Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o time de Sérgio Conceição travou a Juventus e se garantiu na quartas de final da UCL
Não é exagero nenhum afirmar que Juventus e Porto fizeram um dos jogos mais emocionantes desse ano de 2021 até o momento. Viradas, reviravoltas no placar, prorrogação, expulsões e muita aplicação tática por parte das duas equipes. No entanto, quiseram os deuses do Velho e Rude Esporte Bretão que os Dragões saíssem de Turim com a classificação para as quartas de final da Liga dos Campeões da UEFA justamente por conta do critério do gol qualificado. Mesmo assim, também é possível afirmar (sem nenhum receio de falar alguma bobagem) que o escrete comandado por Sérgio Conceição nos brindou uma verdadeira aula grátis de execução de conceitos táticos nos 120 minutos de partida. O Porto pode não jogar um futebol muito vistoso, mas é um dos times mais aplicados e que melhor executa o plano de jogo do seu treinador. A vaga nas quartas de final da Champions League foi mais do que merecida.
É lógico que o pênalti de Demiral em Taremi é (no mínimo) discutível. Este que escreve não marcaria a infração. Por outro lado, o destaque da primeira etapa não foi a arbitragem do holandês Björn Kuipers (e suas escolhas dentro de campo) e nem da atuação ruim da Juventus de Andrea Pirlo (que voltou a abusar da lentidão e falta de criatividade no seu meio-campo). A questão aqui é que precisamos falar do Porto de Sérgio Conceição. A equipe portuguesa jogou com muita organização (variando a marcação com até seis jogadores na frente da área de Marchesín), muita competitividade e muita intensidade na marcação e nas transições ofensivas. Sempre que Marega, Taremi, Otávio e companhia adiantaram a marcação, a Juventus teve seríssimos problemas para sair jogando da sua defesa. E a situação ficou ainda pior com Morata desperdiçando chances de gol e Cristiano Ronaldo isolado na frente.
Juventus e Porto fizeram uma das melhores partida da temporada e uma das mais ricas em conceitos táticos. “La Vecchia Signora” tentava acelerar o jogo com Arthur mais participativo e Chiesa e Cuadrado abrindo o campo. Já os Dragões davam aula de recomposição e transições em bloco a partir do 4-4-2 de Sérgio Conceição.
Aliás, o escrete português merece uma análise muito mais completa aqui mesmo neste espaço. Tudo por conta da sincronia nos movimentos defensivos e nas transições para o ataque. Tudo feito com perfeição, muita disciplina tática e seguindo o plano de jogo de Sérgio Conceição com afinco e dedicação. Vale aqui destacar o trabalho feito por Corona e Otávio. Os dois “wingers” do 4-4-2 dos Dragões recuavam e atacavam com muito vigor físico e foram problema constante para Cuadrado e Alex Sandro. Além deles, Uribe e (principalmente) Sérgio Oliveira davam qualidade à saída de bola com ótimo passe e apurada visão de jogo. E isso sem falar na aula de cobertura, marcação e antecipação nos lances dada pelo luso-brasileiro Pepe. O experiente zagueiro foi um dos melhores em campo e teve uma daquelas atuações que serão lembradas por muito tempo pelos “adeptos” do Porto com toda a certeza.
