Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o triunfo do time de Rodrigo Chagas sobre o Bahia neste sábado (13)
Poucos clássicos no Brasil reúnem tanta história e tanta rivalidade como o Ba-Vi. É bem verdade que as duas equipes vivem momentos diferentes. O Bahia tem jogadores mais experientes e seu treinador (Dado Cavalcanti) aposta num esquema de jogo baseado nesses atletas mais rodados. Do outro lado, Rodrigo Chagas pegou um Vitória sem rumo na temporada passada e conseguiu manter o Leão na Série B ao optar por uma equipe rechada de jovens talentos. Mesmo assim, o primeiro Ba-Vi de 2021 (válido pela Copa do Nordeste) não teve muitos momentos de emoção. O maior deles aconteceu aos 12 minutos do segundo tempo, quando Gabriel Santiago serviu Samuel em contra-ataque rápido e este último chutou de esquerda sem defesa para o goleiro Douglas Friedrich. A aposta de Rodrigo Chagas num elenco mais jovem e nas transições para o ataque com muita intensidade se mostrou a mais feliz neste sábado (13).
É bem verdade que o Bahia de Dado Cavalcanti começou melhor a partida no Barradão. Principalmente por conta da repetição da estratégia utilizada pelo técnico do Tricolor de Aço na reta final do Campeonato Brasileiro. Patrick de Lucca recuava para a linha defensiva, Rossi e Gabriel Novaes fechavam os lados do campo junto com João Pedro e Rodriguinho para formar uma espécie de 5-4-1 quando a equipe era atacada. O Vitória, por sua vez, encontrava muita dificuldade para furar esse bloqueio defensivo. O Leão só melhorou na parada técnica, quando Rodrigo Chagas acertou o posicionamento dos jogadores no seu 4-2-3-1 preferido e compactou mais as linhas para cadenciar o jogo e acelerar nos contra-ataques. Vico e Gabriel Santiago se revezavam entre o meio e o lado direito, João Pedro (o do Vitória) aparecia mais por dentro e David abria o corredor para as subidas de Pedrinho pela esquerda.
O Bahia esteve melhor em campo até a parada técnica. Depois disso, sofreu com a lentidão e uma certa dispersão na criação das jogadas. Já o Vitória melhorou nos minutos finais com Vico e Gabriel Santiago trocando de posições com David e Samuel se movimentando bastante na frente. pic.twitter.com/bMePkdxoO3
— Luiz Ferreira (@LuizBigHead) March 13, 2021
Um dos grandes problemas do Bahia de Dado Cavalcanti estava na lentidão com que a equipe tricolor conduzia a bola ao ataque. Com Gilberto encaixotado entre Wallace, João Victor e Gabriel Bispo e com Rodriguinho errando praticamente tudo, o Tricolor de Aço se transformou em presa fácil para seu rápido adversário. O Vitória de Rodrigo Chagas se fechava em duas linhas e alternava a pressão no campo do adversário com uma postura mais pragmática. Mas tudo era feito sem que a equipe rubro-negra perdesse organização nas transições para o ataque ou para a defesa. A disposição do quarteto ofensivo no lance do gol marcado por Samuel mostra bem esse processo. Gabriel Santiago recebe no meio-campo e puxa o contra-ataque, Vico e David abrem o campo (e a defesa do Bahia). O passe sai no momento certo. O camisa 9 tem todo o tempo do mundo para ajeitar o corpo, chutar e correr para o abraço.
Gabriel Santiago recebe no meio-campo e avança. Vico e David abrem o campo e criam o espaço onde Samuel vai receber a bola e balançar as redes de Douglas Friedrich. Tudo sem perder a organização e executando bem os movimentos do 4-2-3-1/4-4-2 de Rodrigo Chagas. Foto: Reprodução / YouTube / Copa do Nordeste
O gol foi a senha para Dado Cavalcanti mexer no time do Bahia. No entanto, mesmo com as entradas de Alesson, Daniel, Matheus Bahia, Thiago e Marco Antônio, o Tricolor de Aço seguia com sérios problemas na criação das jogadas e com pouquíssima mobilidade na frente. Pontos esses que só facilitavam a vida do Vitória e de Rodrigo Chagas. O treinador do Leão aproveitou essa desorganização do seu adversário para fechar sua equipe ainda mais com a entrada de Guilherme Rend no meio-campo (num 4-1-4-1 que fechou espaços na frente da área do goleiro Lucas Arcanjo. Cedric, Ygor Catatau e Wesley entraram e também foram úteis para deixar o jogo do Bahia mais lento. De acordo com o GE, o Tricolor de Aço teve mais posse de bola (55% contra 45% do Vitória) e mais finalizações a gol (13 contra 11). Mas a impressão que ficou foi a de que o Leão não sofreu nenhum grande susto durante a partida.
Dado Cavalcanti ainda tentou mandar o Bahia para o ataque, mas viu sua equipe falhar nas tomadas de decisão e nas conclusões a gol. O Vitória, por sua vez, apenas se fechou na frente da sua área e esperou o apito final. O resultado acabou premiando a equipe mais organizada. pic.twitter.com/X1tiGvXKvf
— Luiz Ferreira (@LuizBigHead) March 13, 2021
A aposta num elenco mais jovem deve ser a tônica do Vitória nessa temporada de 2021. Principalmente por causa do bom rendimento de nomes como Samuel, Gabriel Santiago e David e da queda no desempenho de nomes mais “cascudos” como Fernando Neto e Guilherme Rend (que até que não comprometeu quando foi acionado). Não se trata apenas de “apostar na base”. É escolher os jogadores que mais se adequam ao plano de jogo de Rodrigo Chagas. A aposta numa formação que marca forte e que sai em alta velocidade para o ataque deve ser feita não apenas pelo Leão, mas por várias e várias equipes do futebol brasileiro. O contexto explica bem isso: estádios vazios, impaciência de dirigentes que não assumem que fazem um trabalho ruim e a própria ansiedade da torcida rubro-negra que sofre com o time na Série B do Brasileirão enquanto o maior rival já vai para a sua quinta temporada seguida na primeira divisão.
Bahia e Vitória vivem momentos diferentes, é verdade. Mas quem está com um sorriso no rosto é o torcedor rubro-negro. Não somente pela vitória no primeiro Ba-Vi da temporada, mas por conta de tudo aquilo que foi visto dentro de campo. Mesmo com uma equipe repleta de jovens valores da base, Rodrigo Chagas montou uma equipe competitiva e que pode fazer um 2021 muito melhor do que o complicadíssimo ano que passou. Aguardemos.
Corre pro abraço, Samuel! 😎🔥#MinhaCria🦁 #OnFire pic.twitter.com/fRocrqXVVf
— EC Vitória (@ECVitoria) March 13, 2021
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