Seleção Feminina faz jogo equilibrado contra os Estados Unidos, mas volta a sofrer com as escolhas de Pia Sundhage
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota do escrete canarinho para as atuais campeãs mundiais na She Believes Cup
Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota do escrete canarinho para as atuais campeãs mundiais na She Believes Cup
Sendo bem sincero, este colunista esperava até uma derrota mais elástica para os Estados Unidos de Alex Morgan, Megan Rapinoe, Rose Lavelle, Christen Press e companhia. Primeiro pelo que foi observado na goleada sobre a Argentina na última quinta-feira (18). E depois, por já saber que Pia Sundhage iria manter praticamente a mesma formação da partida de estreia na She Believes Cup. Acabou que a Seleção Feminina conseguiu competir e até mesmo criar alguns problemas para as atuais campeãs mundiais. Mas a grande verdade é que o escrete de Vlatko Andonovski não precisou suar muito para vencer o Brasil por 2 a 0 neste domingo (21), em Orlando. Apesar do jogo mais equilibrado do que o esperado, a derrota deixa lições que precisam ser apreendidas por jogadoras e (principalmente) comissão técnica. Algumas coisa precisam mudar (pra ontem) na Seleção Feminina. Sem exageros.
Antes de mais nada, é preciso ter em mente que a Seleção dos Estados Unidos é uma das melhores do mundo. O time de Vlatko Andonovski gosta de ter a bola e exerce uma forte pressão no campo adversário para provocar o erro e partir em direção ao gol em alta velocidade. Dito isto, este que escreve ainda tenta enteder quais eram os objetivos de Pia Sundhage ao escalar a zagueira Kathellen na lateral-direita e a apostar no mesmo 4-4-2/4-2-4 sabendo que enfrentaria um oponente de muita qualidade no ataque. É verdade que Debinha e Ludmila criaram boas chances e que Marta pareceu um pouco mais participativa do que no jogo contra a Argentina. O problema é que a formação escolhida pela técnica sueca mais enfraqueceu o meio-campo e expôs a linha defensiva do que pressionou as norte-americanas. Principalmente com Bia Zaneratto em mais uma atuação apagada jogando mais pelo lado do campo.
Pia Sundhage manteve seu 4-4-2/4-2-4 básico, mas fez algumas mudanças. Bia Zaneratto jogou mais pelo lado direito, Ludmila tinha mais liberdade para puxar os contra-ataques e Andressa Alves jogou ao lado de Andressinha no meio-campo. Demorou, mas a equipe conseguiu criar lances de perigo. Foto: Reprodução / SPORTV
É preciso dizer que os primeiros quinze minutos de partida foram marcados por uma ampla superioridade norte-americana. Tudo por conta de uma escolha de Pia Sundhage que já foi amplamente discutida e analisada aqui mesmo neste espaço: a ausência de uma lateral-direita de ofício na sua equipe. Esse é um dos pontos mais fracos da Seleção Feminina. Kathellen é sim boa zagueira, mas sua atuação deixou bem evidente que ela não se sentiu nem um pouco confortável perseguindo Press e Lohan no lado direito da defesa brasileira. A camisa 2 (mais lenta) saía no encalço das adversárias e abria um espaço enorme na última linha do escrete canarinho. E aí víamos um castelo de cartas caindo. Andressa Alves largava sua posição no meio-campo para fazer a cobertura e Bruna Benites (defensora mais lenta e sem o mesmo tempo de bola de outros anos) ficava completamente desprotegida.
Kathellen saía na perseguição a Press (ou Lohan) e abria espaços na linha defensiva. Andressa Alves abandonava o meio para fazer a cobertura e desprotegia Bruna Benites. As opções de Pia Sundhage provocaram um verdadeiro “combo” de erros na Seleção Feminina na partida deste domingo (21). Foto: Reprodução / SPORTV
A Seleção Feminina melhorou seu desempenho quando Pia Sundhage sacou Bia Zaneratto e Andressa Alves para as entradas de Júlia Bianchi e Cristiane. Mesmo assim, a formação básica do escrete canarinho seguiu a mesma. O 4-4-2/4-2-4 seguia com Marta jogando pelo lado do campo e sem muitas condições de fazer o contraponto defensivo. Este que escreve já questionou as escolhas de Pia Sundhage na escolha das suas atletas e o faz mais uma vez aqui neste espaço (podem me cancelar à vontade). Uma das coisas que mais faz falta na Seleção Feminina é a falta de variações na formação básica. Por que não tentar um 4-2-3-1 com Marta jogando por dentro e mais próxima da área? Ou um 4-3-3 com uma das volantes fechando o lado onde a camisa 10 joga? Ou até mesmo um 3-4-3 com três jogadoras mais rápidas no ataque? O que se vê aqui é que as escolhas de Pia Sundhage não são as ideias para jogos grandes.
Pia Sundhage vem insistindo num 4-4-2/4-2-4 que traz uma série de improvisações para manter Marta jogando como “winger” pela esquerda. Não será a hora de se pensar em outras formações? Ainda mais sabendo que a camisa 10 já passou pelo auge da sua forma física há algum tempo? Foto: Reprodução / SPORTV
Há quem queira ver o copo “meio cheio”. É verdade sim que a Seleção Feminina conseguiu competir contra a forte equipe dos Estados Unidos, que Debinha e Ludmila estão se entendendo muito bem no ataque e que Rafaelle segue soberana na zaga. Por outro lado, é praticamente impossível fechar os olhos para o fato de que o escrete canarinho sofre com as escolhas de Pia Sundhage. É difícil entender a insistência numa formação básica, em jogadoras já em fim de ciclo (Bárbara e Bruna Benites são dois exemplos bem claros) e em improvisações no time titular. Este colunista entende muito bem a necessidade de se ter atletas polivalentes para a disputa dos Jogos Olímpicos. O problema é quando nomes que poderiam render muito mais dentro do plano de jogo de Pia Sundhage do que as escolhidas para a disputa da She Believes Cup. É por isso que este que escreve vê o copo “meio vazio”.
É provável que Pia Sundhage queira fazer mais testes na partida contra o Canadá, marcada para a próxima quarta-feira (24). Mas não devemos ver muita coisa além do que já foi visto nas duas primeiras partidas da competição. Vamos seguir com uma Seleção Feminina que anda travada por conta das escolhas (altamente questionáveis) da sua treinadora mais uma vez. Será que ela muda de ideia até o início dos Jogos Olímpicos?
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