Corona e Otávio voltavam pelos lados e ajudavam na marcação a Chiesa, Cristiano Ronaldo e Morata na variação do 4-4-2 para um impressionante 6-2-2. Tudo para fechar os espaços e sair em bloco para o ataque com passes pelo chão e muita velocidade nas transições com Marega e Taremi. Foto: Reprodução / Facebook Watch / TNT Sports Brasil
Por mais que a Juventus tenha feito uma primeira etapa abaixo do esperado, a grande verdade é que o intervalo fez muito bem ao time Cristiano Ronaldo. Ainda mais quando o técnico Andrea Pirlo corrigiu o posicionamento da sua equipe. Chiesa e Cuadrado (que jogou improvisado na lateral) abriam o campo e Ramsey passou a jogar um pouco mais por dentro, se aproximando de Arthur e Rabiot no meio-campo. Não foi por acaso que “La Vecchia Signora” virou a partida com dois gols de Chiesa (um marcado depois de lançamento de Bonucci que CR7 ajeitou e outro após belo cruzamento de Cuadrado do lado direito). O Porto, por sua vez, viu a sua vida ficar bem difícil depois da tola expulsão de Taremi. Foi exatamente por isso que o técnico Sérgio Conceição, que apostou numa espécie de 5-4-0 (sim, é um zero!) para fechar espaços e puxar os contra-ataques através da velocidade e força física de Marega.
Com Chiesa e Cuadrado abrindo o campo e com Ramsey mais próximo de Arthur e Rabiot, a Juventus cresceu no segundo tempo e conseguiu a virada com dois gols do camisa 22. A expulsão de Taremi fez com que Sérgio Conceição optasse por uma espécie de 5-4-0 durante quase todo o segundo tempo. Foto: Reprodução / Facebook Watch / TNT Sports Brasil
Mas o Porto seguiu firme na defesa. E não deixou de atacar a equipe da Juventus. Se Sérgio Conceição iniciou a partida com uma variação do 4-4-2 para um 6-2-2, com um a menos, o técnico dos Dragões organizou a equipe numa espécie de 5-4-0/6-3-0 nos momentos defensivos (com o zagueiro Sarr no lugar de Otávio e Luis Díaz no lugar de Zaidu) e soltava os jogadores num 4-4-1/4-2-3 que tinha amplitude e profundidade. Tudo para aproveitar o cansaço do seu adversário no tempo extra. Sérgio Oliveira contou com a colaboração da barreira e do goleiro Szczesny no segundo gol do Porto. E por mais que Rabiot ainda tenha recolocado a Juventus em vantagem dois minutos depois, “La Vecchia Signora” não teve forças para buscar aquele que seria o gol da classificação. Os Dragões jogaram 120 minutos do mais puro futebol tático com uma aplicação poucas vezes vista por este que escreve.
Mesmo com um jogador a menos, Sérgio Conceição seguir fazendo variações na equipe do Porto para aproveitar o cansaço dos adversários. Corona e Luís Díaz abriam o campo, Toni Martínez segurava os zagueiros e Sérgio Oliveira dava o tom das jogadas no meio. Atuação histórica. Foto: Reprodução / Facebook Watch / TNT Sports Brasil
Há quem classifique a eliminação da Juventus de “vergonhosa” ou “surpreendente”. Este colunista, no entanto, prefere ver essa questão por outro lado. Primeiro, basta acompanhar alguns jogos do Campeonato Italiano para concluir que “La Vecchia Signora” anda tendo atuações irregulares numa temporada marcada por um contexto todo específico. E depois pela dificuldade que Andrea Pirlo vem mostrando para encontrar o time ideal. As ideias estão lá e todas elas potencializam os jogadores que estão em campo. Um do que mais cresceram foi o brasileiro Arthur, muito seguro na marcação e muito mais participativo na construção das jogadas. E Cristiano Ronaldo, mesmo mais apagado, gerou espaços que Morata não aproveitou em duas oportunidades claras. É preciso entender que o Porto fez uma partida praticamente perfeita em aspectos técnicos e táticos. A classificação dos Dragões foi merecida.
Impossível não dizer que o escrete de Sérgio Conceição fez uma daquelas partidas que serão lembradas por muito tempo. Pelos lances duvidosos, pelas viradas e por tudo aquilo que vimos em campo na Juventus Arena. O Porto entra no seleto grupo das oito melhores equipes da Europa com todos os méritos. A equipe jogou dentro das suas limitações e nos brindou com uma verdadeira aula sobre tática e execução de um bom plano de jogo.
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