Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota dos comandados de Abel Ferreira para o Tigres de Tuca Ferretti
Antes de mais nada, é preciso dizer que o resultado final no Estádio da Cidade da Educação (em Doha, no Catar) foi mais do que justo. Nem tanto pelo bom futebol apresentado pelo ótimo Tigres de Tuca Ferretti, e muito mais pela falta de ousadia de um Palmeiras que não fez muita coisa além de se defender no jogo deste domingo (7). É bem verdade que o escrete comandado por Abel Ferreira pode ter sentido o cansaço da sequência de jogos, o fuso horário do Catar e até mesmo o nervosismo do jogo único que daria a vaga na decisão do Mundial de Clubes da FIFA. O que se viu em campo, no entanto, foi a superioridade do escrete mexicano em termos técnicos e táticos. A derrota (embora doída para o torcedor palmeirense) não deve ser considerada nenhum vexame muito por conta da qualidade do futebol mexicano e pelo talento de jogadores como Quiñones, Aquino, Rafael Carioca e (é claro) Gignac.
Este que escreve já havia alertado para os perigos do Tigres após a vitória sobre o Ulsan Hyundai (clique aqui para relembrar). Só que a estratégia de Tuca Ferretti foi diferente da utilizada na partida do último dia 4 de fevereiro. Ao invés do 4-2-3-1, um 4-4-2 que tinha força pelos lados com Aquino e Quiñones, muita mobilidade com Gignac saindo da esquerda para o meio e Carlos González aparecendo na frente e ótimo toque de bola e saída qualificada com Rafael Carioca. Do outro lado, Abel Ferreira apostou no mesmo jogo reativo utilizado nas partidas contra o River Plate pela Copa Libertadores da América, mas via o Palmeiras sofrer com as investidas do Tigres. Principalmente no lado direito da equipe, onde Gignac e Quiñones atormentavam a vida de Marcos Rocha, Danilo e Gabriel Menino (que recuava constantemente para completar a linha de cinco defensores na frente da área).
Tuca Ferretti armou o Tigres num 4-4-2 de bastante mobilidade e explorou os problemas defensivos do Palmeiras com Gignac, Quiñones e González explorando o setor de Marcos Rocha e Gabriel Menino. Já o técnico Abel Ferreira tentou buscar alternativas, mas não conseguia tirar a sua equipe do campo defensivo.
O Tigres tomou conta da partida a partir dos 20 minutos do primeiro tempo, mas já havia obrigado Weverton a trabalhar bem no início de partida, com uma bela cabeçada de Carlos González. Aliás, se não fosse o camisa 1, as coisas poderiam ter ficado ainda mais complicadas para um Palmeiras perdido e sem muita reação na partida deste domingo (7). Tanto que as jogadas de ataque do Palmeiras se resumiam aos cruzamentos para a área e aos lançamentos longos para o pivô de Luiz Adriano ou a velocidade de Rony. Muito pouco para um elenco tão qualificado como o comandado por Abel Ferreira e para o que estava em jogo no Estádio da Cidade da Educação. A impressão que fica é a de que o escrete paulista poderia ter sido um pouco mais ousado na partida. Ainda mais sabendo que o Tigres não colocava tanta velocidade na recomposição defensiva. Os espaços existiam, mas não foram explorados.
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— Club Tigres 🐯 (@TigresOficial) February 7, 2021
As coisas desandaram de vez quando Luan cometeu pênalti em González (após ótimo passe de Luís Rodríguez) e Gignac balançou as redes logo na sequência. O Palmeiras sentiu o gol e se desorganizou mais ainda dentro de campo. Enquanto o Tigres apenas esperava o tempo passar, os comandados de Abel Ferreira seguiam insistindo nas ligações diretas e tinham enormes dificuldades para trabalhar a bola no meio-campo. As entradas de Patrick de Paula, Felipe Melo, Gustavo Scarpa, Willian Bigode e Mayke melhoraram o desempenho palmeirense em todos os setores, mas aí faltou capricho nas conclusões e também um pouco de sorte. Principalmente na oportunidade desperdiçada por Luiz Adriano aos 31 minutos e no chute de Viña que tirou tinta da trave direita de Guzmán já nos acréscimos. Embora tenha ficado com mais volume de jogo, o Palmeiras não teve forças para reagir diante de um Tigres sólido e consistente.
Patrick de Paula, Felipe Melo, Gustavo Scarpa, Willian Bigode e Mayke melhoraram o desempenho do Palmeiras após o gol de Gignac, mas o time de Abel Ferreira seguiu refém das ligações diretas para o ataque. Muito pouco para vencer um Tigres que seguia apresentando um futebol consistente e eficiente.
É preciso dizer que a grande diferença entre o jogo deste domingo (7) e a final da Libertadores foi o resultado. O Palmeiras repetiu a mesma estratégia reativa da vitória sobre o Santos de Cuca, só que o adversário era uma equipe que identificou rapidamente os problemas defensivos da equipe de Abel Ferreira. Impossível não notar que o Tigres tomou conta do jogo a partir do momento em que Tuca Ferretti posicionou Gignac mais próximo do lado esquerdo e pediu que Quiñones jogassem em cima de Marcos Rocha. O resto foi consequência de uma estratégia muito bem executada por uma equipe que sabe exatamente o que deve fazer com e sem a bola. Não é exagero afirmar que o Tigres bateria de frente com boa parte das equipes brasileiras hoje em dia. Ao mesmo tempo, a arrogância do torcedor brasileiro segue vivendo de passado e ignorando o futebol praticado em centros menos badalados. Como o México.
A derrota do Palmeiras para o Tigres não deve ser considerada um vexame diante do que foi apresentado dentro de campo. Por outro lado, ela serve de alerta para Abel Ferreira e sua comissão técnica trabalharem mais o potencial de alguns jogadores e buscarem alternativas mais viáveis do que o jogo reativo apresentado diante do Tigres. A decisão da Copa do Brasil está chegando e um erro pode ser fatal em mais uma disputa de taça.
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