Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a fala da jornalista Milly Lacombe e repassa a carreira do melhor jogador do mundo em 2007
Antes de mais nada, este que escreve repudia todo comentário ofensivo, machista, homofóbico e misógino feito contra a jornalista Milly Lacombe. Discordar de uma opinião (por mais polêmica que ela seja) não dá a ninguém o direito de ser mal educado. Mesmo que essa opinião seja contrária a um dos maiores jogadores que este colunista viu em campo. O último a ser eleito o melhor do mundo pela FIFA antes da longa e intensa disputa entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Kaká foi um gigante dentro das quatro linhas e encantou a todos com suas arrancadas e seus belíssimos gols com as camisas do São Paulo, do Milan e da Seleção Brasileira. A jornalista Milly Lacombe tem todo o direito de considerá-lo superestimado. É do jogo. É do debate. Só que este que escreve vai aproveitar o espaço aqui no TORCEDORES.COM para provar (respeitosamente) que Kaká foi um dos melhores do seu tempo.
Ricardo Izecson dos Santos Leite despontou no São Paulo em 2001, ano em que marcou os dois gols do título do antigo (e tradicionalíssimo) Torneio Rio-São Paulo na decisão contra o Botafogo. Aos poucos, se transformou em protagonista da equipe tricolor e logo chamou a atenção de Luiz Felipe Scolari (que o convocou para a Copa do Mundo de 2002) e também dos dirigentes do Milan com as suas arrancadas em direção ao gol e seus chutes precisos. Kaká fazia muita gente compará-lo a nomes como Raí, Sócrates e Zico. Mas conseguiu desenvolver seu estilo próprio e viveu seu melhor momento jogando logo atrás de Filippo Inzaghi na “árvore de Natal” de Carlo Ancelotti no Milan campeão da Liga dos Campeões de 2006/07. Ambrosini e Gattuso faziam o “trabalho sujo” para que Pirlo armasse o jogo como “regista”. Os torcedores rossoneros até hoje se lembram do seu grande camisa 22 e dos seus belos gols.
Ambrosini e Gattuso marcavam para que Pirlo fosse o “regista” de um Milan histórico. E Kaká foi dos grandes nomes da história recente do escrete rossonero com arrancadas fulminantes e belíssimos gols. O camisa 22 foi importantíssimo na conquista da Liga dos Campeões de 2006/07. Foto: Reprodução / YouTube / UEFA
Kaká ainda defenderia as cores do Real Madrid entre os anos de 2009 e 2013, mas sem o brilho do Milan (onde disputou 307 partidas e marcou 104 gols). Na Seleção Brasileira, conquistou a vaga no time titular logo depois da Copa do Mundo de 2002, se juntando a um time que já contava com Ronaldinho Gaúcho, Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo Fenômeno, Robinho, Adriano, Zé Roberto e muitos outros. A campanha do escrete canarinho na Copa das Confederações de 2005 fez com que muita gente se enchesse de esperanças com relação à Copa do Mundo de 2006. Ainda mais quando a equipe comandada por Carlos Alberto Parreira destruiu a Argentina na decisão. Kaká foi uma das peças mais importantes da equipe brasileira num 4-2-3-1 que tinha muito apoio pelos lados do campo (com Cicinho e Gilberto), força na marcação no meio-campo (com Emerson e Zé Roberto) e muita mobilidade no ataque com um quarteto ofensivo de respeito.
Kaká formava o trio de meias do 4-2-3-1 com Ronaldinho Gaúcho e Robinho na campanha vitoriosa da Copa das Confederações de 2005. Aquela Seleção Brasileira destruiu a Argentina na decisão e ainda encheu o torcedor de esperanças com relação ao Mundial da Alemanha. Foto: Reprodução / YouTube / FIFA TV
Embora a Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 2006 (na Alemanha) seja sim superestimada por conta dos nomes que participaram da campanha (assunto para uma análise mais detalhada aqui mesmo neste espaço), Kaká era considerado um dos grandes nomes do futebol brasileiro junto com Ronaldo Fenômeno, Adriano e Ronaldinho Gaúcho (recém-eleito o melhor jogador do mundo em 2005 e 2006). E realmente aquele escrete canarinho despontava como um dos grandes favoritos ao título em terras germânicas por conta de toda a fama construída em torno dos jogadores e toda a badalação feita pela imprensa. Ronaldo Fenômeno já tinha carreira consolidada. Ronaldinho Gaúcho colhia os frutos do Barcelona campeão da Liga dos Campeões de 2005/06 e Adriano já vinha conquistando o coração dos fãs com belos gols pela Internazionale. E Kaká conquistava seu lugar num Milan que seria histórico.
