França repete estratégia da conquista da Copa do Mundo da Rússia para vencer a Bósnia fora de casa
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória dos comandados de Didier Deschamps em jogo válido disputado nesta quarta-feira (31)
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória dos comandados de Didier Deschamps em jogo válido disputado nesta quarta-feira (31)
Não foi lá uma grande atuação da França, é verdade. Aliás, como tem acontecido nos últimos anos desde a Copa do Mundo da Rússia. Isso porque a equipe comandada por Didier Deschamps sabe exatamente o que fazer e quando fazer com a bola nos pés. Ainda que o início da partida contra a Bósnia tenha sido marcado por uma certa previsibilidade por parte do escrete francês, bastou que Didier Deschamps repetisse a estratégia utilizada no Mundial da Rússia para que Griezmann marcasse o único gol da partida completando cruzamento de Rabiot. Linhas mais recuadas, espaço para Mbappé puxar os contra-ataques e muita marcação no campo defensivo. Assim como aconteceu há três anos em solo russo. Mesmo sem convencer, a França mostra que ainda é uma das principais seleções do Velho Continente com a terceira vitória em três rodadas nas Eliminatórias para a Copa do Catar.
As dificuldades que a França tinha para fazer a bola chegar no ataque com qualidade já eram facilmente percebidas no início da partida. A equipe de Didier Deschamps entrou em campo armada numa espécie de 4-4-2 com Griezmann voltando um pouco mais pelo meio e liberando Mbappé para sair em diagonal a partir do lado esquerdo. O problema, no entanto, estava na falta de mobilidade e numa certa previsibilidade do escrete francês diante de uma Bósnia muito bem postada no 5-3-2 e que ameaçou a meta francesa nos contra-ataques e nas bolas levantadas na área. O momento de maior emoção da primeira etapa aconteceu quando Dzeko obrigou o goleiro Lloris a fazer uma defesa “a la” Gordon Banks aos 25 da primeira etapa após escanteio cobrado por Pjanic. Difícil não chegar à conclusão de que a atual campeã da Copa do Mundo ficou devendo de mais nesses primeiros 45 minutos.
A França pouco fez para furar o 5-3-2 da Bósnia no primeiro tempo. O escrete de Didier Deschamps foi previsível nas viradas de jogo e facilitou demais a vida dos comandados de Ivaylo Petev que levaram perigo ao gol de Lloris nos contra-ataques puxados por Todorovic, Kolasinac, Dzeko e Krunic.
Os números do SofaScore mostram que a França teve o domínio das ações no primeiro tempo, mas apresentou pouco volume de jogo. A equipe de Didier Deschamps teve 63% de posse de bola, finalizou sete vezes a gol (com apenas uma indo no alvo) e trocou 299 passes com 88% de acerto. A formação com Mbappé no comando de ataque e Griezmann vindo por trás pouco ameaçou o gol de Sehic. A mexida óbvia era a saída de um dos pontas para a entrada de Giroud no comando de ataque e o deslocamento de Mbappé para o lado. O técnico Didier Deschamps assim o fez e viu sua equipe abrir o placar aos 15 minutos da segunda etapa com Griezmann aproveitando a falha na marcação da Bósnia após cruzamento de Rabiot do lado esquerdo. Revendo o lance, não é difícil notar Giroud dando profundidade ao ataque francês e abrindo o espaço para a chegada do camisa 7. Era o que a França precisava.
Est-ce que l'on va devoir s'habituer à cette nouvelle célébration @AntoGriezmann ? 😉 #FiersdetreBleus pic.twitter.com/H0O9qcBhNp
— Equipe de France ⭐⭐ (@equipedefrance) March 31, 2021
O gol obrigou o técnico Ivaylo Petev a desfazer seu 5-3-2 com as entradas de Stevanovic, Gojak e Prevljak nas vagas de Todorovic, Cimirot e Krunic respectivamente. Com isso, a Bósnia passou a atacar num 4-4-2 mais nítido com Pjanic mais próximo de Hadziahmetovic e Dzeko tentando segurar a bola no ataque, mas sem muito sucesso. Tudo porque a França emulou o “modo 2018” com defesa bem postada, muita marcação no meio-campo e saída rápida para o contra-ataque com Mbappé partindo da esquerda para o meio e buscando as tabelas com Giroud e Griezmann. Mas sem acelerar tanto nas transições, já que Didier Deschamps deixou bem claro que a vitória magra era mais do que suficiente. Do outro lado, a Bósnia (que já havia se superado na primeira etapa) tentou colocar a bola no chão e explorar os lados do campo, mas pouco conseguiu fazer diante de uma França consistente e quase instransponível.
O gol de Griezmann fez com que o técnico Ivaylo Petev desfizesse o esquema com cinco na defesa e apostasse num 4-4-2 mais nítido com as entradas de Stevanovic, Gojak e Prevljak. Só que a França se fechou na defesa e utilizou a mesma estratégia da Copa do Mundo de 2018: linhas mais recuadas e espaço para Mbappé partir em velocidade.
Este que escreve já havia chamado a atenção para o fato de que as principais potências europeias já não encontravam a mesma facilidade de outros anos. Em grande parte por conta de todo o contexto imposto pela pandemia de COVID-19 e a necessidade de se realizar os jogos sem torcida e em locais neutros. Por outro lado, é preciso notar que seleções do segundo e do terceiro escalão vêm crescendo muito de produção e colocando enormes dificuldades para França, Portugal, Alemanha, Itália e Inglaterra (apenas para citar algumas). Não é por acaso que Didier Deschamps apelou para uma postura mais pragmática logo depois que Griezmann fez o único gol da partida desta quarta-feira (31). Por mais que a França seja muito superior do que a Bósnia (em aspectos técnicos e táticos), o que se viu foi uma equipe que apenas administrou a vantagem no placar até o final da partida.
Mas como julgar a estratégia de Didier Deschamps quando eu e você sabemos bem que ela deu muito certo na Copa do Mundo da Rússia? Difícil apontar problemas no desempenho desta ou daquela seleção diante de todo o contexto que nos é apresentado. A França conquista a sua terceira vitória em três rodadas das Eliminatórias fazendo aquilo que fez muito bem há três anos: marcar forte e sair em velocidade nos contra-ataques.
CONFIRA OUTRAS ANÁLISES DA COLUNA PAPO TÁTICO:
América-MG dá aula de organização tática contra um Cruzeiro totalmente sem brilho e sem consistência