Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o time de Felipe Conceição conquistou a vitória em cima do Galo de Cuca
Os trabalhos de Felipe Conceição e Cuca no Cruzeiro e no Atlético-MG ainda estão no início de um processo que envolve entendimento mútuo, entrosamento e a busca da melhor formação para as duas equipes. Toda análise deve levar esses fatores em consideração para que não se soe leviano ou até mesmo desonesto. Se a Raposa teve uma das suas melhores atuações coletivas na temporada, muito se deve à entrega dos jogadores e à boa execução do plano de jogo do seu treinador. E se o Galo deixou muito a desejar (e frustou boa parte da torcida que esperava uma goleada em cima do maior rival), é preciso lembrar que Cuca tem pouco mais de um mês à frente da equipe. Nada, no entanto, que diminua os méritos do Cruzeiro de Felipe Conceição no “clássico centenário” deste domingo (11), no Mineirão. Mais uma prova de que é possível ser competitivo com ideias simples e bem executadas.
Com um elenco tão estrelado, é mais do que natural que se espere muito do Atlético-MG. Ainda mais com Nacho Fernández se adaptando tão rapidamente ao time e aos conceitos de Cuca no Galo Forte e Vingador. Tanto que as duas primeiras oportunidades de gol saíram foram iniciadas pelo camisa 26. Aos 11, o argentino lançou Guga pela direita e este serviu Eduardo Vargas (o atacante de referência do 4-3-3 inicial de Cuca) que acabou chutando pra fora. No minuto seguinte, Nacho encontrou o chileno se lançando às costas de Ramon, mas o chute foi defendido pelo goleiro Fábio. Depois disso, o que se viu foi uma aplicação tática imensa de Adriano, Matheus Barbosa e Marcinho na marcação e no bloqueio dos espaços. Jogando num 4-1-4-1 mais definido, o Cruzeiro conseguiu equilibrar as ações no Mineirão na base da aplicação tática e da alta intensidade na marcação do forte adversário.
O Atlético-MG só encontrou facilidade quando Nacho Fernández teve tempo e espaço para trabalhar as jogadas entre as linhas do Cruzeiro. O argentino era o “arco” e Vargas, Savarino e Keno eram as “flechas” do 4-3-3 proposto por Cuca no início de partida no Mineirão. Foto: Reprodução / SPORTV
Sem ter por onde jogar e com o meio-campo bastante congestionado, o Atlético-MG diminuiu o ritmo e o jogo ficou mais lento no primeiro tempo. Méritos de Felipe Conceição na armação de um Cruzeiro que vendia caro cada espaço na frente da sua defesa e que tinha saída rápida para o ataque com a intensa movimentação de Rafael Sóbis, Airton e Bruno José. Vargas e Keno desperdiçaram chances incríveis antes da Raposa trabalhar bem a bola no meio a partir de Matheus Pereira. O lateral passou para Marcinho e recebeu na frente. Sóbis apareceu como “terceiro homem” e percebeu que Allan não estava posicionado corretamente para bloquear o passe para Airton. O camisa 7 recebeu com muita liberdade na área e tocou na saída de Everson. Belíssima jogada em movimentos que Felipe Conceição tanto pede da sua equipe. E o que não faltava nesse Cruzeiro neste domingo (11) era aplicação tática.
Matheus Pereira tabela com Marcinho e passa para Sóbis. Guga não fecha a linha defensiva e Allan se posiciona de maneira errada no lance. O camisa 10 celeste toca de primeira e deixa Airton na cara de Everson no lance do único gol do “clássico centenário”. Foto: Reprodução / SPORTV
Interessante que o Atlético-MG não teve mais nenhuma grande chance de gol depois que o Cruzeiro abriu o placar. Isso porque o escrete de Felipe Conceição seguiu marcando forte na frente da sua área e aproveitou a afobação do seu adversário para adiantar a marcação. O frame abaixo mostra Hulk (que só foi lembrado por conta da confusão com William Pottker no final da partida) completamente encaixotado por quatro jogadores da Raposa ainda na intermediária. Com a forte pressão na saída de bola e com um Rafael Sóbis extremamente ligado em cada lance (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve), o Cruzeiro foi insinuante nas transições e compensou os problemas técnicos e a diferença de qualidade para um Atlético-MG estrelado com muita intensidade nas transições e com um posicionamento quase perfeito na frente da área defendida pelo veterano Fábio. Vitória justa no Mineirão.
O Cruzeiro compensou as diferenças técnicas para o Atlético-MG com muita aplicação tática, intensidade na marcação e uma forte pressão no portador da bola. A equipe celeste não diminuiu o ritmo nem mesmo com as cinco substituições feitas por Felipe Conceição. Foto: Reprodução / SPORTV
A vitória desse domingo (11) vale demais para o Cruzeiro e para Felipe Conceição. Além da quebra de um tabu que já durava dois anos, o treinador celeste terá um pouco mais de tranquilidade para trabalhar a equipe. É óbvio que o Atlético-MG colaborou demais para a vitória do seu rival abusando da lentidão e do jogo meio “aleatório” no ataque. Mas o que deve ficar para as próximas partidas da temporada é toda essa intensidade apresentada no “clássico centenário”. Mesmo com um elenco bem inferior tecnicamente, Felipe Conceição conseguiu fazer o Cruzeiro competir e apresentar um futebol mais ofensivo do que o seu grande rival em determinados momentos da partida. O Atlético-MG, por sua vez, ainda não tem um padrão de jogo definido. Mesmo com o início de trabalho e os problemas extracampo de Cuca, o cenário inicial não é nada bom. Há como essa equipe jogar de maneira mais consistente.
Nada, no entanto, que saia do normal nesse começo de temporada. Enquanto o Cruzeiro parece ter encontrado um caminho, um norte a seguir, o Atlético-MG ainda precisa de mais tempo para encontrar a melhor formação. Mesmo com um Nacho Fernández jogando demais e com um elenco estrelado à disposição de Cuca. Mesmo assim, há como se questionar algumas escolhas do treinador atleticano. Zaracho não pode ser reserva nesse time. E isso só pra começar.
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