. Mesmo com bastante campo para atacar, o Palmeiras preferiu adotar uma postura mais cautelosa na prorrogação contra o Defensa y Justicia. Foto: Reprodução / Conmebol TV
Acabou que a falta de confiança do Palmeiras se fez presente na terceira derrota seguida em decisões por pênaltis. Luiz Adriano e Weverton desperdiçaram suas cobranças ao mesmo tempo em que o Defensa y Justicia de Sebastián Beccacece foi perfeito na marca de cal e ficou com o título da Recopa Sul-Americana. É lógico que todo o elenco pode (e deve) reclamar da arbitragem caótica do uruguaio Leodan González. Mas é impossível não perceber que o Palmeiras teve chances de sobra para resolver a partida ainda no tempo normal. É como um castelo de cartas. A falta de ritmo aumentou as chances dos erros individuais que, por sua vez, minaram a confiança de jogadores importantes. E sem confiança, não há jeito de ir bem numa decisão por pênaltis. Notadamente, Gustavo Gómez errou praticamente tudo o que tentou. O paraguaio esteve muito mal nos botes e ainda desperdiçou a chance do título na prorrogação.
Este que escreve ainda vê Abel Ferreira com muito crédito num Palmeiras que ainda pode chegar longe nessa temporada. O calendário insano imposto pelas confederações (e aceitos pelos clubes sem reclamações ou discussões) fizeram com que o Verdão jogasse duas finais em menos de uma semana. E isso sem mencionar o fato de que o time já volta a campo nesta sexta-feira (16), contra o São Paulo pelo Campeonato Estadual. Não há planejamento no mundo inteiro que resista a isso.
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