Mesmo assim, a Seleção não foi bem em 2006. Primeiro por conta da aposta de Carlos Alberto Parreira no “quadrado mágico” formado por Ronaldo, Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Kaká. Sem a mobilidade de Robinho pelos lados do campo, o escrete canarinho só conseguia criar espaços quando o camisa 8 se lançava quase como um terceiro atacante. Seja pelo meio ou pelo lado direito, alguns dos poucos momentos do time de Carlos Alberto Parreira (escalado no já conhecido 4-4-2/4-2-2-2 costumeiro do treinador) quando Kaká tentava algo além de apenas ocupar o meio-campo. No entanto, com Cafu e Roberto Carlos já veteranos (e sentindo demais o desgaste dos jogos da Copa do Mundo), a Seleção Brasileira acabou ficando pelo caminho quando poderia ter ido muito mais longe. A bagunça em Weggis contribuiu para derrubar um time do qual se esperava demais. Principalmente de Ronaldinho Gaúcho e Kaká.
Kaká fez parte do “quadrado mágico” na Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Carlos Alberto Parreira apostou num 4-4-2/4-2-2-2 que não tinha mobilidade e praticamente ignorou os jogadores que conquistaram a Copa das Confederações na temporada anterior. Foto: Reprodução / YouTube / FIFA TV
Apesar da campanha ruim na Copa do Mundo, Kaká teria um ano mágico na temporada seguinte, com a conquista da Liga dos Campeões da UEFA sobre o Liverpool no jogo que marcou a “vingança” da temporada 2004/05 (quando os Reds protagonizaram uma das maiores viradas da história da competição) e com o prêmio de melhor jogador do mundo dado pela FIFA. E isso num Milan que já não contava com os atacantes Andriy Shevchenko e Hernán Crespo e com o meia Rui Costa. Já com a camisa do Real Madrid, Kaká conseguiu ter uma sequência de jogos, mas sofreu com as lesões nas costas que fizeram com que o camisa 10 da Seleção na Copa do Mundo da África do Sul não rendesse o esperado. Mesmo assim, rendeu muito jogando como meia central no 4-2-3-1 “torto” de Dunga (junto de Elano, Luís Fabiano, Robinho e companhia) na conquista da Copa das Confederações de 2009 enquanto teve fôlego e condições físicas para mostrar seu futebol para todos.
Kaká tinha liberdade total para se mover por todo o campo no 4-2-3-1 “torto” de Dunga na Seleção Brasileira que disputou a Copa das Confederações de 2009 e a Copa do Mundo de 2010 (ambas disputadas na África do Sul). Os problemas físicos acabaram prejudicando o camisa 10 do Mundial. Foto: Reprodução / YouTube / FIFA TV
Por mais que o imaginário do torcedor dos nossos dias esteja tomado pela genialidade de Cristiano Ronaldo e Messi, a grande verdade é que Kaká foi sim um dos grandes nomes do seu tempo. Quem o viu surgindo no São Paulo no início dos anos 2000 e a sua explosão no Milan já na segunda metade da década sabe muito bem que se trata de um craque na melhor acepção do tempo. Jogava com o time e para o time não importando a circunstância. Pode ser que, por não ser um “showman” como era Ronaldinho Gaúcho, muita gente o considere superestimado. Inclusive a jornalista Milly Lacombe. Por viver num país como o Brasil, este que escreve sabe muito bem que o fato de ser branco e vir de uma família de classe média-alta facilitou a trajetória de Kaká no velho e rude esporte bretão. Mas resumir sua trajetória a apenas isso é fechar os olhos para anos e anos de um futebol de altíssimo nível.
O debate sempre vai existir e ele é saudável (quando realizado de maneira respeitosa). Mas é preciso ter em mente que estamos falando do último antes da longa e intensa disputa entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo a ser eleito o melhor do mundo pela FIFA. Kaká merece todas as honrarias por tudo o que fez nos gramados. Seja pelo são Paulo, pelo Milan, pelo Real Madrid e (principalmente) pela Seleção Brasileira. Nunca foi superestimado. Nem hoje e nem naqueles tempos.
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